Prólogo

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Dezembro

Para Tristan Stewart, a chegada do inverno significa poder ficar com as pessoas que ama, já que também dá início às férias escolares. O vento gelado sopra incessantemente, obrigando as pessoas a tirarem os casacos pesados dos armários. As ruas estão movimentadas, apesar do clima, mas é de se esperar que todos estejam ocupados, afinal a vida segue seu fluxo mesmo com as temperaturas cada vez mais baixas.

A vida dele mudou drasticamente em comparação aos últimos dois anos.

Ele começou a namorar cedo, aos treze anos de idade, e desde então esse é o primeiro inverno que está passando solteiro. A garota por quem ainda é apaixonado quis um "tempo" e ele, é claro, aceitou. Apesar de não entender o porquê disso. Para ele, o relacionamento seguia perfeitamente bem.

Por isso esse ano está sendo diferente. Ao invés do costumeiro clima aconchegante que sentia sempre que se reunia com toda a família, Tristan sente apenas um profundo desânimo que o faz arrastar os pés até a cafeteria todos os dias. O vício em cafeína aumentou perigosamente, mas o que mais poderia fazer? Ele perdeu até mesmo o prazer em cozinhar e café é a única coisa que parece ser capaz de fazer seu corpo funcionar.

– Um Americano, por favor.

Enquanto a atendente prepara seu pedido, ele corre os olhos pelo lugar observando nada em particular. Não está cheio como de costume: um casal conversa em uma mesa no canto e pelos movimentos que fazem com as mãos, não parece uma discussão amigável – ele sabe bem como é isso. Um homem de terno digita furiosamente em um notebook, alheio a tudo ao redor. Uma senhora de cabelos bem brancos com duas crianças pequenas que devoram um pedaço de torta.

Contrariando a rotina que havia imposto em si mesmo, ele pega o pedido e se senta em uma das mesas redondas perto da janela ao invés de ir caminhando para a casa da avó, onde toda a família está reunida e fica lhe lançando olhares mal disfarçados de pena.

Não, definitivamente não iria para casa agora.

Tão concentrado que está no café e remoendo novamente o "término" – mesmo que vários dias já tenham passado –, Tristan mal sente a lufada de ar gelado que entra quando a porta da cafeteria é aberta.

– Um caramelo machiatto, por favor.

A voz o tira do estado de contemplação repetitiva em que se encontrava. Uma voz ligeiramente fina, e extremamente doce. Uma voz que causa um arrepio suave em sua nuca.

Tristan vira-se no mesmo instante na direção do balcão e seus olhos encontram cabelos longos e ondulados, que descem em cachos grossos e azuis pelas costas até parar na cintura. Azuis... isso o faz sorrir, e o sorriso o surpreende. Pensava que ainda ficaria um bom tempo sem conseguir movimentar os músculos faciais, a não ser que fosse para franzir o cenho.

De costas para ele, Tristan percebe que ela é pequena, com cabelos escuros como o céu noturno, mas tinta colorida se espalha por todo seu comprimento.

Ele não percebe que fica encarando as costas da estranha, até que ela paga pelo pedido e vai embora, sem olhar na direção dele nem ao menos uma vez, enquanto seu olhar a segue até a saída.

* * * * * * * * * *

Diane quis ir até a biblioteca. A irmã mais velha de Tristan que logo, logo estará formada na faculdade, mas que é incapaz de caminhar sem ele para procurar pelos livros tão amados. Como Tristan ama seus irmãos de todo coração e sempre foi especialmente próximo dela, não se queixou de acompanhá-la até ali.

A moça desaparece pelas estantes mais ao fundo e ele fica rodando sem rumo, analisando os títulos com desinteresse. Começa a olhar por entre as estantes, se esquivando das obras de romance, porque não suportaria ver nenhum casal feliz mesmo que fossem fictícios.

Strawberry & Coffee [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora