início do meio

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Alicia passou os primeiros dias depois da descoberta da gravidez distante do German. Ele precisava dar esse tempo para ela. Era nesses momentos em que ele a odiava. Odiava a mulher por ela não entender a alegria dele e por não senti-la também.

Eles tornaram a se aproximar quando Alicia começou a passar muito mal, todos os dias. German ficava do lado dela, se certificando de que seu cabelo comprido não caísse na privada e que a comida não estava com um cheiro forte demais.
O casal fazia as consultas do pré-natal e ultra-sons. Alicia sempre parecia distante, falando do feto (ela adorava se referir ao bebê dessa forma) de forma objetiva enquanto German fazia perguntas, interessado.
Eles ouviram o coração pela primeira vez com 12 semanas. Os enjoos já não eram tantos e Alicia já deixava o marido tocar na sua barriga. Uma única lágrima escapou do seu olho ouvindo o som regular e rápido. German deu um beijo na sua bochecha. Ele via o amor que ele sentia pelo filho crescer na esposa.

Aos 5 meses de gravidez, os papéis se inverteram. Se antes era Alicia quem vomitava, agora era o German. Quanto mais a barriga da sua esposa crescia, mais ele ficava magro. Sentia muito tonto, fraco e muita dor.

Alicia e German estavam jantando em casa. Ela tinha feito lasanha (a única coisa que sabe preparar) para o marido, já que ele vinha estando muito desanimado. Depois de uma mordida ou duas, correu para o banheiro. Alicia o seguiu.
-Puta que pariu -Alicia falou, agachada ao lado do marido, logo quando percebeu o sangue misturado com vômito. Era muito mais sangue.- vamos. A gente tem que ver o que é isso. Tem alguma coisa errada com você.

Alicia falava de um jeito pontual e incisivo,  mas temia que algo realmente estivesse errado. E claramente estava.

No hospital, ela só largou a mão do marido quando não podia acompanhá-lo em algum exame.
Os médicos pediram autorização para uma série de exames, e ela aceitava, certa de que seria a melhor coisa a se fazer.

Enquanto German estava sendo internado (passaria essa primeira noite no hospital) o médico que o estava acompanhando se aproximou da Alicia.
-Alicia -Ela lançou seu olhar confuso e temeroso para ele, que não parecia estar trazendo boas notícias.- esposa do German, não é? 
-Isso.
-Bom...de acordo com esses exames -Ele fixou os olhos na barriga de Alicia.- você tá grávida?
-Sim -Ela respondeu, estranhando o viés da pergunta.- mas o que dizem os exames?
-Dizem...-O médico parecia estar morrendo de pena da Alicia. O jeito como não conseguia a encarar direito, as gaguejadas.- parece que é um Câncer de Pâncreas.

Ela esperava algo ruim, certamente, mas não um câncer. Alicia tentou regular a sua respiração a conter as lágrimas, essas que viriam aos montes mais tarde, quando ela estivesse sem olhares a cercando.

Os dias se desenvolveram horrivelmente. Quando Alicia e German foram conversar com o oncologista, lhe deram 2 meses. Ele colocou a mão sobre a coxa da mulher, que estava sentada ao seu lado quando receberam a notícia. Ambos só pensavam no filho, dos 4 meses que faltavam, mas os 2 que restavam.

German começou a faltar as consultas do pré-natal, fraco demais para sair do hospital. Alicia comprou um aparelho que levava sempre que o visitava durante a quimioterapia, para eles ouvirem o coração do bebê. Ela levava as fotos do ultrassom, e ele sorria, mais triste do que feliz.

Quando nascem as flores *finalizada* 2021Onde histórias criam vida. Descubra agora