O circulo de lembranças...

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O cálice de ouro com os fios de cabelos ruivos de Aisha estavam brilhando contra a luz das velas que rodiavam o cômodo. Cada vela se posicionava em uma estante, ou parede ou apenas flutuando pelo toque de magia. No cômodo estava apenas eu, James, Murilo e Bella. Era uma conexão que iríamos fazer. Eu e James por sermos herdeiro das relíquias. Murilo por já ter sido servo de Aisha, e Bella que observou algumas coisas dentro do castelo que poderia nos ajudar a desvendar muitas coisas. Já Roberto, Anne e Scott observavam tudo pela porta, que era de vidro e podiam ver tudo atraves dela.
       A conexão seria iniciada quando os fios de cabelos fossem comidos por mim e James. Bella e Murilo iriam ficar na parte de fora para certificar de que eu e James fossemos voltar ao normal assim que solicitarmos com um feitiço feito para voltar ao corpo. Eles, com suas lembranças também iriam nos ajudam, dando parte de seus cabelos para podermos entender como tudo isso pode ter acontecido. E temia o passado de James que eu poderia ter acesso. E mesmo James ainda não estando com sua magia toda de volta, já era o suficiente para poder se conectar ao que precisávamos, e eu poder me conectar a ele.
  - Prontos ? - Bella, que agora aparentava estar muito bem, nos olhou a espera de nossas afirmações.
      James e eu estávamos sentados em um círculo, que brilhava forte abaixo de nós. Era místico a energia que vinha por debaixo do arco no chão. Era como se algo nos chamasse para fazer alguma magia. James tinha executado esse círculo com a pouca magia que ainda se manifestava nele. Ele teve que tentar varias vezes ate um fio dourado comecar a sair da ponta de sua varinha e comecar a desenhar um circulo abaixo de nosso pes descalços.
  - Vamos - James começou a levantar sua cabeca para pode colocar os fios de cabelo em sua boca, como se estivesse comendo uma massa de espaguete.
      Era nojento ve-lo fazer isso mas era a unica forma de acessar os pensamentos antigos de Aisha. Sem contar que estavamos usando uma magia proibida. Essa magia era apenas usada pelo governo para desmascara todo o mal caracter de suas atitudes. Então, tinhamos pouco tempo para descobri, pelos pensamentos de Aisha, em como tudo isso comecou. Como eu e James estamos ligados. Como tudo parece ter sido planejado, tendo casas onde iriamos nos esconder, pessoas que iriam nos ajudar nisso. Numa missao voce não tem esse tipo de auxilio, é tudo sozinho. Então como sempre tinhamos ajuda ou a onde ir ? Sabia que alguém ja armou toda essa missão antes de eu e James estarmos nela.
  - Nojo ! - Ouço Anne exclamar seu enjoo nos vendo comer cabelo de uma pessoa que quer nos matar.
      Tento ignorar o fato do que já estou fazendo. Era realmente nojento comer aqueles fios de cabelos como se fossem uma refeicao saborosa. Até mesmo lembro em como os cabelos de Susan eram deliciosos e doces. Eram bom come-los, mas tambem não queria deixa-la careca. E isso me destroi. Sinto muito a falta dela e esses cabelos eram a causa de sua morte. Entao comecei a engoli-los no seco. Sentia como se milhares de pontas de agulhas rasgassem minha garganta que pela primeira vez, e depois de muito tempo, eu começo a desejar sangue. Sacudo a cabeca na esperança desses desejos sairem de mim, mas tudo ao meu redor começou a desaparecer, como se estivesse se dissipando. O unico, agora, que via era James que segurou minhas mãos em desespero de me ver sumindo tambem.
      Aos poucos o tom de medo que havia me deixado desconfortavel com tudo sumido, se dessipou da mesma forma que tudo a nossa volta. Agora, estavamos parados de pé, de frente um ao outro, em um corredor com tijolos em verde esmeraldas e um piso revestido de madeira escura. A única iluminação do lugar era das poucas tochas que continuam velas nelas, iluminando o pouco que podiamos ver, até mesmo sendo Hebrais.
  - Eu conheço aqui - James ainda segurava minhas mãos e senti que as dele estavam ficando ainda mais suadas. Tinha algo naquele lugar que James já esteve, ou viveu, que o perturbava. Será que haveria algo no passado de Aisha, ou na criação das reliquias que ele possa ter envolvimento e tenha medo do que eu possa descobrir ?
  - Se esconde - Tento puxar James para corrermos, quando uma figura masculina se aproximava de nós, mas o mesmo me segurou, ainda com as mãos suadas. E ele nem mesmo precisou me explicar. O rapaz que aparentava te 25 anos, passou por nós sem nos perceber, e atravessou nossos corpos como se fossemos fumaças, ou fantasmas.
  - Não fazemos parte dessa época, somos apenas viajantes do tempo agora. Nenhum deles podem nós ver ou nos sentir - Ele agora soltou minhas mãos e senti um vazio me tomar. Como ele podia fazer isso comigo sem ao menos eu deixar ?
      Então, ele começa a andar na direção oposta do que o outro rapaz tinha vindo. Andamos calmamente ate o final do corredor. Havia uma porta e ao abri-la vejo que estamos agora em um quarto de menina. Tudo era rosa. Quando digo tudo, literalmente tudo era rosa. Até as velas que flutuavam iluminando o lugar era rosa.
  - Isso e bem a cara de Anne - Digo sentido um enjoo nostalgico em minha mente. Pois charlie tinha um quarto todo rosa que eu evitava entrar. Aquilo me causava pânico so de ver tudo rosa.
  - Estamos no quarto dela mesmo - Quando James falou isso eu não estava olhando para seu rosto, mas ao perceber como sua expressão era de fascinação misturada com angustia, percebi que estavamos na casa antiga dele. Onde ele e sua familia viveram.
      Do nada escutamos um barulho e James sai correndo muito rapido ate o local do acontecimento. Sua habilidade de correr rapido me deixava muito bravo. Mesmo sendo hebrai mais tempo que James, o mesmo era melhor em tudo que fazia sendo um hebrai mais jovem. Seus passos quase não eram audiveis, e sua presença sumia em minha visão. Mas em poucos segundos tinhamos atravessado mais de 6 comodos ate chegar onde o barulho tinha sido causado.
      Um james mais novo estava deitado no chão, debruçado nos braços de uma pessoa encapuzada. Essa pessoa tirava o sangue do garoto. O sangue saia do pulso cortado, em uma linha reta, e o conteudo do liquido caia dentro de um pequeno pote que a pessoa misteriosa segurava com sua outra mao, ainda mantendo o corpo do rapaz em seu braço. O comodo que estavamos era a cozinha da casa, com moveis pratas e preto, com uma ilha no meio, cadeiras de madeira escura em sua lateral e um fogao a lenha ao canto. O lugar estava limpo e parecia que ninguem mexia ali a muito tempo.
      Por um vislumbre, vejo o James mais velho tentar atacar a figura misteriosa que carregava seu eu antigo nos braços, mas nada tinha efeito nisso. Talvez seu desespero pela cena o tenha feito ficar cego sobre o que podiamos ver, mas não tocar.
  - É ela - James parecia não querer desistir de atacar, agora com o rosto ali visivel pela minha linha preriférica, de que aquela pessoa misteriosa era Aisha.
Por reflexo me movo para ataca-la, mas ao sacar minha varinha contra seu rosto e lançar um feitiço para que soltasse o antigo James, mas nada fez efeito, e o feitiço sumiu assim que atravessou a figura de Aisha. Ela, por si, se mantinha a mesma. Digo mais pela sua aparencia. Não tinha envelhecido nada. Sequer aparentava estar mais nova nessa lembrança. Era a mesma de sempre, sensual, ruiva com seus cabelos vermelhos, luminosos como uma chama e muito bonita, mesmo embaixo de um capuz. Assim depois de conseguir encher o frasco transparente com o sangue do antigo James, Aisha se levantou jogando o corpo do rapaz de lado ignorando total o estando que o deixou. Com sua varinha já em sua mão, explodiu a parede a sua frente, mas antes que pudesse fazer algo, ela olhou para tras e não pude evitar de fazer o mesmo.
