Capítulo 28 - Olhos de Galáxia

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Yuhan nunca tinha provado do sentimento de estar constrangido. Ele sempre foi muito sério e confiante em tudo que fazia e em todas as decisões que tomava. Não deixava transparecer suas emoções em nenhuma hipótese, pois era isso que o tornava um excelente funcionário no Reino dos mortos. Porém, toda sua barreira de proteção emocional parecia ter ido por "água abaixo". Se pudesse ilustrar como estava se sentindo, ele faria uma pintura abstrata misturando as cores em tons de vermelho, rosa, roxo e azul, quase os mesmos tons da aura de Yuná.

Ao mesmo tempo em que se sentia assim ele também provava de outra sensação: Era como se estivesse cheio e vazio ao mesmo tempo, com frio e calor, feliz e triste, cansado e animado. Ele estava tão confuso que não conseguia mais organizar seus pensamentos. Tudo que lhe vinha à mente era a lembrança dos seus corpos enlaçados, a visão do perfeito rosto de Yuná, da expressão calma, de suas auras reluzindo, do barulho das ondas e do vento sussurrando em seus ouvidos, dos seus olhos projetando o reflexo de bilhões de estrelas... Uma galáxia inteira.

Yuná não estava se sentindo muito diferente de Yuhan.

Na escola ela teve amigos que se tornaram pares e que se prometeram encontrar na vida mortal. Para ela nunca aconteceu, mesmo ela tendo uma aura tão atrativa, as outras almas nunca se interessaram nela desta forma e ela também não se interessou em ninguém, uma vez que foi desprezada na maior parte do tempo enquanto esteve no Reino Temporal.

Durante o beijo ela entendeu por que casais de almas trocavam promessas. A sensação de sentir o toque e a energia do outro podia ser realmente viciante. Ela queria sentir aquilo de novo e de novo e de novo. Aquele momento os uniu como se ela fosse parte dele e vice versa. Era extremamente satisfatório não ser uma unidade solta, solitária no meio do cosmos, mas havia um grande problema martelando em sua mente: E agora? Como encarar a pessoa que estava lhe acolhendo e que iria ajudar em sua partida para o mundo terreno sem sentir uma pontada de tristeza ou de melancolia porque em breve eles nunca mais se encontrariam e provavelmente ela nunca se lembraria dele em vida.

— Aahhh... Que azar... Porque fui me despertar logo por um cara que nem quer nascer? – Ela murmurava consigo sentada em sua cama.

"TOC TOC TOC." – Yuhan batia na porta de leve.

Rapidamente Yuná se encolheu em suas cobertas e fingiu estar dormindo. Então, Yuhan abriu a porta bem devagar e foi entrando sem fazer nenhum ruído.

— Ela ainda está dormindo? – Falou consigo em voz baixinha. – Já faz dias que não conversamos... Quando vai me deixar falar com ela de novo?

Ouvindo o que Yuhan murmurava, Yuná sentiu culpa porque ela não queria terminar seus dias no Reino dos Mortos dessa forma. Ela ainda tinha esperança de que eles pudessem se encarar de novo sem sentir constrangimento. Quem sabe de alguma forma Yuhan decidisse nascer. Se ele fizesse essa escolha era por que havia um real sentimento por ela e não era falso como todas as outras almas com quem conviveu.

Yuhan puxou um banquinho e sentou ao lado da cama. Ficou observando Yuná encolhida em suas cobertas. Seu rosto parecia frio e rígido, como se tivesse tendo um sonho ruim. Seus cabelos estavam bagunçados, mas não deixaram de refletir uma fraca luz prateada dos seus fios brancos. Sua aura continuava empalidecida.

Não resistindo, Yuhan tocou no rosto de Yuná retirando as mechas de cabelo bagunçadas para que ele pudesse ver melhor o rosto dela. Sentiu sua pele etérea com a ponta de seus dedos e acabou acariciando aquele delicado e lindo rosto. Sem aguentar por muito mais tempo, Yuná acabou abrindo os olhos devagar sentindo sua fraca energia palpitar ao encarar Yuhan ali na sua frente tão perto fazendo carinho em sua testa.

— Te acordei? – Ele dizia com olhos culpados, semblante franzido.

— Aah... Sim. – Ela mentiu.

Além das Flores - CONCLUÍDO ( 44 de 46)Onde histórias criam vida. Descubra agora