Minha irmã acabara de me entregar uma xícara fumegante, fazendo um sinal com a cabeça para que eu tomasse o conteúdo dentro dela. Assenti, dando o primeiro gole e sentindo o gosto da camomila tocar minha língua. Eu podia sentir meus olhos inchados e os cabelos que antes estavam molhados pela chuva, agora secos e bagunçados. Claire se sentou no sofá de frente para a poltrona onde eu estava. Era estranho estar ali em sua casa, mesmo fazendo anos desde a última visita ao local. Tudo era a cara dela, como se tivesse saído de um desenho da Barbie e com rosa salpicando diferentes tons a cada centímetro da casa.
Ela sorriu bebendo se sua xícara e desviando o olhar para sua filha caçula que brincava no canto da sala. Claire fez questão de me trazer para sua casa, já que a festa foi arruinada pela tia Ruth. Mamãe se encontrava em um estado que apenas o meu pai conseguiria ter uma conversa decente com ela e minha irmã parecia ter se encobrindo de ter como responsabilidade durante a minha estadia na cidade.
- Papai falou que você me defendeu - comentei e ela riu acenando com a cabeça.
- Só eu posso ser malvada com você. É a principal lei dos irmãos - eu sorri desviando o olhar para a garotinha brincando com uma boneca. - Eu nunca imaginei. Achei que ainda namorasse o Marcus - eu neguei suspirando.
- É uma longa história - Claire deu ombros arrumando seus cabelos tão escuros como os meus.
- Acho que temos bastante tempo - deixou a xícara de lado e cruzou os braços na frente do corpo. - Como conheceu essa garota misteriosa? - arqueou as sobrancelhas e eu ri.
- Acho que Marcus foi o principal agente nessa história. Ele namorava nós duas ao mesmo tempo e nenhuma fazia ideia da existência uma da outra. Descobrimos a traição quando fomos a uma festa de uma amiga em comum e ele havia falado que ia viajar - podia ver a confusão no semblante da minha irmã . - Eu chamei ela para tomar um café e talvez descobrir o que aconteceu. Então começamos uma amizade - ri de sua reação.
- Você se apaixonou pela amante do seu namorado? - perguntou alto o bastante para me fazer gargalhar.
- Basicamente - um suspiro engraçado saiu dos lábios dela.
- E como percebeu que estava apaixonada por ela? - perguntou curiosa e eu respirei fundo.
- Sabe, eu nunca me interessei por garotas ou talvez eu nunca me permiti fazer isso, mas com Louise foi diferente. Ela é tão incrível que é difícil encontrar alguém que não goste dela. Acho que a vida apenas me surpreendeu - desviei meu olhar novamente para minha sobrinha tão alheia a conversa que acontecia.
- Vocês planejam ter uma família? Você sempre disse que odiava casamentos - eu ri sentindo borboletas se formarem em meu estômago.
- Acho que sim. Louise quer muito ser mãe e acho que eu faria esse esforço por ela. Acho que realmente quero passar uma vida com ela, Claire - minha irmã sorriu.
- Nina? Você tem visita - meu cunhado avisou surgindo na sala com alguém em seu encalço.
Os cabelos loiros surgiram na porta. Usando um casaco de frio e um de meus cachecóis enrolados em seu pescoço. Louise sorriu, com as bochechas levemente coradas e os olhos tão azuis me fitando docemente. Meu coração acelerou e eu mal percebi que levantei. Meus braços envolveram seus ombros fortemente enquanto seu cheiro tomava todo o espaço de meus pulmões. Ela me apertou contra si, suspirando pesadamente enquanto beijava meus cabelos.
Me lembrei do dia do parque, quando ela perguntou sobre alguém ser o lar de outra pessoa e com todas as palavras, ela era o meu e só de estar ao meu lado já era o bastante para me sentir em casa.
- Claire, essa é a minha namorada Louise - exclamei assim que a soltei e minha irmã se levantou.
- Bem-vinda a família, Louise - minha irmã a puxou para um abraço chocando não só a mim, mas a seu marido também.
***
Eu havia terminado de colocar minha última mala no carro que o pai de Louise emprestou para ela vir me buscar. Meu pai me ajudava a ajeitar todas no porta-malas para que tivesse espaço o suficiente para colocar mais alguma outra coisa. Ele sorriu me puxando pelos ombros e nós fitamos Louise que conversava com Claire.
- Eu falei que ela era bonita - comentei fazendo ele rir.
- Ela parece gostar muito de você - falou quando a loira se virou na nossa direção e sorriu acenando. - E você dela - eu acenei de volta.
- Eu gosto. Muito - sussurrei.
Dei um último abraço em meu pai e virei para minha mãe que permanecia parada na porta da casa nos fitando seriamente. Dei apenas um meio sorriso e entrei no carro com Louise logo após. A loira sorriu ligando a ignição e fazendo o rádio tocar uma música qualquer.
- Preparada? A distância vai ser longa - anunciou e eu ri assentindo.
- Nenhuma distância é longa o bastante. Não quando eu já estou em casa - a olhei sentindo meu rosto queimar. Ela sorriu, tão abertamente que parecia carregar a felicidade de um mundo inteiro dentro de si e talvez carregava.
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E SE NOVA YORK FOR TÃO DISTANTE DE NÓS
RomanceNina finalmente segui vivendo sua vida como sempre planejou. Um namoro estável, um bom emprego e o apartamento de seus sonhos foram o pontapé inicial para que toda aquela perfeição fosse jogada pelo ralo. Após uma noite onde deveria ser apenas uma...