Capítulo 1

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Buzinas. O som alto quase ensurdecedor era tudo que eu ouvia até finalmente fechar a porta atrás de mim. O vidro de alguma forma abafava todo aquele caos de Nova York, o que tornava o local propício para uma livraria. Meu corpo se esquentou pela falta do vento gelado do outono e o cheiro forte de café adentrou meus pulmões sendo muito bem recebidos com o roncar do meu estômago.

Jack estava sentado no seu costumeiro lugar atrás do caixa e apenas acenou para mim, voltando a passar os produtos de um cliente. Cruzei o salão principal e abri uma porta estreita que dava até a cozinha, os armários vazios deixavam bem claro que hoje seria apenas eu e Jack para cuidar da livraria apesar do movimento alto. Chloe estava de licença maternidade e não voltaria tão cedo e Morris não era um funcionário comprometido com a empresa de sua família. Sobrando apenas eu e o garoto de cabelos cacheados esvoaçantes para fazer aquela empresa não ir à falência pelos próximos meses.

Bem, eu precisava me preocupar com o desempenho do local. São eles que pagam o meu salário e dependendo da quantidade de vendas feitas no mês, ainda podemos ganhar um extra como recompensa pelo nosso trabalho duro. A Morris&Morris não pagava o melhor salário da cidade, mas era o bastante para pagar a fortuna do meu apartamento de um quarto.

A verdade é que eu não me planejei muito antes de largar tudo para trás e vir cursar literatura na NYU, só tinha duas malas de roupas e quinhentos dólares para dividir uma república com mais outras três garotas, mas de um tempo para cá, tudo ia andando nos trilhos. Eu já estava a poucas semanas da minha formatura e o trabalho na livraria apareceu bem a tempo de eu conseguir juntar dinheiro para arrumar um canto só meu, onde eu poderia escrever as minhas histórias sem que minha escrivaninha fosse quase derrubada pelo sexo violento de Rachel na parede compartilhada de nossos quartos.

Bem a tempo de conseguir me inscrever para a competição de escrita criativa sediada pela universidade esse semestre. Eu estava andando na busca de um bolo de aniversário para o meu namorado Mark, quando dei de cara com um anúncio de aluguel que ficava apenas a algumas quadras do prédio principal onde minhas aulas aconteciam. A dona era uma senhorinha de quase oitenta anos de idade e aquele apartamento era de sua filha que se mudou para a Suíça com o novo marido - e ela acabou gostando muito de mim, pois diminuiu quase duzentos reais do aluguel.

Como eu ia dizendo, tudo seguindo nos trilhos. Até mesmo no meu relacionamento de longa data com Mark Robinson, onde ele vinha falando de algum tempo para cá de começarmos a procurar um lugar para nós dois assim que eu me formasse.

- Morris não apareceu? - perguntei me aproximando do balcão e vendo Jack revirar os olhos me entregando o avental colorido.

- Essas são as vantagens de ter pais ricos. Se eu tivesse nascido com tanto dinheiro, não iriam nem saber em que parte do mundo eu estaria - Jack bufou enquanto enfiava violentamente a nova de cinquenta dólares dentro da gaveta do caixa.

- Acho que preciso concordar com você nesse quesito - suspirei vendo o rapaz apoiar os braços no balcão com uma expressão cansada surgindo em seus olhos escuros.

- Então, - suspirou. - como andam as coisas com o menino de ouro? - eu ri.

Jack havia dado o tal apelido para Mark quando o mesmo apareceu um pouco antes de fecharmos a loja com um imenso buquê de flores e o sorriso mais bonito desse planeta estampado no rosto. Desde então, meu namorado encontra motivos inexistentes e ocasiões mais bobas para vir me ver e comemorar. Temos que comemorar a vida, querida - é o que ele sempre diz ao me ver reclamar pelas surpresas espalhafatosas.

- Ele comentou sobre encontrarmos um apartamento para nós quando eu me formar - sorri abobalhada e meu amigo soltou um grito estridente chamando atenção de alguns dos poucos clientes.

E SE NOVA YORK FOR TÃO DISTANTE DE NÓSOnde histórias criam vida. Descubra agora