Capítulo 8

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En Dehors: Posição do ballet onde os pés ficam apontados para fora, com os calcanhares encostados um no outro.

Lizbeth

– Sarah veio falar com você de novo? – Dakota me pergunta, servindo suco no meu copo.

Tricia e eu estamos sentadas em uma mesa no jardim nos fundos de sua casa, tomando café da manhã antes da aula.

Tive que sair mais cedo para vir para o Queens para isso. Ela me intimou, não tive escolha.

– Não. Ela sossegou um pouco.

– É, mas ela vai te procurar, se eu conheço bem a peça. – Tricia comenta tomando um gole do seu copo.

– Além do mais, se a conversa que o Tristan teve com ela foi tão ruim como a gente acha que foi, agora mesmo é que ela não te dá sossego. – Argumenta Dakota.

– Ela não vai me dar sossego nem se o namoro dos dois for um mar de chocolate com pedaços de biscoito. – A comparação boba me faz rir sozinha.

Por falar em biscoito, tem uns com uma cara boa em cima da mesa. Eu aponto para um deles e Dakota balança a cabeça dizendo que posso pegar.

– Mas eu ainda não entendi, por que você ficou daquele jeito? – Dakota pergunta um pouco cautelosa. – Eu não cheguei a ver, é claro, mas Tricia explicou a situação o melhor que pôde e você estava um pouco pálida quando voltou para sala.

– Eu não sei. Desculpa. – Respondo enfiando um biscoito inteiro na boca.

– Sabe, se não quiser falar é só dizer, não precisa inventar esse tipo de resposta de bosta. – Tricia bufa impaciente e eu quase cuspo o biscoito. Minha gargalhada é tão alta que as duas me encaram, surpresas. – Qual é a graça, garota?

– Você, Tricia. – Eu ainda rio um pouco, mas bebo um gole do suco antes de falar. – Olha só, eu não estou inventando desculpa, ainda mais uma tão ruim. Eu realmente não sei. Algumas situações me fazem passar mal e fico daquele jeito.

O rosto delas parece surpreso e confuso ao mesmo tempo. Elas se olham, de um jeito que só amigas muito íntimas conseguem entender e por fim, depois de uma longa comunicação silenciosa, Dakota faz um barulhinho de compaixão.

– Sinto muito. – Ela diz.

Abano com a mão, dispensando o pesar.

– Pode ser um conjunto de acontecimentos que levaram a isso. Eu pesquisei no Google, mas o Google não é terapeuta.

– E você não vai se encontrar com um? – Indaga Dakota. – Para descobrir ao certo o que é.

– Não. – Meu tom de voz não deixa brechas para aprofundar o assunto.

Elas ficam em silêncio, desta vez prestando atenção em mim. O olhar de Tricia me perfurando e pesando feito uma bigorna. Estremeço e enfio outro biscoito inteiro na boca.

Ela dá um sorriso apenas com os lábios, sem mostrar os dentes e volta a tomar seu café da manhã.

– Bom, o que quer que tenha acontecido, você aprendeu a seguir em frente, certo?

– Estou tentando. E aprendendo. Mas esqueçam isso, não é importante. – Tricia pisca um olho para mim antes de chamar Dakota, que ainda está me olhando sem nem piscar.

– Você consegue ser sincera e ao mesmo tempo evasiva. – Comenta Dakota. – Interessante.

Eu paro com a mão no ar, mais um biscoito a caminho da boca e dessa vez Tricia ri com ela, me fazendo corar.

Strawberry & Coffee [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora