15 - Gabriel

855 97 32
                                    

A minha cabeça de baixo aceita o convite da pediatra antes mesmo que a de cima consiga entendê-lo, pulando dentro da cueca para saudá-la. Passo as mãos pelo cabelo, desconfortável por estar de pau duro no meio de tanta gente conhecida, e pigarreio para tentar disfarçar a minha irritação - com o meu pênis, obviamente. Acho que nunca conseguirei me irritar com Camila, por mais que, como neste exato momento, ela me confunda.

Não sei o que ela pretende me convidando para ir à casa dela; realmente não sei. Tratasse-se de qualquer outra mulher que não Camila Trindade eu estaria certo de que iria transar, contudo, por conhecê-la bem - e considerando a quantidade de nãos que ouvi na última semana, em que eu a havia chamado todos os dias para sair -, não vou me surpreender se ela não quiser nada além de jantar e trocar alguns beijos comigo.

Se eu tiver sorte, talvez rolem uns amassos no sofá. Talvez.

Suspiro. Estou cansado de tanto bater punheta, mas prevejo que, quando (e não se) ficarmos juntos, todos os anos de espera valerão a pena.

Vai ser foda. Certeza.

- Gabriel? - a voz suave da pediatra interrompe os meus pensamentos luxuriosos. - Você tá calado há um tempão, algum problema? Se não der ou você não quiser ir pra minha casa eu entendo, é claro...

- Eu quero, minha sereia. Quero muito - respondo com sinceridade. - Mas antes de ir, eu preciso passar no meu apartamento pra tomar banho e trocar de roupa. Suei bastante.

- Você me disse, uma vez, que sempre tem uma muda de roupa no carro...pra trocar caso se suje inspecionando uma obra. Tô certa? - Ela sorri.

- Tá. Você nunca tá errada. - Sorrio também.

- Então, por que você não toma banho na minha casa? Imagino que você também tenha uma nécessaire com desodorante e sabonete, não?

O sorriso de Camila se amplia e os olhos verdes passam a brilhar ainda mais, fazendo o coitado do meu coração falhar uma batida ou duas. Desconcentro-me por um instante e ela chama a minha atenção outra vez:

- Gabriel?

- Oi. - Foco, Gabriel, foco! Camila pode estar te convidando para tomar banho com ela! - Tenho uma nécessaire no carro, sim. E, além da calça jeans e da camisa extras pras obras, tenho também uma bermuda e uma camiseta de academia no carro.

- Ótimo. Podemos ir juntos? Mel me trouxe, mas acho que ela não tá interessada em sair daqui agora... - Ela indica o local onde a amiga e Arthur estão se beijando e completa: - ...ou comigo.

- Também não me interessa que ela te leve pra casa, princesa. Vamos?

Minha sereia acena para Melissa, despedindo-se, e entrelaça os dedos nos meus. Percebo que a mão dela, pequena e delicada como a dona, está gelada demais para o calor do ambiente...ela estaria nervosa? Por minha causa?

Andamos até o carro em silêncio e eu a observo com atenção. Ela caminha mantendo os ombros e a coluna rígidos, olha para a rua insistentemente sem, entretanto, olhar para mim, e os lábios estão comprimidos em uma linha fina. Ela está nervosa; é um fato. Mas com o quê?

- Tá tudo bem, Mila? - questiono assim que ligo o motor e afivelamos os cintos de segurança. Ela faz que sim com a cabeça. - Se você mudou de idéia quanto a passar a tarde comigo, pode dizer.

- Eu não mudei de idéia, Gabriel - ela fala prontamente. - Eu só tô um pouco nervosa.

- E eu sou o motivo? - Pouso a mão sobre a coxa dela e a encaro. - Sereia, podemos fazer o que você quiser, hoje. Jantar, ver um filme, uma série...não precisa rolar nada demais. Talvez você não confie em mim ainda, mas eu...

Sempre Foi Você (PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora