31. Visão

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Eu mal podia acreditar que mais um ano letivo estava acabando. Apenas mais um e eu ingressaria na faculdade de enfermagem propriamente dita.
Diante daquela prova, porém, comecei a sentir meu cérebro derretendo e contive o impulso de levar a mão às orelhas para descobrir se ele estava escorrendo por ali. Olhei para o relógio. Tinha mais vinte minutos antes de ter que entregar a avaliação. Eu já havia terminado, porém estava conferindo minhas respostas. Pela terceira vez. Deixei a questão que mais me gerou dúvida para o fim e ali estava eu, encarando o enunciado e minha resolução enquanto girava a caneta entre os dedos. Continuei nesta mesma posição pelos próximos minutos e quando me convenci que não tinha outra forma de resolver o problema, fechei a prova e a entreguei ao professor responsável pela aplicação.
Chequei o celular, sem mensagens. Digitei e enviei em nosso grupo que eu já havia saído. Esperei cinco minutos no corredor de minha sala e, como não obtive resposta, sai para o gramado do campus e encontrei um banco à sombra de uma árvore. Mesmo com o sol escondido atrás das nuvens, o dia estava abafado e aquela sombra, com a brisa soprando, estava uma delícia. Aproveitando que ainda tinha algum tempo antes de Seth ou Megan saírem de suas respectivas salas, liguei para minha mãe. Ela atendeu no segundo toque:

Ness, está tudo bem?
Está sim, mamãe
Já terminou a prova?
– Já. Há uns dez minutos
E como foi?
Acho que fui bem. – passei o cabelo por cima do ombro – Uma questão me agarrou, mas as outras estavam tranquilas
Tenho certeza que você foi bem. – sorri, mesmo sabendo que ela não poderia ver – Por quê me ligou?
Se eu estiver atrapalhando alguma coisa, me avise que eu ligo mais tarde. Não é urgente
Não está atrapalhando, queria. Só estranhei sua ligação a esta hora
Fiquei pensando, – fechei os olhos para a brisa que soprava em meu rosto – você e papai já me contaram um pouco da história de vocês, mas foi bem resumido e acho que contaram só que achavam relevante
Realmente só contamos o que achamos que você gostaria de saber. O que era importante para que você entendesse algumas coisas. – mamãe ficou em silêncio por um pequeno instante – Por quê a curiosidade?
Eu e uns amigos estávamos conversando sobre relacionamentos, nossos mesmo. – joguei os fios para trás e me recostei mais no encosto do banco– Mas aí um deles comentou que sua história se parecia com o que os pais haviam contado a respeito de quando se conheceram e eu fiquei curiosa. Como se sentiu quando conheceu papai pela primeira vez? O que fez você se aproximar dele e depois se apaixonar?
Essa história é um pouco longa. – consegui ouvir o sorriso na voz de mamãe – Está com tempo?
Estou, sim. – sorri satisfeita – E você?
Terei uma reunião daqui uma hora e meia. Tenho tempo
Legal! – me deitei no banco

Então, mamãe me conto tudo. Como ela achou que papai a odiou na primeira vez que se viram sem motivo nenhum. Como ele havia parado de ir a aula por algumas semanas. Como eles se aproximaram e depois não conseguiam mais se afastar. Contou-me mais uma vez sobre o problema com James, sobre como papai jurara que não sairia mais de seu lado e pouco depois foi embora. Falou que, naquela ocasião, insistiu para que meu pai permitisse que sua transformação se completasse e que ficara chateada por ele não ter permitido. Hoje, ela era grata por isso. Depois me contou sobre a primeira vez que encontrou os Volturi e a ameaça deles sobre ela ter que se transformar. Disse que, desde aquela época, Aro havia demonstrado um grande interesse na perspectiva de tê-la como vampira. Contou sobre a vingança da parceira de James, Victoria e seu exército de recém criados e como, devido à ajuda dos lobos e uma armadilha plantada com o sangue dela foram cruciais para a vitória. Como nossa família quase teve um outro membro com a jovem vampira Bree Tanner, mas que Jane, Alec e mais dois guardas, Dimitri e Felix, não aceitaram a benevolência de minha família e a mataram. Então contou sobre o pedido de casamento, que era a única "imposição" de meu pai que transformá-la. De início, ficara preocupada por casamentos aos 18 anos serem associados a uma gravidez, mas acabou relevando, pois era mais importante estar com papai do que se fixar nas fofocas que surgiriam. Então, ela me contou sobre o casamento em si e em como estava tão ansiosa com o acontecimento que teve um pesadelo na noite anterior que lhe tirou o sono. Mas, apesar do nervosismo, nunca estivera tão feliz e tão certa de uma escolha que tomara. Por fim, me contou sobre a surpresa que fora minha gravidez. Em como sua alegria foi tamanha que ela estava disposta a arriscar ter uma briga feia com meu pai e os demais membros de nossa família para garantir que chegaria até o parto. Interrompendo-se somente na parte que eu já conhecia, pois havia nascido.

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