E SE NOVA YORK FOR TÃO DISTANTE DE NÓS

Capítulo 11

Eu mal sentia minhas pernas quando finalmente me deitei na minha cama antiga da casa dos meus pais. Apesar de visitá-los todo ano, sempre parecia estranho ter que voltar. Meu quarto era tão diferente do da minha irmã. O dela era totalmente tomado por rosa e pôster de artistas pop. O meu repleto de livros velhos e empoeirados, paredes repletas de rabiscos feitos com caneta para quadro negro. Minha cama de solteiro com cobertas de tons neutros e algumas bugigangas sem nexo que eu costumava colecionar. Era como estar no quarto de outra pessoa e não de uma antiga eu. Será que eu havia mudado tanto assim?

Puxei meu celular do bolso e comecei a digitar. Avisei para Louise que já estava em casa e a viagem tinha sido tranquila. Eu saí de casa ontem a noite e cheguei apenas hoje pelo começo da tarde. Já era natal e por isso, a casa inteira cheirava a biscoitos e bolo. O bolo de morangos que era a sobremesa de todos os anos, feita pela minha querida avó e adorada por toda a família. Eu queria ir cumprimentar todos, mas o cansaço era tanto que mal percebi que adormeci sobre o celular e de sapatos calçados nos pés.

Acordei com minha mãe me sacudindo. Avisando que todos estavam para chegar e que eu deveria me arrumar. Tomei um longo banho e me vesti. Um vestido azul com pequenos detalhes em brilho. O vestido era de Louise e mesmo sendo uma peça incrível, não ficava tão bem em mim como ficava nela, a deixava belíssima. O cheiro do seu perfume ainda estava sobre o tecido e fazia meus pelos se arrepiarem sem que eu ao menos percebesse. O maldito efeito dela sobre mim.

Me reuni com o resto da família na sala. Escutei de relance minha mãe e minha tia discutindo na cozinha. Vovó revirava os olhos e o marido de minha tia fingia que nada acontecia, ainda constrangido assim como sua filha. Minha irmã chamava a atenção de Peter, que era o mais velho dos dois filhos e Jennie agarrava seu pescoço com as pequenas mãozinhas de bebê. Papai permanecia em sua costumeira poltrona assistindo algo na televisão. Parecia que nada havia mudado, que eu continuava com os meus quinze anos em um dia de natal qualquer.

Ouvi mamãe soltar a travessa de vidro sobre a mesa, rachando as beiradas e fazendo todos ficarem em silêncio. Ela se virou para minha tia com olhos fumegantes e bateu com as mãos sobre a roupa tirando alguma poeira não aparente.

- Ruth! Eu não preciso do seu perdão. Eu não preciso de nada que envolva você - se exaltou travando os dentes fortemente, minha tia riu. Gargalhou da forma mais irônica que só ela sabia fazer.

- Você certamente precisou. Algo como o meu marido por exemplo - cuspiu as palavras com um sorriso no rosto.

O rosto de minha mãe tomou uma coloração avermelhada. Um vermelho sangue mostrando o ódio que surgia em suas veias. Minha avó se levantou tocando o ombro de minha tia, mas a mulher apenas se afastou querendo acabar com aquela noite de vez, e ela acabou.

- Ora sua... - minha mãe avançou contra a irmã, mas foi segurada pelo genro.

- Acho que estamos em um momento propício para mostrar o quão condenada essa família é - Minha tia exclamou me olhando de rabo de olho. Senti meu interior estremecer. Ela não vai fazer isso. - A mãe sendo a adúltera que é. Não seria mais do que correto ter uma filha igualmente pecadora.

- Lave a sua boca antes de falar de algum dos meus filhos - meu pai se exaltou, impressionado todos naquele cômodo.

Eu já sentia minha cabeça girando. Eu não tinha forças para pronunciar nenhum som dos meus lábios. Me apoiei no braço do sofá pelas pernas bambas.

- A querida Nina e eu nos encontramos por acaso na minha viagem a Nova York. Foi naquele restaurante italiano caríssimo, que sinceramente eu não sei como teve dinheiro para pagar - me fitou mordendo sua própria língua me analisando. Meus batimentos se chocavam fortemente contra minhas costelas em desespero. - Pelo visto, a educação que recebeu em casa foi tão boa que ao menos me apresentou sua amiga. Não, não. Sua namorada, certo? Qual o nome dela mesmo? - por um momento eu pensei que havia tido uma queda de pressão pela leveza que meus músculos.