☪ .☆ ━━ NINETY FIVE ━━ ☪ .☆

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Eu não conseguia parar de tremer; desde o momento que acordei no hospital, não conseguia parar de tremer

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Eu não conseguia parar de tremer; desde o momento que acordei no hospital, não conseguia parar de tremer. Porque ainda sentia o hálito quente daquele homem contra meu pescoço, porque ainda sentia o aperto dele nos meus pulsos, porque ainda sentia as mãos dele pelo meu corpo. E não conseguia parar de tremer. Eu só queria que aquilo tudo acabasse, só queria desaparecer de uma vez. Ainda conseguia sentir o gosto do sangue na minha boca, o sangue no meu rosto, mesmo que eu já o tenha esfregado cinco vezes desde que acordei. Mesmo que eu tenha lavado as mãos várias vezes, mesmo que tenha esfregado toda minha pele com força, era como se não conseguisse tirar aquela sensação de merda de mim. Aquela sensação de que eu estava suja por dentro.

Nunca tinha me sentido mais fraca e impotente quanto naquele momento. Fui pega com a guarda baixa, e eu poderia estar morta agora mesmo. Ou coisa bem, bem pior. E eu sabia que isso teria acontecido se Juju não tivesse aparecido. Meu estômago revirou novamente com a lembrança de tudo aquilo; eu queria sumir, desaparecer. Sequer conseguia aguentar olhar para as pessoas do lado de fora, que se diziam serem a porra da minha família. Mas apenas pareciam se importar quando eu estava fodida em uma cama de hospital. Talvez tenha sido por isso que gritei até minha garganta doer para que todos me deixassem sozinha. Eu não queria ver... Ninguém. Eu queria ficar ali, sozinha, e desaparecer.

Apertei minhas mãos com força, tentando respirar; mas não conseguia, não conseguia me manter calma o suficiente para isso. Parecia que alguém estava apertando meus pulmões, impedindo o ar de chegar a eles. Eu estava tendo um ataque de pânico, as lembranças de agora e do passado se misturando em um borrão, me fazendo querer vomitar novamente.

Achei que tinha superado aquilo; por anos, eu lutei para esquecer tudo o que aquele homem nojento tinha me feito passar enquanto minha mãe fingia não ver nada. Cada toque invasivo, cada abuso. Aquela primeira tentativa, que me fez reagir e ir parar no reformatório. Por muito, muito tempo, eu fui incapaz de deixar outras pessoas encostarem em mim. Foi um inferno conseguir aceitar isso novamente. E agora... Tudo volta outra vez. Quando Juju encostou em mim naquele beco, eu senti tudo me atingindo com tanta força que sequer fui capaz de respirar.

Eu sequer sabia se eu estava respirando novamente; sentia como se estivesse me afogando, aos poucos, no meu próprio trauma e desespero. Passei as mãos pelo meu cabelo, fechando os olhos com força e colocando a cabeça entre as pernas em uma tentativa de fazer tudo parar de girar.

Ele tocou meu corpo, rasgou minhas roupas, e teria... Por Deus. Pela segunda vez, aquilo. E agora, estava morto, mas eu não tinha nem mesmo forças o suficiente para agradecer por isso. Não tinha nem mesmo forças para me sentir feliz com isso. Porque toda vez que eu fechava meus olhos...

Escutei a porta se abrindo, e já estava preparada para gritar quando meus olhos se encontraram com os de Sam. Sam, merda. Tudo tinha acontecido tão rápido, tudo tinha... Eu me esqueci...

Meus olhos ficaram cheios de lágrimas enquanto olhava para Sam, enquanto ela vinha até mim. Me encolhi quando ela se aproximou; não era algo que eu conseguia evitar. De qualquer forma, ela pareceu perceber, porque parou de andar, me olhando.

Desviei o olhar; aquilo era demais pra mim, era demais para lidar. Coloquei meu rosto entre minhas mãos.

-Chifuyu, espera.- escutei Sam dizer. -Me deixa falar com ela primeiro.

Surpreendentemente, não escutei protestos vindos do meu namorado. Apenas escutei a porta se fechando novamente e, quando me virei, só tinha Sam e eu no quarto.

