Equívoco

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Expresso de Hogwarts, 23 de dezembro, segunda-feira, 8:45 a.m.

Encarei minha expressão frustrada no reflexo da janela pela décima vez desde quando embarquei no expresso. Respirei fundo, contei até dez, depois até cem, e depois até mil. Meus olhos estavam tão inchados e vermelhos, que eu poderia ir e voltar até Londres três vezes de trem que meus pais perceberiam mesmo assim que algo de errado aconteceu. Ou melhor: algo muito errado.

Eu nunca fui uma criança de chorar, e nem quando eu fui para Hogwarts pela primeira vez eu chorei, mesmo quando meus pais com os olhos cheios de lágrimas soltaram meus ombros de um abraço apertado. Eu sempre engoli o choro. Sempre odiei barulho, e de todos os barulhos do mundo, o de choro histérico e o soluço são os que mais me atordoam. Foi uma noite difícil, provavelmente a mais difícil das mais difíceis que já passei aqui. Beatrice e Pansy não perguntaram nada, ao menos tentaram me dizer algo, tudo o que elas fizeram foi juntar nossas camas e se deitarem ao meu lado deixando eu chorar como se ninguém estivesse me ouvindo. No momento eu só sinto as minhas pálpebras pesadas e meu peito devido aos soluços.

– Charl? – Beatrice me chamou apoiada no batente da porta da cabine – Ouviu o que eu disse?

– Não, me desculpe. – respondi com sinceridade e cansaço.

– Perguntei se você quer algum doce, eu estou indo comprar sapos de chocolate. – ela disse pacientemente.

– Não estou com muita vontade na verdade, obrigada. – respondi e ela assentiu indo ao seu destino.

Pansy escorregou no banco para minha frente e me deu um sorriso – um sorriso sem qualquer tipo de pena ou coisas do tipo, um sorriso sincero.

– Eu preciso que você me conte o que houve, Charlie. – ela falou segurando em minhas mãos sem tom de pressão – Eu sei que você não quer falar sobre isso, mas acredite em mim, eu não vou me surpreender com nada do que você me contar, minha família está há muitos anos conectada com os Malfoy para eu me sentir surpresa com algo. Draco é diferente, Charlie, não desista dele.

– Você não sabe o que aconteceu, Pansy. – respondi ríspida – Não é desse modo que as coisas funcionam. O que ele fez só me provou que ele é tão sujo quanto à família dele.

– E o que ele fez? – ela perguntou sem rodeios me fazendo recuar – Se juntou a eles? Aceitou uma missão de Voldemort?

– Como você... – eu ia perguntar, mas fui interrompida.

– Eu não nasci ontem, Charlie. Eu sei como as coisas funcionam dentro das famílias de poder relacionadas a nossa casa. – ela respondeu como se fosse algo comum – O poder é o maior inimigo de quem tem um bom coração, ninguém consegue conciliar os dois por muito tempo.

– E por que você acredita que ele tem um bom coração? – perguntei indignada com sua visão geral de algo tão absurdo.

– Porque eu conheço o Draco. Eu cresci com ele. – ela falou com uma voz bem calma e paciente – E eu já vi isso acontecer antes. Já vi muitos Dracos contradizendo seus princípios pelos princípios de sua família. Draco tem um bom coração, Charlotte e não finja que você não sabe disso. Ele mudou por você. Ele se arriscou mudando por você, não pense que ele fez tudo o que fez porque queria te machucar. Ele sempre soube que teria esse destino. Ele só não sabia que iria se apaixonar em meio a essas condições.

– Você está querendo me fazer acreditar que Draco não teve escolha? – perguntei incrédula e ela respondeu-me com outra pergunta.

– Você seria capaz de se arriscar até a onde pela segurança de sua família?

MisconceptionWhere stories live. Discover now