9. A aposta

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    A resposta de Jake soou abafada em meus ouvidos e não consegui discernir com clareza as palavras por ele proferidas, pois o ritmo acelerado do coração de Seth detinha toda a minha atenção. O coração de meu amigo batia tão rápido quanto o meu naquele momento, mas começava a se acalmar, então, o que quer que houvesse despertado aquilo, já começava a perder o efeito. Não sei por que, porém esperava que eu tivesse algo a ver com esse descompasso. Percebi que Jacob não havia negado a Seth sua ausência na reunião, ainda que eu não esperasse uma resposta negativa dele. Jake tinha Seth como um irmão caçula e sempre fora muito grato por nossa amizade e pelo fato de ele ter decidido acompanhar, em idade, o meu desenvolvimento, já que o alfa não poderia por já ser adulto quando nasci. Olhei para ele por cima do ombro e disse sorrindo:

– Até mais tarde!
– Não devo demorar muito. – ele sorriu, caminhou os dois passos que nos separavam e beijou o topo de minha cabeça – Cuide bem dela, Seth!
– Não se preocupe. – Seth sorriu e me estendeu o braço – Vamos?
– Vamos! – entrelacei meu braço ao dele

Saímos para a área externa da casa de Jake e os lobos de ambas as matilhas já haviam começado a chegar. O cheiro de todos eles, principalmente daqueles que estavam molhados por estarem nadando no mar, me atingiu em cheio e fiquei tonta por um instante. Além de todos ali saberem quem e o que eu era, no instante que o sol tocou minha pele, ela brilhou como alabastro, muito mais discreto que o diamante que era a pele de minha família ao sol, mas brilhante o suficiente para jamais passar despercebida para qualquer humano. Além disso, não poderia ser interpretado como algo que eu passei na pele, por exemplo, e refletia a luz solar. Para qualquer mortal bem como, e principalmente, para os lobos essa característica me marcava como uma vampira e eles me olharam com desdém, alguns chegaram, inclusive, a rosnar para mim. Silvei para eles em resposta, expondo meus dentes brancos demais e mais afiados que navalha, mesmo com a aparência de um dente comum, mostrando a eles quem era o predador ali. Rapidamente aqueles que tentaram me intimidar, como um dia haviam feito, desviaram o olhar.

– Vejo que seu humor não melhorou. – brincou Seth e parei de lançar um olhar assassino na direção dos metamorfos que se aproximavam me encarando
– Depois de uma xícara de café, meu humor sempre melhora, – sorri para ele – mesmo que alguém tenha resolvido me acordar mais cedo para, absolutamente, nada
– Nossa, quem seria ordinário a esse ponto? – Seth estampou uma expressão de espanto
– Não faço a menor ideia – entrei na brincadeira, porém mantive o tom afiado
– Você tem que repensar suas amizades, Ness
– Acredite, – olhei para ele com a sobrancelha erguida – eu estou
– Ótimo! – ele piscou um olho preto para mim e meu estômago deu um nó. Estranho – Pessoas assim não merecem sua amizade
– Não merecem mesmo, não é? – dei-lhe um sorriso de lado – Estou até pensando em começar a ignora-lo
– Faz muito bem. – Seth sorriu travesso para mim e eu fiz o mesmo – Tem o meu apoio

Eu gargalhei. Só Seth para fazer um comentário daqueles. Escutei ele engolir em seco e não entendi o significado daquilo, mas estava rindo tanto que não consegui formular a pergunta. Quando minha crise começou a ceder, eu estava prestes a perguntar o que havia deixado ele nervoso a ponto de engolir em seco, porém já estávamos bastante afastados da casa de Jake e dos ouvidos dos demais lobos, então Seth disse:

– Ignore-os. Eles não valem o seu tempo
– Eles não gostam de mim e, tampouco, eu gosto da grande maioria deles. – balancei a cabeça para afastar o cabelo que caía sobre o meu olho direito e completei – Sou grata pelo que estavam dispostos a fazer por mim, mesmo sabendo que era apenas porque Jake e eu tivemos um imprinting, mas, hoje, sei também que eles não eram obrigados a me prestar auxílio, já que Jacob saiu da matilha e fundou a própria. Por isso, sempre terei uma dívida com os lobos de La Push. Porém, não preciso gostar deles para me sentir agradecida
– Não, – Seth ponderou – não precisa e nem deve. Jake e eu estávamos, sim, dispostos a morrer para protegê-la e a sua família. – meu coração se apertou ao pensar que meu amigo poderia ter sido morto caso uma batalha se desenrolasse – O que foi? – percebi que havia estremecido
– Que bom que não chegou a haver uma luta. Não me perdoaria se alguém que eu amo morresse por minha causa – encostei a cabeça no braço musculoso de Seth enquanto andávamos
– Sim, também sou grato. – Seth passou o braço ao redor de meu ombro – Gosto de nossas cabeças sobre os nossos pescoços
– Eu também! – não consegui conter a risada – Sabia que já me senti intimidada por vocês?
– Por quê? – ele parou de andar para me olhar
– Ah! – dei de ombros – Eu era muito pequena e vocês tão grandes! Eu via apenas garras e presas. O que me acalmou foram meus pais contarem que estavam do nosso lado e eu ver isso com meus próprios olhos
– Ness... – Seth agora estava de frente para mim– Sinto muito se a assustei – ele passou a mão em minha bochecha e meu coração dançou no peito
– Por incrível que pareça, – sorri para ele – você e Jake eram os únicos que não me assustavam. Eu os via como cachorros grandes – meu amigo riu
– Não é incrível. Na verdade, – ele retornou para o meu lado e retomamos a nossa caminhada pela praia – eu sou bem parecido com um cão
– Não diga! – abri a boca em sinal de supresa – Eu nem teria percebido se não tivesse me contado
– Hilária você – Seth revirou os olhos
– Eu sei – sorri de modo presunçoso e ergui o ombro direito
– O que eu quis dizer, antes de ser tão rudemente interrompido, – revirei os olhos para o drama de Seth – é que, se me coçar, eu durmo
– Bom saber. – eu estava às gargalhadas – Agora, quando eu quiser sair às escondidas, já sei o truque que vou usar para dispista-lo – Seth me olhou com a sobrancelha erguida e os lábios torcidos
– Agora não tem mais medo de nós? – perguntou
– Não! Aprendi onde estou na cadeia alimentar e quando algum lobo se esquece disso, como hoje, gosto de lembrá-los – sabia que meu sorriso estava diabólico e os olhos de Seth brilharam ao se fixarem em meu rosto
– E eu gosto de vê-la lembrá-los disso – ele sorriu, também de forma maliciosa e meu sorriso se alargou
– O que acha de andarmos na água um pouco?
– Está bem – ele sorriu

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