Capítulo 17 - Lições para a vida

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 "É só não tocar em ninguém" – Foi o que Yuhan disse para ela quando quis dar uma volta pelo centro da cidade sozinha enquanto ele entrava nervoso dentro do prédio de administração do reino. Aquele lugar já estava quase remodelado por completo após a confusão.

— Não deve ser difícil manter minhas mãos no bolso né? – Ela disse para si mesma.

Caminhando pelos arredores não muito distantes do prédio, Yuná percebeu como aquele lugar era diferente daquele em que ela permaneceu desde o início da sua existência. Ali não era tão claro quanto o Reino temporal e a luminosidade daquele pálido sol era parecida com a de uma foto que ela viu em algum livro na biblioteca descrita como "fim de tarde na Terra". Apesar de não ser um céu alegre, a paisagem era bonita e lhe trazia um ar de aconchego que ela não sabia explicar. A arquitetura também era muito diferente do que conhecia. Estava acostumada com o campus de sua escola com muitos alojamentos construídos em um mesmo padrão. Ali tinha prédios comerciais, muitos espaços verdes, lojas e casinhas fofas de estilos diferenciados.

Ela observou as almas que caminhavam ali um pouco sem rumo. Algumas entravam nas lojas, outras conversavam entre si e outras apenas admiravam o movimento da cidade, sentadas em bancos aleatórios espalhados pelas calçadas. Ela já havia compreendido que naquela região as almas buscavam por consolo primeiro para depois seguirem seus caminhos procurando por pessoas conhecidas em vida, assim não estariam ali sozinhas.

— Triste é pensar que a vida humana acaba por aqui... – Ela falou baixinho para si.

— Quem disse que acaba aqui? – Era Mihai se materializando ao seu lado com todo o brilho de seu terno prateado e uma beleza indescritível.

— Ah! Oi Senh...

— Yuhan andou te ensinando como tratar um superior não é? – Ele interrompeu. — Mas só Mihai está bom.

— Tudo bem... Mihai. – Ela respondeu sem graça, mas se curvou levemente em reverência. – Então... Não acaba aqui? — Ela prosseguiu.

Ele estendeu seu braço para que ela se apoiasse enquanto caminhavam pela fonte de chafariz que enfeitava uma praça rodeada de pequenas árvores com folhas alaranjadas.

— Claro que não! Senão nossas almas não teriam sentido algum. A vida é mais do que um mundo terreno e um mundo espiritual. Nós fazemos parte de um Todo que se opõe a ausência de vida. Para além da vida humana e os objetivos humanos, nosso propósito é garantir que o Vazio e a ausência de forma nunca mais tenham lugar no universo. – Ele parecia satisfeito em explicar.

— Como assim o Vazio? – Ela apertava o braço dele que lhe parecia quente e agradável ao toque. Mihai apenas sorriu em resposta.

— Antes de nós todos existirmos, existia o Vazio. Ele é o verdadeiro inimigo do Supremo, de tudo e de todos que recebem o fôlego de vida. Não estudou isso na escola? Essa matéria é importante para que em vida humana você não se esqueça do valor que tem como indivíduo nos mundos.

— Mas então, se nosso objetivo principal é esse que você disse... Porque precisamos passar pela humanidade e depois por isso aqui após morrer? — Ela perguntou ignorando o que Mihai mencionou sobre a escola.

— Por que a humanidade serve para polir a alma de vocês. É um aprendizado importante viver na Terra. Lá vocês podem praticar ações boas, mas também podem escolher praticar ações ruins, já que o corpo humano, como carne e matéria, possui necessidades diferentes de quando vocês são somente parte do cosmos e isso cria instintos que podem se manifestar de maneira negativa. Então, em vida você tem a oportunidade de se provar uma alma de valor. Só assim você pode continuar neste mundo espiritual como uma alma evoluída como é o caso das almas justificadas ou daqueles que são como eu. — Observando o interesse de Yuná que continuava a escutar com atenção, ele prosseguiu.

Além das Flores - CONCLUÍDO ( 44 de 46)Onde histórias criam vida. Descubra agora