Confissões

3° Capítulo - Teresa O'Donnell

Me observava na frente daquele espelho, dividi o cabelo ao meio e joguei para frente vendo os cachos nas pontas que estão um pouco acima dos meus seios, observei meu uniforme bem alinhado.

A base em meu rosto escondeu qualquer vestígio de olheiras da noite anterior, conferia se estava tudo perfeito como tinha que estar.

Vi uma vídeo-chamada da minha irmã mais velha, mordi os lábios para ficarem mais corados, arrumei o cabelo mais uma vez e atendi sorrindo:

— Que saudades de você!

— E eu de você, sábado iremos almoçar aí, Jason vai pedir a minha mão para o papai e a mamãe.

Fiquei boquiaberta e sorri:

— Eu não acredito!

— Nem eu! Estou tão empolgada, ganhei um prêmio com a minha tese sobre cirurgias cerebrais, Jason e eu fomos comemorar e ele ajoelhou e tirou esse anel aqui. — Ela me mostrou, fiquei atônita — Estou louca para te ver, então sábado leve seu namorado... — (idontwannabeyouanymore – Billie Eilish) Senti o sorriso murchar, mas forcei um sorriso para disfarçar e não estragar a empolgação dela enquanto aquela angustia me consumia lentamente.

Judith falava sobre tudo aquilo e eu forçava sorrisos e estar feliz, mesmo sabendo que tinha algo errado comigo.

Queria ser como minha irmã mais velha, ser bem sucedida, ser popular, ser tudo que meus pais orgulhassem, mas eu simplesmente não consigo ser tão perfeita.

Não consigo ter um relacionamento. Tento fazer dar certo, mas sempre acaba do mesmo jeito com eles falando "você é incrível, mas..." sempre esse, "mas".

Forçava sorrisos sentindo meus olhos marejados e algo me sufocando enquanto ela falava.

Ao terminar a vídeo-chamada senti às lágrimas rolarem e retoquei a base limpando os olhos e saindo direção a sala e me sentei junto com meus pais.

Comecei a comer o café da manhã e vejo minha mãe aproximar, ela sempre está impecável, fitou os olhos azuis em mim, corrijo minha postura e ela sorriu:

— Soube que ficou em segundo lugar ao fazer o teste para universidade que fará ano que vêm.

Engoli em seco e antes que dissesse algo ela toca minha mão:

— Acontece. Sei que foi só uma simulação e ainda tem mais dois anos letivos, só não se acostuma com essa colocação, se alguém conseguiu se sair melhor, quer dizer que não tentou o suficiente.

Concordei. Meu pai sentou e sorriu:

— Bom dia meus amores.

— Bom dia papai.

— Bom dia meu amor. — Minha mãe sorriu e se serviu elegantemente o café da manhã, papai desvia nossa atenção:

— Sábado a Judith virá almoçar conosco, ela trará o Jason. Ele é um rapaz incrível.

— Na inauguração da clínica dele a mãe dele me disse que ele sempre foi o número um da sala dele. — Mamãe fez questão de me olhar.

Mastigo aquela fruta com força suficiente para ranger meus dentes. Papai questiona:

— Quando apresentará um rapaz do seu nível para a gente?

Podia sentir meus ombros tensionarem, sorrir da forma mais convincente e questiono:

— Posso trazer um amigo aqui no sábado?

— Aquele afeminado?

Fito a minha mãe e posso ver a expressão de desdém do meu pai, pisco algumas vezes: