fim do meio

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Oi leitores! Como vocês estão?
O capítulo de hoje foi sem diálogos, assim como os primeiros dias de luto para Alicia: silenciosos. Espero que vocês gostem. Logo postarei o início do fim. Amo vocês e boa leitura! <3
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Alicia se sentia oca. Nada lhe restava. Nem mesmo a companhia das lágrimas. Pareciam distantes e inalcançáveis. Sentia dor, mas nada escorria dos seus olhos.

A primeira semana sem ele foi como sair de uma anestesia. A inspetora não lembra de sentir fome nem sono. Apenas existia, fumando um cigarro no final do dia, colocando comida para o Comissário e inventando justificativas para faltar ao trabalho. Não queria receber mais um par de olhares de pena, como tantos já recebidos no hospital com o anúncio da viuvez. Eles já bastavam.

No fim do sexto dia sem ele, Alicia passou no trabalho. Os policiais se referiam a ela normalmente quando se esbarravam pelos corredores, os acenos de cabeça simpáticos. A inspetora ficou horas pensando em crimes locais, papéis para organizar e relatórios para escrever. Aquilo era tudo que ela precisava. Precisava não pensar nele.

O pior de ir ao trabalho era voltar para casa. Alicia odiava estar no elevador e, ao invés de se perguntar o que o marido estava cozinhando ou se iam transar naquela noite, estar pensando se ia fazer um macarrão com molho branco que certamente iria dar errado ou pedir algum delivery.

Alicia odiava a sua gravidez. A sua barriga ficava no caminho de tudo: ela e o que ela representava. Sentia ódio pelos movimentos sorrateiros do bebê dentro dela e dos inchaços que ele causava pelo seu corpo. Sentia repulsa dos seus seios que produziam leite e da sua barriga que esticava, cada vez maior. Chorava, se perguntando se um dia amaria o bebê. Aquela criança sempre fora o sonho do seu marido, mas Alicia teria que criá-la como se fosse o seu. Sozinha.

Alicia tinha pena do filho. Pensava em tudo o que ele perdeu; perdeu uma mãe, considerando que Alicia nunca conseguiria ser uma descente sem German ao seu lado. Perdeu um pai, e todas as vezes que ele o levaria na escola e faria seu prato favorito no almoço. Aquele bebê também estava sozinho.

Com o passar sorrateiro e silencioso dos dias, Alicia tornou a pensar no seu filho. Conseguiria criá-lo, com ou seu o German. E esperava amá-lo. Esperava que tudo fizesse sentido de novo quando ele finalmente chegasse aos seus braços. E aí já não estariam sozinhos. Nenhum dos dois.

Quando nascem as flores *finalizada* 2021Onde histórias criam vida. Descubra agora