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Kirishima me olhava meio apreensivo enquanto eu cortava os legumes.

— Katsu-bro, vai com cuidado aí, ou vai acabar se cortando. - murmurou.

— Calado! - mandei, cortando ainda mais rápido aquela batata. - Eu não acredito, eu não acredito, eu não acredito. - resmunguei com raiva.

— No quê? - Kiri perguntou.

— No que a bruxa estúpida acabou de fazer! - olhei por cima do ombro.

Ochako e o príncipe estúpido estavam conversando e aquele paspalho até mesmo estava a fazendo rir. Não que fosse difícil fazer a bruxa rir... Muito pelo contrário, era tão fácil quanto deixá-la impressionada.

Mesmo assim, eu não conseguia suportar aquele almofadinha.

— Você não ouviu o que ele falou, Kirishima?! "Eu não espero respeito vindo... Dele." - repeti, com toda a engomação e nojo que aquele babaca usou na fala dele. - Não suporto ele. - esfaqueei um repolho.

— Você fala como se fosse a pessoa mais educada de todas. - Kirishima disse meio sem graça. - Katsuki, relaxa. O príncipe só quer ajudar. - deu de ombros.

— É impossível que ele queira ajudar. Olha só pra ele, agindo como se fosse dono do mundo e melhor que todos... - gruni. - Fora que aquele imbecil tem tudo que quer, por que raios de motivos ele veio atrás da gente? E sem um guardas ainda por cima! Kirishima, eu e tu somos a ralé da ralé da ralé. Se alguma coisa acontecer com esse bostinha, as nossas cabeças rolam fora. - terminei de cortar as cenouras e joguei-as na panela. Ou esse idiota pode na verdade estar trabalhando pros caras ruins ou o que quer que seja que sumiu com o garoto que a bruxa está procurando. Esse tipo de gente é corrupta, eu não dúvido de nada. - disse.

— Acho que você está pensando demais nisso. - Kirishima comentou. - Depois da sopa, porque você não vai direto pra cama? - sugeriu.

— Não confio naquele merda. - eu disse, mais uma vez.

Kirishima suspirou.

— Você quem sabe. - concluiu, com ar de desistência, se juntou aos outros dois enquanto eu terminava de preparar a sopa.

Quando o jantar estava quase pronto, lembrei que eu não tinha tigelas suficientes para mais que duas pessoas. Da outra vez, havia emprestado a minha colher para a bruxa.

Eu não carregava pesos que fossem inúteis na minha caixa de utilidades. Cada coisa ali tinha um propósito, por conta de necessidade ou experiência. Duas tigelas, uma minha e outra de Kirishima. Uma colher, porque, geralmente, eu sou o único ser humano quando faço sopa. Kirishima comeu a outra colher quando se feriu da última vez. Duas panelas, um caldeirão, uma frigideira, uma botija de óleo, saco com os legumes que eu geralmente pego em vilas e fazendas durante a noite (dificilmente eu lido com dinheiro ou compras), duas mantas fedorentas, algumas calças, meu machado, algumas coisas para enfaixar machucados, um líquido meio viscoso e ensaboado que eu uso quando tomo banho e a tenda.

Eu não precisava de muito. Eu tinha um bom amigo de aventuras no meu dragão e o resto conseguia ir atrás.

Eu podia tirar sarro da Bochechuda, por ela se impressionar fácil com qualquer coisa, mas eu fico feliz quando estou voando nas costas de Kiri. Eu gosto do vento no rosto, esvoaçando minha capa, dos pousos arriscados e até mesmo de lançar alguma coisa e ver Kirishima correr atrás como um cachorro.

Nossa vida era simples, e melhor na companhia um do outro. Eu tenho um pouco de tudo, o tempo todo. E eu não me importo em dividir meu pouco de tudo com a bruxa; apesar de meio tosca e careta, ela até é suportável, e isso tudo é só temporário, mas...

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