10. Criativos e flexíveis

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Camila voltou sua atenção para o resto dos alunos. Se não começasse, jamais terminariam na hora certa. Não acreditava em transferir seus problemas para o resto da classe.

Shawn apanhou Andrea do chão e encontrou um lugar vazio.

— Estou vendo que cheguei por último outra vez, Andy — murmurou ele ao ouvido da filha.

Camila sorriu.

— Bem, pessoal, cheguei em cima da hora e quero dizer que sinto muito. Ultimamente parece que as coisas estão acontecendo depressa demais.

Um murmúrio de aprovação elevou-se pelo grupo. Todos já tinham tido problemas parecidos.

Os bebês pareciam ter esse estranho efeito sobre o relógio.

Os rostos familiares em frente a ela exibiam simpatia e conforto, o que ajudava a deixar de lado seus problemas para dar a segurança aos alunos, que desejavam aprender jogos criativos e educativos com seus filhos.

Na maioria estavam ali porque amavam os filhos. Dava a eles um certo sentido de união. Uma união especial. Ninguém sabia melhor do que ela a importância do amor dos pais. Ou como crescer sem ele.

— Muito bem, pessoal! Vamos começar.

Shawn reparou que Andrea parecia preocupada.

Estava acostumado aos seus sinais. De manhã, o olhar que sua filha lhe dirigira enquanto se barbeava quase provocou um corte com o aparelho. Estivera absorto na tarefa de encontrar uma babá ideal para ela, ou pelo menos uma com bastante energia.

Não podia deixar de imaginar qual seria o problema de Camila e se havia alguma forma de ajudarem um ao outro. Se ele fizesse algo por ela, talvez ela concordasse...

Começava a pensar como um homem desesperado.

— Como um homem pode se sentir desesperado com uma garota como você em sua vida?

Andy optou por ignorá-lo, de tão entretida que estava em roer o próprio dedão do pé. Rindo, Shawn dirigiu sua atenção para a tarefa que tinha pela frente.

O entusiasmo genuíno dela era contagioso. Todos lhe disputavam a atenção. Sentados no chão, a maior parte com os filhos entre as pernas, tentando colocar os pequeninos para realizar o exercício que ela explicava.

Camila estava determinada a falar com cada um pelo menos uma vez no decorrer da aula. Parou ao lado de uma mãe, cujo filho, gritando em protesto, tentava escapar rumo à liberdade.

Parecia engraçado, mas ela sabia como podia ser frustrante.

— Experimente fazer assim — disse Camila, demonstrando na criança os movimentos corretos. — Agora você.

Hesitante, a jovem mãe imitou os gestos, sorrindo pouco a pouco quando seu filho demonstrou a alegria de fazer o exercício.

— Isso mesmo. Divirta-se com ele. E para isso que estão aqui. Para se divertirem com seus filhos.

Outra mãe chamou a atenção de Camila.

— Está certo assim?

— Contando que nem vocês nem os bebês deem um nó no corpo, está ótimo — disse Camila para todos, enquanto observava a mulher realizando o exercício. — É isso mesmo. Criatividade. Sejam criativos e flexíveis. Não é tanto a perfeição dos movimentos, e sim o exercício sadio para seus filhos.

— Quando a gente deve parar?

— Até se cansarem da brincadeira, ou não aguentarem mais. Os bebês estão cheios de energia e é preciso usar essa energia de uma forma positiva. Deixem que eles se cansem naturalmente, em vez de ficarem imóveis na frente da televisão.

— Você não aprova a televisão? — indagou Shawn, surpreso.

Camila voltou-se em sua direção. Não conseguia imaginá-lo colocando a filha em frente a um aparelho de televisão. Ele parecia atento às necessidades de Andrea.

— Aprovo sim, mas não como babá permanente.

Aquela fora a solução de sua mãe e ela aderira de bom grado. Tanto que depois de crescer em sua existência nômade, existiram momentos em que a televisão parecera a única amiga que possuía. A única referência que não se alterava em sua vida.

Fora necessário um bocado de força de vontade e determinação para quebrar o vício e parar de esconder-se num mundo de faz-de-conta. Queria certificar-se de não repetir o mesmo erro com seus filhos.

— Muitos pais deixam os filhos em frente à televisão como se fossem plantas. Cinco anos mais tarde ficam surpresos ao descobrir que o filho ou filha transformou-se em viciado na tela e não quer fazer exercícios.

No instante em que Camila começou a ajoelhar-se, Andrea passou entre suas pernas. Foi apanhada exatamente antes de colidir com outro bebê.

A professora abraçou a menina para tranquilizá-la e apontou-a na direção do pai.

Shawn recebeu a filha, admirado com a rapidez da reação da professora. Ele mesmo tinha medo de deixar que Andy fizesse explorações por conta própria. Talvez estivesse sendo cauteloso demais. Desejava que existisse alguém para ajudá-lo com esses problemas simples.

Amor Por Acaso | Shawmila Onde histórias criam vida. Descubra agora