início do fim

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Oi leitores! No capítulo de hoje veremos Alicia nos meses que sucederam a morte do seu marido. Considerando que tem menções a tortura, vale destacar que o capítulo pode obter conteúdo sensível. Tomem cuidado. Obrigada por continuarem me acompanhando aqui. Me desculpem pelo último capítulo, ele realmente foi muito triste!

<3

Alicia recebeu a ligação de Tamayo em casa. Estava no quarto, dobrando suas roupas, ignorando o lado de German do armário friamente. Pensava que tinha que jogá-lo em algum lugar. Suas cinzas não poderiam ficar no fundo do guarda-roupa para sempre.
Comissário se aninhava no travesseiro que fora do German enquanto encarava Alicia, que atendia o telefone que vibrava anunciando a ligação do Tamayo.

Ele fez a proposta. Alicia pensou na gravidez. Poderia voltar dos "interrogatórios" de vez em quando para as consultas. Não era nem muito longe. Sair de casa por um tempo seria bom, encher a cabeça com trabalho.
A única coisa que a fazia questionar era a maldita carta. O filho da puta do German sabia. Alicia iria aceitar, e ele escreveu a carta sabendo que ela não o ouviria; a conhecia bem demais. E se chegasse ao tal limite? E se fizesse coisas muito ruins?

Mas aquilo não importava mais. Alicia já estava tirando as roupas do armário e separando a sua mala para a viagem. Se tinha que fazer uma decisão...ela já a havia feito.

Conheceu Aníbal...em uma situação complicada. O menino já estava preso há alguns dias naquele lugar nojento e isolado. Graças a deus deram um quarto decente para Alicia. Tudo naquele lugar fedia, principalmente o menino. Colocavam ele em um sala pequena demais. Ela sabia disso, e o deixou permanecer lá. O viu definhar, por meses inteiros, os cabelos cacheados ficando mais e mais sujos, a pele escurecendo conforme as camadas de poeira se acumulavam. Era nessas horas que Alicia mandava Guzman ou um dos seus homens (não sabe exatamente o que eles são, se chegam a ser policiais como ela) prender Aníbal e jogar uns baldes de água nele. Ela podia ter tornado a estadia dele bem menos pior. Mas não o fez, em momento nenhum. 

A gravidez evoluiu muito enquanto ela esteve lá. O feto passou de um pepino para uma melancia, o que não era muito bom para as costas de Alicia.
Odiava quando falavam do seu filho. Alicia sabia que não estava em uma posição muito honrada, interrogando e ocasionalmente drogando um jovem com idade para ser seu filho com aval do governo, em busca de informações. Mas ele não precisava falar do bebê para atingi-la, o que fazia com uma frequência deprimente.

Depois de passar parte da noite vomitando, parte buscando uma posição confortável para dormir, Alicia foi animadamente interrogar Aníbal. Rio, como era chamado quando assaltante, parecia mais consciente do que costume. Olhava Alicia com raiva, mas ela já se acostumara com seus olhares revoltados.
Sentada na frente dele, sentia a sua cabecinha traumatizada pelas sessões nada amigáveis de interrogatório articulando o que falar para ela custosamente. Rio já estava machucado demais, marcado para sempre. Queria que a Inspetora sentisse um pouco da sua dor também. Ela levava um cigarro a boca quando ele começou:
-Não tem problema fumar grávida? -Ele pergunta, tentando tornar a voz fraca o mais firme possível. Firme como a dela. Alicia ri com a pergunta. Da uma tragada forte e joga a fumaça na cara dele.-
-Eu até te ofereceria. Mas é bom deixá-lo consciente de vez em quando.
-É menino ou menina? -Rio pergunta. Alicia sorri. Ela não desgosta do menino. Apenas faz o que devia fazer. Por isso odeia quando colocam o seu bebê no meio. Se é uma relação profissional, por que caralhos continuam falando do seu filho?-
-Chuta.
-Uwn -Ele pensa por um tempo.- menino.
-Se for eu te falo. Não quer se padrinho?
-Voce não sabe nem isso?
-Olha Aníbal -Alicia aproxima seu rosto limpo e cheiroso do machucado e sujo rosto do garoto. Suas palavras são firmes e sua expressão é séria- você pode não gostar de mim, e não tem problema. Mas eu não tô aqui porque eu quero -Está sim.- Eu tô aqui porque me mandaram. Se eu não estivesse aqui, outra pessoa estaria. Não leve isso para o lado pessoal. Quer culpar alguém? Culpa o Professor. Com certeza está aqui por causa dele, ou eu que te fiz entrar na casa da Moeda vestido de Dali? Se quer me ofender, fala mal de mim, não tem problema nenhum. Mas se você ficar falando do meu filho, aí eu vou ter que enfiar agulhas nas pontas dos seus dedos.

Alicia sorri. Não é um sorriso de felicidade. Nunca é.
Ela passa a mão pelo rosto de Aníbal, como um carinho. Ele a encara meio assustado. Ela pega a mão algemada dele. As unhas são curtas mas estão sujas, a poeira sempre procurando pequenos lugares aonde pode se acumular. A inspetora passa os seus dedos cumpridos pelos brutos dele.
-É. Acho que uma agulha de uns 5 centímetros da -Aníbal afasta a sua mão da dela, tremendo de medo.- nem sei se vendem desse tamanho. Tem que ser aquelas de acupuntura, né?

Com o passar das semanas, os dois já estavam cansados da companhia um do outro. Nem se alfinetavam mais.

Alicia se perguntava se era daquilo que German falava na carta. Do seu limite. Já faziam 2 meses desde a sua morte e ela passara boa parte desse tempo torturando um garoto. Logo os seus questionamentos se cessaram com o início de um novo assalto.

Quando nascem as flores *finalizada* 2021Onde histórias criam vida. Descubra agora