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A chuva já havia amenizado quando Jeongguk desceu do ônibus, mas o gosto amargo daquela situação ainda estava bastante presente em sua boca.
Ele caminhou os poucos metros do ponto de ônibus até sua casa, sem um dos sapatos, sentindo abaixo das solas dos pés os paralelepípedos irregulares do calçamento. A pasta outrora tão protegida estava molhada, o currículo lá dentro, ensopado.
Jeongguk olhava para baixo ouvindo as crianças da rua correrem de um lado para o outro e pularem nas poças de chuva. Como elas, sempre gostou de brincar na chuva, mas aquele dia em especial estava sendo o mais deprimente de todos, e ele só queria se enfiar debaixo das cobertas e assistir a um filme triste, talvez algum em que um cachorrinho morre para que ele tivesse a desculpa perfeita para se esvair em lágrimas.
Chegou ao portão de casa e não demorou para ver o irmãozinho na janela. Jeongguk respirou fundo e engoliu o bolo que ainda estava em sua garganta, formando um sorriso pouco convincente no rosto molhado, cabelos úmidos escorrendo pela nuca.
— Mano! — Soobin gritou quando Jeongguk adentrou a sala. Ele vinha rápido até o irmão mais velho procurando um abraço acolhedor, mas parou ao ver Jeongguk com as roupas molhadas e franziu o cenho automaticamente em sua curiosidade adoravelmente infantil. — Oh, o que aconteceu com você?
— Eu esqueci o guarda-chuva — disse Jeongguk, pondo-se de joelhos para poder conversar cara a cara com Soobin. — Onde está a mamãe?
— Estou aqui, filho — disse Haesoo da cozinha, esticando o pescoço para encontrar Jeongguk, e quando ela o viu, teve a mesma reação da criança: a de espanto. — Jeongguk, você está ensopado!
Haesoo chegou à sala rapidamente, indo até o filho e passando a mão pelo rosto molhado, tirando os fios de cabelos grudados na pele úmida.
— Eu sempre falo para levar um guarda-chuva ou, não sei, uma capa que seja. — Os olhos dela eram preocupados de maneira maternal, cuidadosos e atentos a qualquer indício de que havia algo errado, e bastou fixar os orbes avermelhados do filho que Haesoo soube: havia algo de muito errado com Jeongguk. — Filho, o que aconteceu?
— N-Nada, eu...
— Mano, seu sapato! — Soobin apontou para o pé descalço de Jeongguk que ele tentava esconder atrás de uma das panturrilhas a todo custo.
Haesoo olhou para onde o caçula apontava, e voltou-se para Jeongguk com espanto.
— Jeongguk, me diga o que aconteceu agora — disse ela e Jeongguk mordeu o lábio inferior, desviando os olhos para todas as direções. Ele deixou que o pé saísse do esconderijo nada eficiente, então disse:
— Eu prendi o pé no bueiro quando estava indo pegar o ônibus. Se eu demorasse mais um pouco, perderia a condução, então deixei a botinha no lá. Sei que esses sapatos são caros, então não se preocupe. Eu vou juntar dinheiro para comprar outro e...
