2 - Gabriel

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- Papai? - Sinto mãos pequenas e gordinhas no meu rosto. - Papai, acorda!

Abro os olhos devagar e acendo a luz do quarto; Mirela, minha filha de 5 anos, está em pé junto à cama, com o pijama cor-de-rosa de unicórnios amarrotado e os olhos cheios de lágrimas.

- O que foi, meu amor? Aconteceu alguma coisa? - Sento no colchão.

- A minha barriga tá doendo, papai. Doendo muito - ela choraminga.

Coloco Mirela no colo e acaricio os cabelos loiros dela enquanto olho para o relógio no meu pulso. É quase meia-noite.

- Você tentou ir no banheiro, Mi? Quer que o papai vá com você fazer cocô?

- Não é dor de fazer cocô, papai. É diferente. - E vomita em cima de mim. - Desculpa...

- Tudo bem, filha. Não tem problema - conforto-a. - Vamos tomar um remédio pra você não vomitar mais? E entrar no chuveiro?

Ela assente com um movimento da cabecinha e eu tiro o pijama dela, percebendo-a febril. Ligo o chuveiro, coloco Mirela embaixo da água morna e tiro os lençóis da cama e o meu short.

Termino de dar banho na minha filha rapidamente e tomo banho em seguida. Seco-nos, pego a bolsinha com remédios que a mãe dela costuma mandar e separo o anti-térmico e o anti-emético.

- Vou ter que tomar remédio? Mas eu não gosto... - Ela faz um biquinho fofo.

- É pra melhorar a dor na barriguinha e o enjôo, princesa. O primeiro é um comprimido pequeno embaixo da língua, ok? Depois vai ter daquele xarope que você gosta.

- De tutti-frutti?

- Arram.

Entrego o comprimido a Mirela e ela o põe embaixo da língua, sem questionar mais nada. Resolvo ligar para Alessandra e perguntar se devo ou não levar a nossa filha a um hospital, mas a ligação não completa.

- Acho que nós dois vamos ter que dar uma volta, Mi...

-

Há tanta gente na emergência pediátrica que nem parece que é sábado de madrugada. Mirela dorme tranquilamente no meu colo, ainda febril, mas as outras crianças gritam, choram, tossem e vomitam, formando um pequeno caos.

Algumas crianças entram para serem atendidas. Mais crianças aparecem. E depois de mais ou menos quarenta minutos esperando, ouço a enfermeira gritar impacientemente:

- Mirela Bittencourt Leão! Consultório um!

Toco no rostinho da minha filha e não consigo deixar de sorrir quando ela abre os olhos, tão azuis quanto os meus.

- Acorda, filha. A médica quer conversar com você.

- E como você sabe que é uma médica, papai? Só meninas podem ser médicas de criancinhas e meninos não? - ela pergunta, bocejando.

- Eu sei porque tá escrito ali. - Aponto para uma televisão grande pendurada na parede. - E é claro que meninos também podem ser médicos de criancinhas.

- É o meu nome, papai!

- É, sim. Mirela, consultório um, doutora Camila. Agora fique em pé pra gente ir, sim?

Mirela sai do meu colo e arruma o vestido amarelo e a tiara. Ela é muito parecida comigo na aparência e na personalidade, mas a vaidade veio totalmente da mãe; na maior parte dos dias, eu mal lembro de pentear o cabelo. Pego na mãozinha dela e a acompanho até o consultório.

Sempre Foi Você (PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora