8° Capítulo - Aaron Dempsey

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(Another Love – Tom Odell)

9 anos e 3 meses antes...

Lembro de descer do carro e o motorista me conduzir para dentro de casa, carregava aquela lancheira do superman, o sangue estava seco em meu nariz, mas a dor ainda estava ali.

Meu pai estava com aqueles homens estranhos e ao me ver pude ver seus olhos escurecerem, veio em minha direção e afagou meus cachos preocupado:

— O que aconteceu com ele?

O motorista não soube responder.

Me olhou preocupado:

— Quem fez isso com você?

— Um menino da minha sala.

— Por que ele te bateu? Você bateu nele?

— Não... Ele me bateu porquê... Ele falou que sou bichinha.

Pude ver os olhos escuros dele ficarem marejados e bagunçou meu cabelo:

— Você bateu nele?

Descordei com a cabeça.

Ele serrou os punhos e colocou na frente da boca:

— Por que não?

— Porque ele é mais forte que eu.

— Devia ter socado a cara dele bem forte.

— Eu fiquei com medo.

— Medo de que?

— Que ele me batesse mais, como os outros fazem.

Ele não conseguiu conter às lágrimas, fitou aqueles homens ali:

— A reunião acabou, podem sair.

Saíram dali como um exército.

Meu pai me pegou no colo e me conduziu até a cozinha, me sentou sobre aquele balcão e fitou meus olhos:

— Você é um homenzinho, quando alguém te acertar um soco, você tem que dar dois, porque se você baixar a guarda. Eles vão te baterem sempre. Entendeu?

— Pai... O que é bichinha?

Me olhou sem saber como responder aquilo. Engoliu em seco e pensou um pouco:

— Quando um menino ou homem, agem de uma forma afeminada. Gostam de coisas de mulheres e... Às vezes agem como mulheres. Pessoas... ignorantes tentam os ofender chamando disso.

O olhei por alguns segundos e questionei:

— Por que está chorando?

— Porque é meu filho. Eu te amo muito e pessoas te machucaram e quando te machucam é como se me machucassem também.

— Pai... Me ama mesmo sabendo que eu sou uma bichinha?

Ele chorou de uma forma que nunca vi antes. E aquela foi a primeira vez que percebi que ser diferente assusta as pessoas que nos amam, causa incômodo, machucam elas.

Não porque são ignorantes, mas porque se importam e tem medo de ver quem amam feridas. Porque aquilo as ferem também. E eles sabem que tudo que é diferente é repudiado, se torna minoria e a maioria se sente no direito de ofender e machucar.

Ele segurou minha nuca e apoiou a testa na minha e fitou meus olhos:

— Você é uma criança ainda, mas se quando crescer decidir que o que te faz feliz é isso. Vou te amar da mesma forma, será meu filho da mesma forma. Só que vou te ensinar a se defender, a não deixar que te machuquem porque se machucam quem amamos. Nos machucam também.

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