- Mãe... Pai - Os olhos de James se encheram de lagrimas e ele por um minuto se esqueceu de Aisha, ainda encarando os rostos de seu pais que mal conseguia ve-lo, a não ser o seu antigo eu, jogado no chao, com o sangue ainda escorrendo pelo comodo. Era notavel que não sentia o cheiro do sangue, nem mesmo sentia a temperatura do lugar. Talvez pelo fato de estarmos em uma lambrança, algo que não interferia em nossas sensações, só emoçoes - Eles não me ouvem - Seu rosto já estava vermelho de tanto que segurava o choro para não deixar a emoção falar mais alto.
Olho agora para os pais de James. Sua mãe loira dos olhos azuis, pele branca e muito bonita. era quase uma versão mais velha de Anne, só que com cabelos curtos e bagunçados. Ja o pai de James era negro, com os olhos verdes-esmeraldas, indenticos aos que James tinha. Ele nao era tão bonito como a mãe de james, mas tinha um charme que eu só tinha visto em seu fiho. E James se parecia com os dois. E então um menino menor, aparentando ter 5 anos de idade apareceu entre as pernas de seus pais e gritou ao ver a cena a nossa frente. O menino já era indentico ao pai, com o tom de pele mais escuro, olhos azuis e lembrava demais a versão mais nova de James, como se fossem gêmeos de epocas diferentes.
- Susana leve Rodrigo para o quarto dele, agora ! - Gritou o homem, tirando o James mais antigo do chao e sumindo como fumaça de nossa frente.
Agora que percebo que Aisha já não estava mais no comodo e tudo parecia mais limitado. Era como se o cenário a nossa volta estivesse sumindo, enquanto James chorava desesperado ainda pedindo para seus pais o ouvirem. Mas não havia mais nada da lembrança dentro do que estávamos e conclui que estavamos na lembranca de Aisha, mas as emoções de James fizeram a concentração dele falhar. Então estavamos de volta ao cômodo de onde tinhamos nos teletransportado para a lembrança.
- James o que houve ? - Anne adentrou o comodo, comovida por ver James chorando.
- E os vi - James soluçava como uma criança que perdeu o brinquedo favorito - Eu vi nossos pais e tudo sumiu.
Do nada todos encararam James chorar muito. Parecia que essa lembrança tinha feito o mesmo a sentir algo que ele jamais tinha me contado. Durante todo esse tempo em que estamos nos conhecendo novamente, James jamais tinha falado em como a morte de seus pais era algo que ele não tinha conseguido superar, ou melhor se acostumar. E ve-lo assim fez meu coração se partir ao meio. Eu sabia qual era essa sensação e não sei como teria reagido caso tivesse visto minha mãe e irmã. Não sabia ao certo como teria reagido. E sei que a reação dele foi o que o fez sentir toda dor que ele tenta ao maximo não sentir e pela dor de ve-lo assim, me aproximo dele e o abraço.
  - Desculpa, eu falhei Elano - James ainda estava chorando e com a voz trêmula - Me desculpa...
  - Não precisa se desculpar - Digo e mantenho meu abraço o envolvendo, como consolo de sua dor - Vamos sair daqui, melhor darmos um tempo - Olho para Murilo e me surpreendo com sua reação.
      Ele estava encarando James como quem não acreditava no que via. Ele não estava com raiva, ou o olhando com raiva. Ele estava surpreso, com o rosto paralisado em uma expressão de novidade. Mas antes que eu saísse da sala, com James e Anne - Que o abraçou de lado - Murilo me lançou um olhar enigmático. Era como se ele estivesse me dizendo que aquilo foi um gatilho, algo que também poderia ferir não só James, mas todos nós. Caso nosso passado seja também revirado. E eu tinha em mente fazer isso. Por mais doloroso seja saber sobre o passado de cada um aqui, precisava saber, todos aqui ainda escondem coisas, e 2 anos afastados me fez perceber como todos mudaram. E com suas vidas cada vez mais distantes deles, fez cada um silenciar qualquer informação sobre algo. Como se esconder o inevitável fosse a melhor opção para todos. E eu precisava descobrir o que cada um ali me escondia. E esse foi o gatilho, e Murilo teria que vir junto a mim.

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