4 - Gabriel

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2004

- Você viu a Camila, Arthur? - grito no ouvido do meu melhor amigo.

- Ela tava dançando com a Melissa há uns dez minutos! Bem no meio da pista - ele grita de volta, pousando uma garrafa de cerveja long neck em cima do balcão. - Por quê?

- Porque eu vou me declarar pra ela! Hoje!

Pego a garrafa de Arthur e dou alguns goles. O líquido gelado e amargo desce pela minha garganta e eu não consigo deixar de fazer uma careta.

Detesto cerveja. Realmente detesto.

- Pode ir parando por aí, Gabriel! - Meu amigo toma a cerveja das minhas mãos. - Você não tem dezoito anos ainda e eu não quero ser preso por oferecer bebida alcoólica a um menor de idade!

- Porra, Arthur, você tem que ser sempre tão certinho? Eu preciso de coragem pra falar com a Mila! Líquida, de preferência!

- Eu não sei ser de outra forma. - Arthur abre um sorriso satisfeito. Caralho, ele vai ser o advogado mais correto do mundo! - E quanto a você se declarar, bem...você pretende acabar com a Alessandra antes ou depois? Porque se for depois, não é justo com ela nem com a Camila.

É, a Alê. Minha namorada há quase dois anos. Arthur tem razão, eu estava tão empolgado para falar com a Camila que tinha esquecido da Alessandra por um instante, e não é que eu não sinta nada por ela; eu sinto. Gosto muito da Alê, mas, apesar da minha falta de coragem de confessá-lo, o meu coração é da Mila. Sempre foi.

E hoje é a minha última chance de me declarar, a festa de encerramento do colégio.

Suspiro e penso que preferiria falar com ela em outro lugar que não uma boate barulhenta e cheia de gente, mas não sei quando e se irei vê-la outra vez. Mila é tímida, estudiosa, tem poucos amigos, quase não sai de casa...

Bem, talvez eu possa pegar o telefone da casa dela (ela ainda não tem celular) e ligar chamando-a para sair. Assim eu ganho tempo para descobrir como acabar com a minha namorada sem magoá-la e não preciso me declarar de qualquer jeito.

Mas e se a Mila disser que não quer sair comigo e eu acabar magoando a Alê por nada?

Estou tão envolvido com os meus próprios pensamentos que não percebo que não respondi à pergunta de Arthur. Também não percebo a aproximação de Alessandra, que me beija e me puxa para dançar. Me encaixo atrás dela e movo os meus quadris com a música.

I Just Can't Get You Out Of My Head, tudo a ver. Aqui estou eu, involuntariamente duro enquanto me esfrego na minha namorada - que, além de linda, está vestindo uma blusa decotada e uma calça com a cintura bastante baixa -, entretanto, não consigo tirar Camila Trindade da minha cabeça. Não mesmo.

Eu preciso fazer alguma coisa.

- Nós vamos pra algum lugar quando sairmos daqui, Biel? - Alessandra pergunta no meu ouvido, em um tom que deveria ser sensual, mas apenas me parece meloso demais. - Só eu e você?

- Claro que vamos, gatinha. Pra onde você quiser - respondo automaticamente, um pouco irritado por ter sido chamado de Biel. Não gosto do apelido. - Mas a gente pode aproveitar um pouco a festa antes, não? E eu preciso ir no banheiro, volto rapidinho!

Beijo Alê e saio procurando Mila pela pista de dança, sem saber bem o que dizer ou fazer. Ela está rebolando com Melissa em um canto mais afastado, perto do bar, e o meu coração quase sai pela boca vendo-a tão linda, mesmo que  simples e sem muita maquiagem.

Camila consegue ficar bonita sem fazer nenhum esforço, porque a beleza dela vem de dentro, penso. Pode soar cafona, contudo, é totalmente verdadeiro.

Sempre Foi Você (PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora