4° Capítulo - David Russell

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1 ano antes...

(Transatlanticism – Death Cab for Cutie)

Acho que todos se perguntam o porque em dias ruins, o céu fica cinza, o sol se esconde e tudo a nossa volta parece ficar opaco. Tudo parece perder a vida, as cores, o sentido.

Abraçava minha irmã mais nova que está inconsolável, a apertava forte, queria tirar a dor dela e transpassar para mim só para não a ver desse jeito, porque sabia que ela não tinha forças para ficar de pé ali vendo o caixão de nossa mãe ser enterrado.

Podia ver meu pai com expressão de raiva, ele não consegue aceitar que uma doença a tirou dele. Ele já amaldiçoou os médicos, as pessoas e até Deus.

Mas ele só está sofrendo e precisa descontar sua frustração, raiva e dor em qualquer coisa para tentar se sentir melhor.

Minha mãe costumava dizer que aprendemos a lidar com todas as situações que a vida nos impões, menos com perdas.

Quando perdemos algo, vivemos diariamente aquela perda quando acordamos, ou com alguma lembrança durante o dia e essa perda será sempre uma lembrança antes de fecharmos os olhos para dormir.

Com o tempo a dor diminui conforma a saudade aumenta. Aquela ferida cicatriza e aprendemos a conviver, mas nunca deixa de estar ali. A espreita como um fantasma, esperando a hora certa de surgir para nos assombrar.

E eu ainda estou com a última conversa que tivemos, quando ela estava no hospital e pediu para falar conosco antes de... partir.

Minha mãe estava em um estado que vê-la, doía mais do que a distância de perde-la.

Filho nenhum quer ver a mãe morrer, mas quando eu a via eu ficava muito pior do que quando não via.

Estava raquítica, seus braços cheios de feridas de agulhas, soros e sondas.

Olivia e meu pai queriam que ela lutasse, queriam que ela aguentasse e não percebiam que ela já não aguentava mais.

Estávamos os três naquele quarto, Olivia estava com um buque de lisianto branco nas mãos que trouxe para ela.

Podia lembrar dela tirar aquela máscara de oxigênio e fitar os olhos castanhos em cada um de nós já se despedindo e naquele momento meu coração se comprimiu e a dor de ver ela daquela forma foi menor do que a de saber que era uma despedida.

Podia lembrar dela dizer com a voz fraca e quase inaudível:

— Eu amo vocês mais do que tudo... Só que... Eu quero e preciso que vocês sigam em frente. — Eu não conseguia a olhar porque não queria que ela vesse que eu estava chorando, abaixei a cabeça podendo ver as lágrimas caírem no chão. Ela prosseguiu — Já perdi as contas de quantas sessões de quimio eu fiz nos últimos anos. E eu sei que vocês estão lutando comigo desde que fui diagnosticada. Só que... Nem sempre conseguimos vencer.

Olivia toma a frente otimista:

— Mãe os médicos disseram que se fizer mais...

— Por favor, só me ouça.

Olivia estava com medo do que ela ia falar, mas concordou.

— Lembra quando eu te ensinei a andar de bicicleta? — Olivia concordou já chorando, mamãe segurou a mão dela e prossegue — Lembra que eu te disse que não podemos desistir de nada até conquistarmos nossos objetivos?! Você se machucou incontáveis vezes, caiu, levantou e persistiu. Aprendeu a andar de bicicleta e tomou ódio de bicicletas porque tinha se machucado tantas vezes que quando aprendeu a andar achou que não tinha valido a pena.

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