5. No canto está ótimo

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Por um instante Shawn considerou deixar Andy no parquinho. Três das mães se ofereceram para tomar conta dela junto com seus filhos.

Por fim ele optou por carregar a filha enquanto acompanhava a ágil professora. A verdade é que não gostava de deixar a filha com estranhos, mesmo mães experientes.

Camila movia-se do outro lado da sala. Para conseguir chegar até onde ela estava Shawn mudou de direção três vezes, como se tentasse apanhar uma borboleta que vai de flor em flor. Os bebês da classe não eram os únicos com suprimento ilimitado de energia.

— Com licença — pediu ele a uma senhora segurando gêmeos, um em cada braço.

Finalmente viu-se frente a frente com a instrutora.

— Sra. Cabello, podemos conversar um instante?

Com os braços lotados de bebês barulhentos, Camila voltou-se para ele. Havia um certo carinho no sorriso que lhe dispensou.

Ela se emocionava com pais que pretendiam estender seus papéis ao máximo. Provavam que existiam bons pais por aí, mesmo que seu pai e Antônio não fossem.

— Com certeza, se me chamar de Camila. Quando me chama de Sra. Cabello, tenho vontade de olhar por cima do ombro para saber se minha mãe está atrás de mim.

Entregou o garoto que estava segurando para a mãe da criança. Assim que ficou livre, Andy atirou-se aos braços dela. Sem perder o embalo, Camila apanhou a menina.

Ele ficou impressionado em ver a facilidade com que sua filha aceitava aquela desconhecida. Reforçava a decisão que tomara pouco tempo antes.

— Isso significa que não é casada?

Ela riu suavemente, negando com um gesto de cabeça. Embora se considerasse uma pessoa calorosa, existiam certos assuntos sobre os quais relutava em falar. E o que acontecera entre ela e Antônio encabeçava essa lista.

— Para meu pai, não — declarou Camila.

Sempre que falava no sargento, vinha a mesma imagem à sua mente. Uma valise aberta. Parecia que tinha passado a infância inteira a mudar de casa, arrumando e desarrumando malas para correr pelo país porque seu pai dedicara a vida ao Exército.

Andy parecia entretida em rearranjar o rosto de Camila. Tomando as mãozinhas que lhe esticavam os lábios, a instrutora beijou os dedos irrequietos. Andrea riu. Erguendo os olhos para o pai, Camila incentivou-o:

— Era isso o que queria me perguntar?

Sabia que não era. Não era o tipo de lugar em que se arriscava a levar uma "cantada".

E Shawn Mendes não dava a impressão de ser do tipo ousado. Mesmo em roupas esporte, ele parecia pronto a iniciar uma reunião de diretoria a qualquer momento. Imaginou o que ele fazia para viver, e se alguma vez perdia a calma.

Shawn percebeu que ela não se distraía com os malabarismos da filha, que no momento escalava acidentes anatômicos. Camila parecia perfeitamente à vontade, e ele admirou-lhe o talento para lidar com crianças.

— Eu... quer dizer, podemos conversar?

— Como assim? Quero dizer, não estamos conversando?

— Eu quis dizer em particular — explicou ele.

O tom era sério. Talvez algo o estivesse incomodando. Não seria o primeiro pai a expor um problema.

Camila olhou na direção de Christopher para ver como ele estava se saindo. O aposento estava cheio de pais, cujo número parecia aumentar a cada aula. Não que se importasse, pois encarava aquilo com certo orgulho profissional.

— Acho que no momento, o melhor que posso fazer é irmos até o canto. A não ser que pretenda esperar até depois da aula.

— No canto está ótimo.

Queria que Camila tivesse tempo para pensar sobre o que ele tinha a dizer. Se esperasse até depois da aula talvez ela ficasse cansada demais e rejeitasse automaticamente a proposta.

Seguiu-a através do aposento, sentindo alguns olhares de mães experientes, como se tivesse a palavra calouro escrita em sua testa. Algumas vezes chegava a sentir-se dessa forma. Mesmo depois de um ano enfrentando as agruras da paternidade.

Camila apoiou-se contra a parede e aguardou.

A visão da intensidade do castanho nos olhos dela fez com que ele perdesse a concentração e se sentisse pouco à vontade. Apanhou Andy para ter o que fazer com as mãos.

Sempre que fazia suas exposições, procurava uma boa frase de abertura. Sabia o valor de capturar a atenção da audiência desde o início. Naquele momento, porém, nada lhe ocorria. Fazendo o melhor possível, foi direto ao assunto:

— Reparei como você tem jeito com crianças...

Ela sorriu. Aonde aquele homem pretendia chegar?

— O trabalho exige que seja assim — respondeu ela, anotando mentalmente que pelo menos três mães precisavam de sua atenção.

— Fiquei imaginando se você seria boa em particular.

Ela voltou a cabeça para ele, espantada.

— Está me passando uma "cantada"?

Shawn, envolto nas próprias dificuldades, demorou um instante para compreender o significado da pergunta.

— Como?

Ela ficara com a impressão de que ele tinha intenções de sair com ela. Não era de se espantar, considerando que a primeira pergunta fora sobre casamento. Agora precisava ter o dobro de cuidado.

— Não, claro que não. Quer dizer, você é muito bonita e tudo, mas... — Shawn interrompeu-se, espantado com sua própria incapacidade de falar. Sorriu, sem jeito. — Não estou me saindo muito bem, não é?

— Senhor Mendes, desculpe, mas não disponho de muito tempo. Podemos ir direto ao assunto?

Amor Por Acaso | Shawmila Onde histórias criam vida. Descubra agora