Minha irmã se aproximou com calma de mim, se sentando na beirada da cama. Nem tão longe, nem tão perto. E eu sabia que Sam entendia; melhor do que ninguém, Sam entendia.

-Eu fiquei com muito medo.- ela disse, os olhos com lágrimas. -Eu fiquei com medo, Aiko.

-Desculpa.- eu disse baixinho. Sam esticou a mão dela e entrelaçou o dedo mindinho no meu. Apenas isso já fazia meu coração disparar loucamente, e não de uma forma boa, mas não me afastei.

-Não é sua culpa. - ela disse. Pisquei os olhos. E chorei, colocando a mão livre no rosto. Sabia que Sam queria se aproximar, que queria me abraçar. Mas, ainda assim, ela não o fez. Porque Sam me respeitaria acima de qualquer outra coisa. Ela me daria aquele espaço, o espaço que eu precisava naquele momento.

-Eu não sabia que ele estava solto.- eu disse, em meio a um soluço. -Eu deixei a guarda baixa. Se Juju não soubesse onde eu estava, se ela não tivesse aparecido... Sam, ele estava quase...

-Não precisa falar.- ela disse e eu balancei a cabeça.

-Não sei o que fazer. Não consigo respirar, não consigo apagar isso. - eu disse e sabia que o desespero em minha voz era nítido. -Me sinto suja.

-Aiko, isso não é culpa sua, é culpa desse arrombado do caralho!- ela disse irritada.

-Eu sei. Eu sei. Mas eu sinto como se não importasse quantas vezes eu esfregue minha pele, não vou conseguir tirar a sensação dele...- não conseguia falar, mas Sam entendeu. Eu sabia que ela entendia perfeitamente o que eu estava querendo dizer. -Sinto as mãos dele no meu corpo e o sangue dele na minha boca.

Sam ficou em silêncio por um tempo, apenas me olhando com calma. Então, ela se aproximou mais de mim. Aos poucos, esperando para saber se estaria tudo bem. Mas ela era minha irmã; eu não precisava me sentir assim, certo? Não precisava me encolher, não precisava me sentir mal, era apenas a Sam. Era apenas ela, e tudo bem, estava tudo bem, ela era minha família, era aceitável. Estava tudo bem, está tudo bem.

Ela se sentou bem próxima de mim e esticou a mão, tocando delicadamente meu cabelo, o colocando atrás da minha orelha, tomando cuidado para não me tocar demais. Apenas fechei os olhos, mordendo minha boca, tentando me concentrar em qualquer coisa. Tentando não surtar. Mas era difícil; era difícil para caralho.

-Não vou dizer que isso é fácil, Aiko. Nós duas sabemos que não é. É uma merda do caralho, uma merda do caralho que você tenha passado por isso, de novo, e eu odeio. Se eu pudesse, tiraria toda essa sua dor. - ela disse e eu pisquei para afastar minhas lágrimas. -Mas você vai sobreviver. E sabe como eu sei disso?

Apenas olhei para Sam e ela deu um sorriso suave para mim, apertando minha mão na dela com carinho.

-Sei disso porque você está sempre lutando, Aiko. Até mesmo quando pensa em desistir, você continua lutando.- ela disse. -Não importa o tamanho do trauma, você vai sobreviver. E você não tá sozinha, Aiko. Você nunca mais vai estar sozinha, você nunca mais vai passar por isso tudo sozinha. Porque eu jamais, jamais, vou dar as costas pra você. Eu te amo. E eu não vou te deixar, nem mesmo quando você quiser desistir, nem mesmo quando você não enxergar mais a luz no fim do túnel. Vou estar sempre aqui, com você.

Eu apenas chorei e soluçei, encostando a testa na de Sam e fechando os olhos com força.

-Obrigada por existir, Sam Dean. - eu disse num sussurro. E sabia que aquilo já dizia mais que mil palavras.

 E sabia que aquilo já dizia mais que mil palavras

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Fate • Tokyo RevengersOnde histórias criam vida. Descubra agora