Na noite do baile tenho uma surpresa.

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      Acordo caído de cara no chão. Ouço um gemido de dor, ao meu lado. Parecia que tudo isso foi irreal e sem ter sido previsto. Coloco minhas mãos contra o chão e tento me levantar, vendo que a sala de aula está mais cheia que antes. Muito borbulho de pessoas preocupadas, enchem o lugar. Olho para o lado e vejo Izaque caído no chão, morto, com uma faca cravada em seu olho. Grito de pavor e sem saber o que sentir ou falar, pulo para trás com medo e remorso de vê-lo assim, morto na minha frente.
- Izaque !!! - Grito desesperado, querendo ajudá-lo mas sinto meu corpo travar, sem conseguir fazer sequer um movimento - Não !!!
     Olho para trás esperando alguém reagir e ajudá-lo. Mas ninguém consegue reagir aquilo, e só vejo quanto a morte de Izaque, ali naquele momento, deixou todos chocados e sem ação.
- Abram espaço, a Dra. Maria vai cuidar dele - Diz o nosso professor chegando com a enfermeira que cuidou de mim, na vez em que fiquei na enfermaria acabado.
     Os dois seguraram o corpo de Izaque, cada um segurando um lado do corpo, com os braços em volta do pescoço. Eu não conseguia olhar para ele, mesmo com sua cabeça caída e muito sangue sendo derramado no chão.
- Fiquem aqui, e não saiam até eu voltar - Disse nosso professor, saindo da sala com o corpo e a enfermeira.
      Havia muito choro e gente conversando desacreditados da morte de Izaque. Era quase impossível não ter alguma reação e muitas pessoas ali reagia de uma forma, o que fazia tudo ficar pior.
     Eu fiquei sem reação. Não sabia como reagir aquilo. Queria muito ajudar Izaque mas já era tarde demais para isso. Olho para o lado e vejo que a porta do elevador foi trancada com um feitiço anti-bomba. Era o feitiço mais forte do mundo mágico de proteção.
- Elano ! Cadê você ! - Olhei para a porta de entrada e vi Murilo desesperado me olhando e vindo ao meu encontro.
     Ele colocou suas mãos em meus ombros, olhando meu corpo a procura de qualquer coisa fora do lugar.
- Ele morreu Murilo.... Ele morreu... - Eu comecei a chorar e ele me abraçou bem forte. Senti que também estava locomovido com isso. A morte de nosso amigo também mexeu com ele. Então silenciosamente Murilo tenta conter o choro. Ele não chorava na frente de ninguém, a não ser na minha frente. Eu era a única pessoa que o tinha visto chorar na vida.
     Não queria que aquilo fosse verdade. Não queria ter visto aquilo, não queria nunca ter ido àquela cidade, jamais queria que tudo isso tivesse acontecido. Mas não poderíamos ter evitado, eu jamais poderia ter feito algo, quando também poderia estar morto.
- Elano meu amigo - Olhei por cima dos ombros musculosos de Murilo e vi Yan me olhando chorando atrás dele.
    Me soltei do abraço forte de Murilo, que não queria me soltar, e abracei Yan com mais força, pois já não entendia mais nada. Ainda chorava nos ombros de meu amigo quando vê James me olhando, com a cara triste e preocupada. Ele parecia estar sentido me vendo chorar. Mas eu sabia que ele não era real, ali, naquele momento. De alguma forma eu o via e ele me via também. Ele parecia um fantasma, aparecendo entre várias pessoas que ainda não acreditavam no que havia acontecido.
- Te amo Elano - O ouvi dizer, e sua voz soou como se ele fosse um fantasma, uma lembrança solta fora de minha cabeça.
- Eu preciso de você - Sussurrei e logo Yan me olhou sem entender.
- Precisa de quem ? - Ele mal conseguia parar de chorar.
- Preciso dos meus amigos comigo agora - Disse e logo vi que a figura de James havia sumido.
    Olhei ao redor e vi pessoas machucadas e algumas também mortas. Várias enfermeiras chegavam e cobriam os corpos com panos enormes e brancos. Em minutos vários pais dos alunos mortos chegaram e caiam de joelhos sobre seus corpos sem acreditar no que havia acontecido. Parecia cenas de teatro, que sempre tinham aqui na escola, e com efeito mágico pareciam tão reais que até se isso fosse uma cena, receberia muitos aplausos.
  - Elano ! - Minha mãe aparece entre a multidão correndo enlouquecida até a mim me tirando dos braços de Yan e me abraçando fortemente.

