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Assim que escutei a armadilha sendo ativada, eu saí do meu esconderijo. Kirishima queria me seguir, mas mandei com o olhar que ele continuasse na caverna onde estávamos nos abrigando nos últimos dias.

Caminhei até a armadilha e vi que o saco não parava de se mexer e fazer barulho. Seja lá o que for, ainda está vivo, e era maior do que um coelho.

— Hoje o almoço vai ser do bom. - eu lambi os lábios, já pensando ter pego um animal maior e forte, como um javali.

Aparentemente, minha fala agitou mais ainda o que quer que estivesse dentro do saco.

— Socorro! Eu fui pega por canibais! - uma voz feminina exclamou e eu já me irritei. - Alguém me ajuda!

Merda, peguei uma pessoa.

Bufei e cortei a corda que suspendia o saco no ar. Quem quer que fosse, deu um sonoro grito antes de bater a bunda no chão.

— Ai! - resmungou.

Antes que essa pessoa tivesse chance de fugir, coloquei o saco como uma trouxa nas minhas costas e comecei a caminhar para a caverna.

— Me solta! - definitivamente era uma garota, dada a força dos soquinhos nas minhas costas.

— Comida não fala. - resmunguei, mal humorado. - E se você não se calar, eu prometo que te calarei eu mesmo. - ameacei.

Não faria mal algum à quem quer que fosse, mas definitivamente tentaria tirar algum proveito dela. Eu preciso comer, e preciso alimentar um dragão que tem um buraco rasgado no lugar do estômago. Ela teria que arrumar comida pra mim e pro Kirishima se quisesse voltar pra vidinha medíocre e careta dela.

— Ah, que droga! - a garota resmungou. - Por favor, moço, me solta... Eu estou tentando ajudar uma amiga, preciso chegar além das Montanhas Distantes o quanto antes para salvar o filho dela. - suplicou.

Eu ri. Só podia ser piada...

— Você vai ajudar alguém quando não consegue nem se ajudar? - questionei risonho.

— Se meu cajado estivesse funcionando você veria quem não consegue se ajudar, seu brutamontes! - a garota disse depois de um tempo. Provavelmente, ela estava blefando em algum ponto.

— Ah, uma bruxinha, que medinho. - neguei com a cabeça. - Fica quietinha que é melhor pra você, tá? - recomendei, antes de atirá-la no chão da caverna.

E claro, a garota gemeu um tanto infeliz enquanto abria o saco. Cruzei os braços e encarei a garota ficar em pé. Ela era baixinha, magrela e tinha algumas redondezas onde as mulheres costumam ser redondas. A cara dela também parecia uma lua cheia, bem irritada por sinal.

De fato, a garota empunhava um cajado, mas os cristais não tinham um brilho forte, que indicava que ela provavelmente ainda era muito fraca como bruxa ou que o cajado estava perto do fim de sua vida útil. A coragem e raiva se transformaram em medo quando ela viu meu tamanho e músculos.

Bom, ela é magra demais pra transformar em churrasquinho, e ainda não é inverno pra ficar fazendo ensopado. E eu não faria ensopado de gente, nem se só tivesse isso pra comer. Dúvido que pessoas sejam nutritivas.

Mas nada disso me impedia de zoar com a cara de quem zoou o meu almoço. Sorri de canto.

— Kiri! - chamei, e o dragão, que estava de costas para a entrada da caverna, se virou. - Olha só, o que eu trouxe pra almoçar hoje.

Kiri inspirou o cheiro da garota. Ela se virou pro Kirishima e não se deixou intimidar pelo dragão como deixou se intimidar por mim. Na verdade ela até se aproximou dele e estendeu a mão, e aquele idiota ainda encostou a merda do focinho na mão dela! Era um bananão mesmo...

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