13. Ela não faz mais nada nesse mundo

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As coisas não se encaixaram tão bem assim. Não para a mente dele. Mas seria esperar demais.

— Está tentando dizer que vai aceitar minha oferta?

Enquanto falava, Shawn sentiu como se um peso tivesse sido retirado de sua cabeça. Não precisaria mais passar horas tentando encontrar a pessoa certa para cuidar de sua filha.

Teria beijado Camila, de puro contentamento, se não tivesse se controlado no último instante.

"Engraçado como as coisas nunca acontecem da forma como planejamos", pensou ela. Tinha o resto do ano perfeitamente programado e agendado. De repente caiu uma chave de fenda chamada Jeremy nas engrenagens do mecanismo perfeito de seus planos. Mesmo assim, as coisas poderiam ser piores. Mendes parecia ter entrado em sua vida no momento oportuno.

Sorriu quando viu a expressão de incredulidade nos olhos dele. Parecia um homem que tivesse acabado de conferir um bilhete premiado, sem coragem para olhar outra vez.

— É exatamente o que estou dizendo.

Depois do alívio, veio o olhar de curiosidade.

— O que a fez mudar de ideia?

Camila terminou seu milk-shake e deu de ombros.

— Certas circunstâncias mudaram desde que conversamos pela última vez.

— Que tipo de circunstâncias?

Apesar de cordial, Camila não gostava de partilhar detalhes de sua vida particular com as pessoas. Acreditava que esse aspecto da sua personalidade ela adquirira com o Sargento. Pensando bem, entretanto, achou que aquele homem tinha o direito de saber sobre a pessoa que iria tomar conta da filha.

— De repente fiquei sem ter onde morar. Jeremy vai voltar.

— Jeremy?

Seria um ex-marido? Um amante? Ele não a imaginava como alguém que tivesse um amante, mas, por outro lado, alguém fascinante como ela teria. Camila Cabello não parecia o tipo de mulher que ficava disponível muito tempo.

— Não é o que você está pensando. Jeremy é o amigo de um amigo que foi para Nova York trabalhar numa peça alternativa fora da Broadway.

— Fora da Broadway? — Shawn sorriu, imaginando que o termo poderia significar praticamente qualquer lugar do mundo.

— Fora da Broadway. E como Jeremy diz. Provavelmente deve ser no Brooklyn — esclareceu ela. — O fato é que ele não podia continuar pagando o apartamento aqui e ainda dividir um em Nova York. Então ele me ofereceu pelo mesmo aluguel enquanto ficasse por lá. Acontece que eu só o esperava depois do final do ano. Na verdade, ele pretendia ficar dois anos.

Shawn sorriu.

— Parece que para ele o sonho durou pouco — continuou ela. — A temporada da peça terminou ontem. Como Jeremy não tem nenhuma outra perspectiva, volta para casa. Deve chegar no final de semana. Isso significa que preciso mudar até lá.

— Não pode dividir despesas com ele?

Camila riu. Obviamente ele não conhecia Jeremy.

— Despesas, sim. O espaço, não. Ele tem as mãos ativas demais.

— E o que isso tem a ver com nosso assunto? — quis saber Shawn, sem entender.

— Jeremy não é do tipo com que se pode conviver. Não iria parar de tentar alguma coisa comigo. Pode acreditar. Mais do que ninguém eu gostaria de conservar esse apartamento. Só que não existe a menor possibilidade de dividir o espaço com ele.

— A área do apartamento é boa?

— A área é boa, mas o principal é que fica perto da faculdade. Praticamente saio pela porta e vou para a classe.

— Bem, acho que não posso oferecer tanta conveniência, mas ainda assim moro perto da faculdade. Moro no condomínio Cedarwood. Minha casa fica de frente para o lago.

Ela passara por Cedarwood varias vezes para chegar à loja de livros. A associação local fazia questão de que as casas permanecessem como novas. O resultado era um belo condomínio, agradável à vista. Seria um bom lugar para Christopher morar.

Porém alguma coisa não se encaixava.

— Não me lembro de ter visto dependências separadas nessas casas.

— Eu reformei e coloquei mais um quarto acima da garagem, e outro atrás, com uma pequena passarela — explicou ele. — Como o terreno tinha um formato diferente, pude fazer tudo.

Ainda planejava construir um local para Andy brincar em um ano ou dois, sem contratar ninguém.

— E por que você mandou construir dependências separadas? —  indagou ela.

Como tinham terminado de comer, Shawn ergueu-se e esvaziou a bandeja no receptáculo apropriado atrás dele.

— Originalmente era para ser outra coisa. Um espaço para arte.

Os dois aprontaram-se para sair e apanharam os bebês.

— Que tipo de arte?

— Pintura. O ateliê, como minha esposa chamava — disse ele, abrindo a porta para que ela passasse.

— Ela não pinta mais? — quis saber Camila, percebendo que devia ter ficado quieta.

— Ela não faz mais nada nesse mundo — respondeu ele, olhando para Andrea enquanto a acomodava no assento do carro.

Não havia nenhum traço de emoção na voz dele. Estava exausto naquele momento, incapaz de lidar com o assunto de forma desgastante. Continuou como se não falasse sobre si mesmo:

— Minha esposa morreu quando deu à luz Andy. Teve complicações no parto. Começou a ter uma hemorragia e antes que pudessem estancar ela entrou em choque. Depois teve parada cardíaca. Me disseram que esses casos são muito raros — concluiu ele, encarando-a. — Acontece tudo muito rápido.

— Shawn, me desculpe — disse, tocando-o, num gesto de conforto. — Eu estava apenas curiosa sobre o ateliê.

— Tudo bem, você não sabia. De qualquer forma, foi bom ter construído o ateliê. É perfeito para uma baba. Assim, mantemos nossas vidas particulares e você fica disponível quando eu precisar de você... quer dizer... quando Andy precisar de você.

Amor Por Acaso | Shawmila Onde histórias criam vida. Descubra agora