O Irmão Ogro I

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No alto dos meus 19 anos eu, Carlos, ainda era extremamente próximo dos meus pais. Apesar de ter certa liberdade para poder sair à noite e voltar pela madrugada, nem cogitava sair de casa de vez, já que sabia que ia sentir falta da comidinha da mamãe e dos caprichos meus que eram cedidos.

Sempre fui muito tímido e apesar de já estar na faculdade, sempre tive dificuldade de relacionamentos. De fato, eu tinha grandes amigos, alguns desde a infância, mas no que diz respeito a namoros e amor eu era uma tragédia. Morria de medo de chegar em alguém e não ser compreendido, tinha medo até de apanhar.

Na faculdade, tinha fama de cdf por estudar muito e frequentar poucos ambientes de festa (quem faz faculdade sabe como é). Seguia da aula pra casa e sempre ouvia cobranças dos meus pais por não ter namorada, ou apresentar uma menina. Pois é, não era assumido. Na minha família super tradicional isso era inadmissível.

Nunca tive dificuldade em me aceitar, mas tinha certo receio dos julgamentos das pessoas. Lembro de quando contei pro meu melhor amigo na faculdade, Daniel, sobre a minha homossexualidade:

- Dani, eu preciso te falar uma coisa e vou entender a sua reação, independente de qual seja – ele ficou me olhando sério como quem esperasse um tiro no peito – Eu sou gay!

- O quê?? Como assim?? Você já me viu pelado cara...

Depois disso ele deu mais um piti e fez um drama básico, mas cinco minutos depois já estava me abraçando e dizendo um monte de coisas boas, inclusive que me apoiaria e queria saber de todos os meus lances. Lances? Quem me dera.

No segundo período da faculdade, ainda ouvindo chacotas e brincadeirinhas sobre minha vida (sexualidade, ser cdf...), recebi uma notícia que ia ser só mais uma pedra pra mim. Meu irmão mais velho, Bruno, quatro anos mais velho que eu moraria comigo. Filho do primeiro casamento, tive poucos encontros com Bruno e nunca gostei dele. Por viver longe do meu pai, sempre percebi o quanto de ciúme ele sentia de mim. Achava inclusive que continha um nível alto de ódio.

Aos vinte e três anos, sempre foi uma comparação para meu pai, já que Bruno já tinha namorado várias vezes e vivia saindo a noite e deixando a mãe dele bem preocupada com suas noitadas e seus relatos de pegação. Nossa, era tudo que eu precisava: mais um motivo para ser cobrado e ainda tinha que lidar com meu irmão querido (só que não).

Meu pai o buscou no aeroporto, vindo do Rio de Janeiro para Belo Horizonte. Fiquei esperando em casa e minha mãe louca pra dar uma boa impressão pra Bruno. O pior é que ele ficaria no meu quarto, já que tudo foi rápido demais e não deu tempo de terminar as obras no quarto de hóspedes.

Eles chegaram. Fui recepciona-lo e estendi a mão esperando por uma gracinha que logo veio. Apertou minha mão com muita força, arrancando uma careta e apertou minhas bochechas me deixando vermelho (e olha que sou moreno).

- Saudades irmãozinho!

- Nossa! Eu também.

Minha expressão irônica já deixava claro que eu não estava feliz com sua presença. Almoçamos todos juntos e o ar de superioridade de Bruno me incomodava. O cara estava muito mais chato do que a última vez. Subi pro quarto e desabafei comigo mesmo:

- Agora vou ter que aguentar isso...

- Nossa, já tá reclamando do seu irmãozinho aqui?

Nossa, esqueci totalmente que ficaríamos no mesmo quarto. Ele entrou rindo e colocando suas coisas na cama ao lado da minha. Fiquei em silêncio já que só ficaria pior com uma explicação. Peguei minha chave e meu celular e disse a todos que ia sair, até que minha mãe teve a infeliz ideia:

O Irmão Ogro 1ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora