Capítulo 7 - Quem é Mihai

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Cinco carros de luxo que vieram por túneis secretos submersos no mar, estacionaram em frente a casa de Yuhan uma hora depois que ele informou o ocorrido ao Supervisor pelo telefone. Os seres que saíam daqueles carros exibiam uma poderosa aura em torno de seus corpos. Não eram simples almas comuns que trabalhavam nos reinos. Eles eram do tipo que nunca poderiam ter um corpo físico devido à alta frequência que suas energias vibram. Um corpo físico não suporta aquela vibração. Eles são almas superiores e aquela equipe de soldados em específico era conhecida como os Dutah. Eles sempre aparecem quando existe o risco de colapso no mundo espiritual ou quando havia algum ser que se revelasse contra Jedan, o Supremo.

— Yuhan, você tem certeza de tudo que me falou? – Perguntava o Supervisor ao subordinado dentro da casa, em uma visita informal.

— Infelizmente sim, Elrik. Eu vi a... Coisa da qual Yuná mencionou. Eu o flagrei faltando segundos para ele avançar sobre a pobre alma. – Respondeu enquanto olhava de relance para a janela de sua casa.

— Essa alma. Está com você? – Perguntou o Supervisor ao perceber Yuhan ansioso.

Com um suspiro o atravessador afirmou que sim ao seu chefe.

— Mihai está aqui como chefe dos Dutah. Ele precisa conversar com essa alma sobrevivente.

— Amm... Tem certeza senhor? Ela está fraca e não saiu do estado de pânico ainda. – Yuhan tentou justificar por medo de descobrirem que aquela alma não pertencia àquele lugar.

Uma poderosa presença entrou na sala daquela casa, sozinho se aproximou e ficou encarando o residente e o supervisor. Vestia um terno prata e o longo cabelo platinado caía por seus ombros. Seu rosto era marcado por traços firmes e sua pele clara reluzia com sua aura.

Não ousando ficar no caminho daquele famoso Superior, Yuhan deu passagem para que ele vagasse por sua tradicional casa de dois andares.

Caminhando atrás de seu Supervisor, que por sua vez seguia Mihai indo em direção a um dos quartos no andar de cima; Yuhan viu a brilhante alma se erguer pesadamente de sua cama com as cobertas a cobrindo até seus joelhos, mas não parecia ter medo ou vontade de chorar. Ela quase não brilhava o que aliviou a tensão de Yuhan, pois assim ela poderia ser percebida como mais uma mera alma penada.

Enquanto ela apenas olhava com curiosidade para Mihai, este se sentou na beira de sua cama e sem trocar nenhuma palavra, ergueu a mão tocando a fronte daquela jovem alma.

Alguns minutos se passaram até que finalmente Mihai retirou sua mão e sorriu afetuosamente para a moça que retribuiu com um leve sorriso. Então seu brilho voltou de uma vez e irradiou todo o quarto em tons de azul turquesa e violeta.

Todos ali ficaram impressionados com aquela belíssima visão e após a luz minguar, Mihai finalmente passou a falar soando um tom grave de voz:

— Vou levar ao conhecimento do Supremo sobre esses fatos que ocorreram aqui, Elrik. – Disse ele informalmente se virando ao Supervisor daquele reino. – Esta alma não deveria estar aqui. Portanto assim que a ponte se restaurar ela deverá retornar imediatamente para o Reino temporal, especificamente a rodoviária. – Ele disse olhando para Yuhan, mas sem demonstrar raiva.

— Sim, senhor... Mihai. – Respondeu o Supervisor um tanto desconcertado.

— Claro senhor. – Também respondeu o atravessador em seguida.

— Referente ao que ocorreu com as supostas almas devoradas... Os Dutah irão fechar o perímetro por onde o "ser" se escondeu. Ninguém tem permissão para ir até lá.

Yuhan assentiu novamente.

— Onde está o governador desta cidade? – Perguntou Mihai sério.

— Ele provavelmente está na sauna, senhor! – Confessou Yuhan sentindo vergonha alheia.

Olhando pensativo para Yuná, Mihai saiu do quarto se despedindo dela, que já estava se deitado novamente com ar cansado.

Chegando ao jardim na entrada, ele chamou seus subordinados que o aguardavam do lado de fora e os instruiu acerca do que tinham que fazer. Depois aguardou a saída dos outros dois que ficaram discutindo dentro da casa.

— Elrik, a partir de hoje contate seu "pupilo", o governador, ele terá seis meses humanos para se provar de valor e corrigir seus erros como governante caso contrário eu irei promover Yuhan...

— MIHAI! Você não tem jurisdição para definir as coisas aqui! – Reclamou o Supervisor quebrando o decoro hierárquico entre eles.

— NÃO TENHO? – Ele brandiu a voz. – Olha a bagunça que está isso aqui! Você sabe quanta energia custa para o Reino Eterno ter que reconstruir aquela ponte? As casas e ainda capturar um ser não identificado? Se você acha que dá conta disso aqui então não deveria ter me chamado. – Finalizou Mihai.

— Eu chamei por que um devorador de almas não é algo que acontece todo dia.

— Um devorador, uma alma prestes a nascer... Você sabia daquela moça. Você a seguiu pela rodoviária e ainda assim a deixou entrar naquele ônibus. Por que Elrik? – Mihai retaliou deixando claro que a análise mental feita na moça tinha rendido muitas informações ocultas.

O Supervisor deu um passo para trás como se estivesse tentando se equilibrar. Ele realmente foi pego de surpresa, mas tentou superar o argumento para não ser rebaixado diante de seu funcionário que ali presenciava tudo.

— Eu... Eu quis testar a capacidade do meu funcionário – Mentiu. – Somente isso. E ele não passou no teste pelo visto... – Respondeu o Supervisor olhando firme para Yuhan.

O rapaz, incrédulo, ficou boquiaberto para seu chefe, conteve sua ira pela injustiça ali cometida, mas assumiu sua parte de culpa para Mihai que parecia observar os dois com suspeita.

— Me desculpe senhor. Eu realmente cometi dois erros. Deixei dois seres passarem pela ponte por descuido e agora este reino está em desequilíbrio.

Mihai se aproximou de Yuhan e deu tapinhas em seu ombro:

— Pelo menos o garoto é humilde. – Ele pontuou. – Minha decisão é final, Elrik. Seis meses para seu pupilo entrar na linha. Este aqui está de férias a partir de hoje. Sua energia fraca está atrapalhando seu desempenho no trabalho e isso por que está sobrecarregado de serviço.

— Eu preferia não parar o meu trabalho, senhor. – Retrucou o atravessador um pouco ansioso.

— Então que não tivesse cometido erros. Para se redimir, sua punição será proteger aquela alma até que ela possa retornar ao seu lugar natural. Quanto ao "devorador", nós vamos investigar... E você Elrik... tem o mesmo prazo de seis meses para pôr ordem nessa bagunça ou vai voltar a ser um mero Ceifeiro. Entendido? – Concluiu Mihai impassível.

O Supervisor abaixou a cabeça em sinal de concordância, mas logo se retirou contrariado, sem se despedir dos que estavam ali.

Mihai dispensou os Dutah para que executassem suas ordens e informou que estaria ausente para as investigações. Deixou com Yuhan um aparelho celular exclusivo para que pudessem se comunicar em caso de novos acontecimentos estranhos.

Quando todos se foram, Yuhan se sentou no chão exausto. Estava literalmente afastado de suas funções, o que o fazia sentir ódio, pois detestava ficar sem função. Ele entrou no quarto onde Yuná descansava e se sentou na beirada da cama observando-a dormir e brilhar calorosamente. Ele estava na pior fase da sua existência como empregado do Reino dos Mortos, e ali estava um dos grandes motivos da sua decadência repentina.

Além das Flores - CONCLUÍDO ( 44 de 46)Onde histórias criam vida. Descubra agora