     Semanas atrás de semanas se passam, até se completar 1 mês e meio, depois do que se passou. Eu mal consigo tirar da cabeça o último acontecimento da escola. Tivemos uma semana livre, uma semana depois do que vive, por respeito aos que morreram, mas isso só fez me senti mais louco. Ficar em casa com minha mãe na minha cola preocupada me deixava mais estressado. Não consiga chorar se quer uma lágrima, mal saia do meu quarto, não queria nem receber visita.
     Murilo era muito insistente. Não desistia por nada de me ver e várias noites dormiu na porta de minha casa só para me ver. Minha mãe, por dó, sempre o convidava para entrar e ele sempre acabava indo me ver no meu quarto mas me recusava a abrir minha porta.
- Elano se afastar não vai adiantar nada... Abre a porta em nome do senhor da paciência - Falou ele e sua voz suava tão confortável que quase me deixava levar a abrir a porta pra ele - Por favor Elano, pelo menos pra mim abra a porta, eu to pedindo por favor...
     Não demorou muito até eu me levantar e abrir a porta pra ele. Me assustei no começo e depois achei que foi a melhor coisa que já fiz na vida.
- Oh moço deixa de ser louco, eu quero estar com você - Ele se aproximou de mim e me abraçou bem forte.
     Seus cabelos que eram compridos agora estavam curtos. Ele havia raspado as laterais e a traseira de seus cabelos, deixando um uma moita de cabelos encima da cabeça - Cabelos lisos e muito bonitos - Com um topete charmoso. Ele começou a me empurrar para dentro do quarto, enquanto fechava a porta, com nós dois ainda abraçados forte. Como eu poderia soltá-lo já que sua presença nesse instante me fazia bem ? Então, ele me colocou na cama e deitou do meu lado, tirou suas botas e sua jaqueta preta e nos cobriu com meu enorme edredom azul-marinho.
- Você ficou bem de cabelos curtos e radical - Falei e ele mal teve reação a isso. Me olhava com curiosidade e atento.
- Teve notícias dele ? - Perguntou, me olhando curioso e seco. Parecia estar evitando ficar com raiva.
     Fiquei pensando em quem ele estava falando. Mal pensava em como consegui sair vivo de um ataque terrorista, em como perdi um amigo enquanto já havia visto um homem morrer. Como poderia pensar em mais alguém ? Como poderia ter notícias de alguém se mal sai de meu quarto.
- Não - Responde quando pensei em James e suas assombrosas aparições - Ele sumiu...
- Melhor assim, não confio nele e nem sei o por que você fica perto dele - Murilo já estava com raiva e revirou várias vezes os olhos ao falar de James.
- Você não o conhece, por que o julga ? - Perguntei mesmo já sabendo a resposta.
- E você realmente já o conhece ? - Ele me pegou de jeito com essa - Além disso você sabe a resposta por eu não gostar dele, então não complica.
     Ele parou de me olhar e senti vontade de empurra-lo da cama. Mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, minha mãe bate na porta aparecendo com a ponta da cabeça, e se assustando ao ver Murilo deitado ao meu lado na cama.
- Uma amiga sua veio te ver meu filho... Ela trouxe gelatina... - Minha mãe me observava sempre a procura de algo de errado em mim.
- Quem é ela ? - Me levantei da cama, pulando o corpo de Murilo, e me dirige a porta já dando um beijo na bochecha de minha mãe - Susan !
     Ao vê-la senti que o mundo havia ficado mais doce. Ela era tão leve que deixava o ambiente mais leve ainda.
- Achei que um pouco de gelatina faria você se sentir melhor - Ela me olhava feliz, nada parecia destruir sua felicidade.
     Minha mãe sorriu de dentes brancos para Susan que lhe retribui com o mesmo sorriso de entusiasmo.
- Bem vou deixá-los conversando e prepararei uns docinho para comerem antes de eu ir trabalhar... - Ela estava se virando quando voltou para me olhar, se aproximou de mim colocando suas mãos em meu rosto e continuando - Eu to aqui pro que precisar tá, não se esqueça que tem uma mãe louca por sua segurança.
- Também te amo mãe - Abracei ela e vi Charlie saindo de seu quarto com umas duas pequenas malas - Boa viagem Charlie, não se esqueça de me comprar aquilo que combinamos.
      Charlie iria estudar numa escola nova, na cidade Castab, que ficava uns 500 km daqui. Ela tinha ganhado uma bolsa de oportunidades, depois de ter ajudado o governo na captura de uma criatura antiga, Crity, uma praga de pele vermelha que suga a magia do bruxo até a pessoa morrer.
- Pode deixar maninho - Ela olhou feio para Susan como se ela fosse a coisa mais estranha do mundo e sem conter a emoção encarou nossa mãe, a apressando - Deixa ele aí mãe, ele está com companhia e vai ficar bem... Vamos mãe !
- Eu já vou menina ! - Disse minha mãe me dando um beijo na testa e saindo com Charlie pelo corredor - Sabe como me procurar caso aconteça algo tá.
- Eu vou ficar bem mãe - Isso a deixou mais assustada. Toda vez que eu falava isso, algo de ruim acontecia.
     Ela me olhou por um tempo e foi puxada por Charlie super nervosa. Eu ri por um momento daquilo, e foi a primeira vez, depois de semanas, que ria de algo. Pelo menos só por uns segundos. Puxei Susan para dentro do meu quarto, me virei e entrei no meu quarto. Fechei a porta olhei para os dois me olhando curiosos. Murilo sempre com raiva depois de uma conversa séria, e Susan fascinada de me ver.
- Servido ? - Perguntou ela levantado a bandeja com a gelatina em sua mão.
- Vamos descer lá pra baixo - Sorri para ela e sei que Murilo ainda me olhava feio.

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