Solstício

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Você já leu algo sobre solstício? Pois bem, eu não me importo de explicar para aqueles que não se recordam. Solstício é uma palavra da origem latina, onde sistere significa "algo que não se move, algo que não se mexe." Na astronomia tem um monte de palavras complexas demais para definir tal fator, mas é basicamente um acontecimento comum demais, ele marca o início do inverno ou do verão, dependendo do hemisfério no qual você esteja. Hoje é dezembro, vinte e um de dezembro e na China, estão comemorando a passagem do ano, para eles o fim do ano é marcado pelo nosso solstício de inverno. Entre os romanos, na antiguidade, também era um acontecimento muito popular, visto que o período marcava a Saturnália, que homenageava o deus Saturno, e também cultuado pelos mesmos povos, o deus persa Mitra nasceu durante um solstício, e todas as outras divindades ligadas ao Sol eram homenageadas no dia de hoje. Mas além de toda a característica geográfica e história, o solstício de inverno tem uma característica marcante consigo: a duração de sua noite é mais longa que nos outros dias comuns.

Meu nome é Charlotte Ledger, e hoje eu vou contar como foi o meu último solstício de inverno. Ou talvez, a noite mais longa de minha vida.

Dormitório da Sonserina, 22 de dezembro, domingo, 10:00 p.m.

– Charlie... – Beatrice deitou ao meu lado na cama e eu permaneci estática.

Era algo bem comum ultimamente: eu deitada na minha cama encarando o teto e ela – e às vezes Pansy – ao meu lado tentando criar um clima melhor ou mexendo no meu cabelo.

– Charlie, olhe para mim. – ela pediu e eu olhei – Tente sair, daqui a pouco começa a festa de natal do Slughorn que ele tanto queria que você fosse. Vai se divertir, tomar umas garrafinhas de hidromel e voltar para cá um pouco mais risonha.

– Eu não quero, Beatrice. – respondi – Não estou no clima e nem tenho o que fazer naquela festa onde todo mundo estará contando sobre seu status.

– Mas você precisa se divertir um pouco. Se afundar nos estudos e encarar o teto são tudo o que você faz desde... – ela respirou fundo quando eu a encarei chorosa.

– Não tenha medo de falar. – olhei para o teto novamente respirando fundo – Desde quando eu fui humilhada pela pessoa que eu mais quis confiar.

– Você não foi humilhada, Charlie. – Beatrice falou baixinho.

– Ah, sim, eu fui. – falei com calma dando de ombros e rindo pelo nariz – Eu me sinto mais humilhada do que eu um dia achei que me sentiria... Por um garoto. Um garoto, Beatrice! Quando na vida nós imaginamos que eu, Charlotte Ledger, ficaria mal por causa de um garoto? Isso é tão ridículo e inexplicável, chega a ser humilhante.

– Sabe por que você se sente humilhada? – ela perguntou e eu a encarei – Porque não estava nos seus planos. Não estava nos seus planos namorar, confiar em alguém, ter uma rotina com alguém. Não estava nos seus planos se apaixonar, Charlie, e isso é verdade, eu concordo com você: nunca imaginamos que você seria o tipo de pessoa que passaria por isso. Mas quer saber? Qual é o mal disso? Por que isso é tão humilhante para você? Por que tem que existir um tipo de pessoa para se apaixonar? É um sentimento lindo, e não deixa de ser menos lindo só porque o cara não deu valor. A humilhação que você sente, não é por ter se sentido triste com o término apenas, mas sim por achar que gostar e confiar em alguém são algo errado e dependente. Você é a garota mais independente que eu já conheci, Charlotte, mas em nenhum momento isso deve te impedir de gostar de alguém, de amar alguém. E acredite, o dia em que você parar de ver isso como algo humilhante, você será muito mais feliz.

– Você quer dizer que eu não fui feliz até hoje? – perguntei confusa.

– Eu quero dizer que está na hora de você achar que a sua felicidade não pode ser compartilhada com alguém. – ela falou – Vamos, se levante, você tem uma festa para ir.

MisconceptionWhere stories live. Discover now