Gostava tanto de ficar sentada na minha janela quando eu tinha tempo. Hoje o que eu enxergo é um telão completamente preto, pra mim mais nada tem cor. Minha menor saudade é o meu amor que ficou na terra e tive que deixa-lo, e talvez se ele viesse comigo, eu não o viria, esse telão preto me impediria.
É confuso entender o porque eu estou enxergando assim, mas vou explicar.
Ele fazia faculdade de arquitetura e eu de filosofia, e nós morávamos juntos em um apartamento no décimo segundo andar, perto do centro de São Paulo e confesso que as buzinas foram mais um motivo para mim ter feito o que fiz, ele chegava do trabalho um pouco mais tarde que eu, e assim que ele chegava começava a mandar em mim, perguntando sobre o jantar se ele já estava pronto, e ele sempre me relembrava sobre minhas obrigações referente a casa, ou seja, tinha a obrigação de fazer comida pra ele, de deixar a casa limpa diariamente.
Sempre antes de eu ir para minha faculdade ele me relembrava de que eu só fazia faculdade de filosofia por diversão, que não valia a pena eu estudar para trabalhar, porque as mulheres não são valorizadas em país nenhum, elas só são valorizadas pelos homens que as sustentam.
Eu obviamente não engolia essas atitudes com facilidade, eu sempre o tirava do sério nesses assuntos, e eu o entendo, acredito, por ele ter crescido em uma família machista, isso justificaria as falas dele, mas não as atitudes que ele tomou. Os bate bocas ficaram cada vez mais agressivos e ele começou a me agredir cada dia mais, e eu chegava na faculdade com uns moletons largos mesmo fazendo calor, e foi ai que ele se aproveitou mais uma vez de mim comentando sobre minhas roupas e meu corpo, falando que eu estava largada demais, que eu precisava me cuidar.
E com todos esses acontecimentos, eu comecei a ter depressão, bastante ansiedade e várias crises de pânico constantemente, não conseguia suportar mais viver, estava exaustivo. Mas tinha momentos em que ele demonstrava amor e carinho para mim, comprava coisas pra mim, ele demonstrava me amar.
Mas eu o amo tanto... vinha vozes em minha cabeça me relembrando disso.
E como sempre teve um dia em que isso passou dos limites, ele começo a me atacar fortemente, e eu não me aguentei, o ameacei de me jogar daquela janela se ele não parasse com essas atitudes, ele zombou da minha cara e parou por aquele instante me dando um tempo, ele saiu pela porta e me deixou sozinha.
Uma das muitas crises que eu tive antes, começaram a me atacar novamente me deixando totalmente para baixo e sem rumo, meus pensamentos foram se aumentando sobre muitos assuntos que me perseguiam de uma forma absurda. Eu me questionava sobre tudo, principalmente sobre o suicídio, ele tenta me tirar desse mundo de tortura emocional, mas eu me seguro o máximo para ficar.
Muitos motivos acabaram se juntando na minha cabeça, eu me levantei e me aproximei de uma janela que fica a cima da minha cama, me sentei, e olhei ao redor, ninguém, ninguém para me segurar, nem mesmo a pessoa que eu tanto digo amar, não tinha mais forças para chorar. Olhei para minhas mãos, e as abaixei segurando mais forte na base da janela, e assim eu deixei de acreditar em mim mesma, e me joguei.
Nosso amor era de alguma forma impossível de crescer. Ele me imaginava como uma empregada não como uma esposa, isso não faz de mim uma mulher amada por ele, se ele me queria tanto, porque não me aceitou do jeito que realmente sou?

VOCÊ ESTÁ LENDO
Platônico
RomanceRomances curtos e diferentes a cada capítulo. Entre eles: impossíveis, apaixonantes e complexos. Duvido você não se apaixonar por pelo menos um capítulo.