33. Você está linda

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— Pirata? — disse ele, olhando para a caixa aberta no sofá. — Quer que eu vá fantasiado de pirata?

Precisara ir ao trabalho por meio período naquele dia. Meio período que se tornara mais longo do que um período inteiro. Estava pronto a esquecer o assunto da festa quando chegou em casa, porém Camila estava tão animada que nem teve coragem de mencionar essa hipótese.

— Não é uma fantasia de pirata. Você não olhou direito — ralhou Camila. — É de cigano. Príncipe dos Ciganos, se quer saber.

Como se o nome alterasse as cores e o corte da fantasia, pensou ele, examinando o conteúdo da caixa.

— Não está querendo que eu use uma coroa, ou algo parecido, está?

— Só se você quiser. — Ela riu.

— Eu nem ao menos quero ir a essa festa — respondeu ele, erguendo a camisa, cujas mangas eram grandes o suficiente para esconder a filha no interior. — Não vejo porque...

Shawn parou de falar quando ela entrou no aposento. Parecia mesmo uma cigana. Uma rainha cigana. Os quadris estavam adornados por uma saia com panos multicoloridos e a blusa branca deixava os ombros arredondados de fora. O conjunto era uma verdadeira tentação.

— Você não vê porque... — disse ela, divertida com o efeito que provocara.

— Não sei o que ia dizer... esqueci — admitiu ele.

Caminhou ao redor dela lentamente, absorvendo os olhos com a visão de Camila. Uma miríade de pulseiras e braceletes metálicos tilintava ao redor dos pulsos a qualquer movimento, combinando com os sininhos no tornozelo direito.

— Você está linda — balbuciou ele.

Camila corou de prazer com o elogio. Os olhos assumiram ares misteriosos e o indicador de uma das mãos coçou a palma da outra.

— Dá uma moeda de ouro para a cigana, e ela lê seu destino.

Ele já sabia o que o futuro reservava para ele. Se tivesse coragem, claro.

— É melhor eu colocar minha fantasia — murmurou ele, apanhando a caixa.

— E eu vou colocar as crianças na cama.

— Acho que todos vão gostar da sua roupa. Eu, pelo menos, adorei.

— Vá se vestir logo, senão a gente vai chegar atrasado.

— Seria uma pena, não seria? — comentou Shawn, saindo.

...

Rex jogara todas as suas cartadas. Chegara a contratar manobristas uniformizados para a festa. Os profissionais atendiam eficientemente a todos os carros que chegavam.

— Quantas pessoas vêm à essa festa? — resmungou Shawn, saindo do carro quando um dos empregados lhe abriu a porta.

Entregou as chaves para o homem e juntou-se a Camila, que era admirada pelo outro manobrista. Não se podia culpar o homem, pensou. Tomou o braço dela e encaminharam-se para a entrada.

— Ainda não estou entendendo. Como você conseguiu que Karen ficasse com as crianças?

— O mérito não foi meu — protestou Camila. — A ideia foi inteiramente dela. Eu pretendia chamar Jane para ficar com eles, e tudo o que fiz foi mencionar o assunto quando ela ligou à tarde. O resto veio sozinho.

Ele jamais imaginaria que a mãe ficasse com dois bebês num sábado à noite.

— Não é problema meu. Vou começar a procurar alguma semente alienígena no porão da casa dela. Aquela mulher que foi até minha casa não era Karen. E ainda se ofereceu para tomar conta da neta. Não é possível!

A diferença que vinha notando ultimamente parecia ter tomado conta da mãe. Tornando-a mais humana, como se tivesse percebido de repente que deixara passar muita coisa durante todos aqueles anos. Que outra explicação existia para aquele interesse súbito em sua vida?

— Não existem porões no sul da Califórnia — observou Camila.

— Isso só mostra como esses alienígenas são cheios de truques — disse ele, tocando a campainha.

Ao realizar esse gesto seu braço roçou os seios macios de Camila. O contato foi eletrizante, acendendo uma centelha de desejo em ambos. Tornaram-se conscientes da proximidade dos corpos.

— Desculpe.

— Tudo bem, não foi intencional — disse ela.

Um Robin Hood um tanto obeso abriu a porta, encerrando o assunto. Rex ergueu a máscara verde para enxergar melhor. Reconheceu Shawn imediatamente, embora o esperasse num terno convencional.

— Shawn?

Se o rosto de Rex sorrisse um pouco mais corria o risco de dividir-se ao meio. Música, risos e conversas elevaram-se do salão por trás dele.

— Sou eu, sim. Não precisa rir.

Mas o patrão já voltava sua atenção para a cigana que o acompanhava, beijando-lhe a mão de acordo com o costume de sua época.

— Essa é?

— Camila. Camila Cabello, Rex Wellington — apresentou Shawn, passando o braço pelos ombros dela, num gesto possessivo. — Sócio da Bytes & Pieces. Ex-amigo.

— Ouvi falar muito de você — disse ela, sorrindo.

— Pois eu não ouvi absolutamente nada a seu respeito, o que nos deixa em desigualdade — respondeu Rex. — De onde veio essa criatura maravilhosa, Shawn?

— Sou a babá — explicou ela com simplicidade.

—  Myra, precisamos arrumar um filho ou dois! Venha até aqui.

Camila riu.

— Não encoraje esse homem — alertou Shawn. — Segure seu charme, porque Myra é uma mulher muito ciumenta, embora o marido nunca dê motivo.

— Venha, vou apresentar você aos outros convidados.

— Eu já conheço todos — protestou Shawn.

— Eu não estava falando com você — afirmou Rex, oferecendo o braço a Camila. — Então, há quanto tempo é babá?

Amor Por Acaso | Shawmila Onde histórias criam vida. Descubra agora