Noite branca

19. Imprinting

– Os lobos são animais que possuem um amor em toda a sua vida e, assim como a forma e a organização em matilhas, – a voz de Billy era profunda, como se a história se contasse sozinha e ele fosse um mero instrumento para que ela fosse verbalizada – também temos apenas uma companheira que levaremos para a vida. O imprinting é a nossa forma de sabermos quem será a pessoa escolhida...
– Até então eram apenas humanas que eram escolhidas, – a voz de Sam, por mais baixa que fosse, era audível, principalmente para mim – não criaturas antinaturais que sequer deveriam existir
– Disse o cara que vira um lobo gigante quando perde a paciência – alfinetei encarando-o com o semblante sombrio
– Pelo menos eu não me transformei no que sou por uma perversão da ordem natural da vida – rosnou ele
– Minha espécie é tão antiga quanto a sua. Provavelmente até mais. – falei, a voz baixa e ameaçadora. Abri um leve sorriso de lado e completei – E não se esqueça que, se não fossem os vampiros, sua preciosa forma animal jamais se manifestaria e vocês não seriam o que são. Tampouco teriam o imprinting
– Para todo veneno existe a cura – falou
– Concordo. – respondi e ofereci-lhe um sorriso sutil – Por isso mesmo é tão fácil matá-los

   Sam se levantou e eu fiz o mesmo. Não me interessava a notável diferença de altura entre nós dois, sabíamos que eu era mais forte. Ele me encarava com fúria nos olhos, mas nos meus, em contrapartida, havia apenas indiferença e deboche

– Tenho pena de Jacob por ter ficado preso a você. – cuspiu. Minha expressão permaneceu inalterada – Um monstro incapaz de lhe dar filhos e que, provavelmente poderá matá-lo caso esqueça-se de se alimentar
– Isso não é da sua conta, Sam. – ralhou Jake – E eu não sabia que ter um descendente forte era algo tão mais importante para você, do que apenas ter Emily ao seu lado pelo resto de sua existência. – Sam titubeou. Jake atingiu um ponto fraco. Mas, mesmo assim, ele respondeu: 
– Pelo menos, eu sei que Emily não é um monstro que matou a própria mãe ao nascer – ele me encarou com escárnio e meu temperamento veio à tona, mais terrível do que em qualquer outra vez que me desentendi com um dos lobos
– Isso é fácil de se resolver. – falei e sabia que minha expressão tornara-se predatória, pois uma sombra de medo atravessou os olhos negros de Sam – Posso morder Emily e aí veremos se ainda achará que minha espécie é composta de monstros. Ou irá largá-la e escolher outra para sua companheira, ignorando a ligação existente entre vocês? Seu imprinting e seu amor são mais fortes que a transformação de sua amada?
– Você não tem veneno – disse, mas eu percebi o tom de dúvida em suas palavras
– Não tenho? – ergui a sobrancelha – Estaria disposto a arriscar?
– Isso é uma ameaça? – rosnou
– É um aviso. – falei e senti a mão de Jake em meu punho quando fiz menção de dar um passo na direção do segundo alfa. Afastei o braço, soltando-me do aperto de Jacob, apenas para que a mão de Seth se fechasse em meu antebraço, mantendo-me no lugar – Não me provoque, Sam Uley. – adverti – Tampouco ameace a mim ou àqueles que me são caros. Posso ser parte humana, mas se deixe enganar pelo coração que bate em meu peito e o sangue corrente em minhas veias, sou muito mais próxima dos Frios do que de qualquer humano um dia existirá. Não se esqueça disso

   Percebi Sam começar a tremer e detectei a elevação da temperatura ao redor da fogueira, que nada tinha a ver com as chamas que subiam. Jake se levantou, pronto para pular sobre Sam caso ele viesse me atacar. Em seguida, ambas as matilhas estavam de pé. Billy interrompeu:

– Já chega! – vociferou – Isso é uma reunião do Conselho, tenham respeito
– Ela ameaçou Emily. – disse Sam com a voz elevada e sem tirar os olhos de mim. Ergui a sobrancelha em resposta
– Você a provocou. – disse Billy. Ele virou-se para mim – Mas não tinha o direito de ameaçá-lo. Está aqui como convidada e eu posso retirar-lhe essa cortesia – apenas acenei com a cabeça para o pai de Jake, mostrando que tinha ouvido, mas não tirei os olhos de Sam que ainda não havia parado de tremer. Emily embranquecera diante de minhas palavras, mas não disse nada, apenas pegou a mão de Sam e ali eu vi um anel de noivado. Eu iria pedir desculpas a ela mais tarde, mesmo que estivesse acompanhada de Sam. Ou talvez pedisse Seth para entregar-lhe um bilhete com meu pedido de desculpas, assim evitaria que eu voasse no pescoço de seu noivo afim de esganá-lo
– Venha, Ness. – falou Seth e, depois de trocar um olhar com Jake, deu um leve puxão em meu braço. Eu não me movi de início. Jake, pegou meu punho novamente e, dessa vez, os dois me puxaram para trás, mas, ainda assim, não me movi, pois Sam ainda estava na mesma posição