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A Bochechuda ficou com cara de deslumbre enquanto voávamos até a maldita capital. Eu podia entrar lá, e Kirishima também, apesar das ruas serem apertadas para um dragão de seu porte; contudo eu não suportava as pessoas pelas ruas e seus cochichos tortos.

Sabia muito bem porque eles cochichavam dessa forma. Eu era um "bárbaro cruel e inescrupuloso".

— Você sempre voa de dragão? - a bruxa perguntou.

— É lógico, oras. Por que outro motivo eu teria um dragão, Cara de Bolacha? - rebati.

— Para ter companhia, ué. - respondeu sem graça. - Eu adoraria ter um cãozinho ou gatinho.

— Quente.

— Quente o quê?

Quente perguntou, caramba. - resmunguei. - Eu não sou seu amiguinho pra ficar de conversinha fiada.

— Nossa, Katsuki, como você é fino. - a bruxa virou a cabeça pro outro lado, indiferente.

Kirishima deu um grunido-gargalhada. Vê se pode, meu dragão tá me tirando. Largato ingrato do cacete.

Avistei um campo para pousar com segurança perto da entrada da capital.

— Se segura. - eu sorri de lado, mas pela cara que a bruxa fez enquanto me encarava, definitivamente estava parecendo assustador.

Kirishima e eu adoramos pousar de forma abrupta e radical.

Primeiro, voamos para cima em linha reta, bem alto, o mais alto que Kirishima consegue.

Como a Bochechas quis sentar na minha frente, ela não ia acabar caindo, uma vez que eu sou maior que ela. Não sei dizer se é bom ou ruim, mas eu praticamente servi como um encosto de cadeira pra ela.

Depois, Kirishima mergulha com tudo e sem aviso. Se a Bolachinha já gritou na subida, na descida ela viu a alma sair de seu corpo.

Eu ri alto, a sensação desses pousos é impagável.

Chegando há uma certa distância do chão, Kirishima abre as asas e plana por uns metros no ar ainda, pousando como uma borboleta numa flor.

— Cada vez você voa mais alto, hein, Kiri? Eu estou orgulhoso de você, amigão. - elogiei o dragão, que definitivamente também estava bem orgulhoso de si, até ver o estado da bruxa. - Eita. - deixei escapar.

Ela estava branca, parecia mesmo que a alma estava fora de seu corpo. Até mesmo estava pálida e ofegante. Eu comecei a rir.

— Você tá bem, Bochechas? - perguntei risonho, e ela me encarou com um ódio indescritível.

— Nunca mais... Faça isso... Sem me avisar! - gritou.

— Nos seus sonhos, bruxa. E vamos logo resolver o que você tiver que resolver nessa cidade horrorosa. - apesar de odiar a capital, o pouso me deixou bem humorado e eu saí andando na frente.

Escutei os passos da bruxa e os passos de Kiri logo atrás de mim. A garota também murmurava algo, e Kirishima de certa forma ria.

Convivo com esse dragão desde que o salvei quando ainda era filhote de uma armadilha. Eu também devia ser novinho, foi pouco depois que Tsunago disse que eu já poderia viver sozinho e parou de cuidar de mim.

Eu devia ter mais ou menos sete anos na época que salvei Kiri. Lembro como se tivesse acontecido essa manhã. Um filhote de dragão assustado com a patinha presa numa armadilha pra ursos. Se olhasse com atenção, era até mesmo possível ver que seus olhos tinham lágrimas.

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