(James) O Filho de Elano.

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Minha pele queimava. Era como se estivesse dentro de um caldeirão de emoções que fervilhavam ofensas dentro de minha cabeça. Meu corpo reagia a elas como fogo, preste a consumir cada célula de meu corpo. Não havia noite ou dia de paz dentro de minha mente quando tudo que queria era desvendar o importante tema sobre o por que nunca faço algo para salvar o que eu mais amo nessa vida. Por que me deixo ser tão idiota por coisas que me fazem esconder tudo dele ?
- Não deveria se perturbar tanto por isso querido - Diz minha avó terminando de preparar seu famoso chá da tarde.
Ela era uma das poucas pessoas que tinha restado de minha família e a única, além de Anne, que eu tinha contato. Era uma segunda mãe para mim. Era mãe de meu falecido pai. Elano sabia sobre ela pois eu havia contado sobre sua existência, mas mantinha ela excluída do mundo oculto pois se Aisha soubesse da existência dela iria mata-la. Minha vó durante muitos anos lutou contra Aisha e quando descobriu que eu a servia brigou muito feio comigo. Ficamos um bom tempo sem nos falarmos. Só depois de eu tentar me desvincular de Aisha e pedir sua ajuda foi que voltamos a nos falar e ficamos ainda mais próximos. Mas o vínculo com Aisha ainda esta selado pois depois de anos sobre tudo que vem acontecendo comigo, não busquei feitiços para desfazer isso. Mas depois que Elano descobriu tudo, achando que eu ainda sirvo Aisha, busquei todas as formas de feitiços e finamente me desvinculei de Aisha. Mas tive que sacrificar um órgão. Um de meus rins teve que morrer dentro de mim para que o feitiço funcionasse e isso me deixou mal por um tempo até minha vó me operar e tirar o órgão morto de dentro de mim.
  - Eu não consigo viver sem ele - Estou na janela da pequena cozinha de minha avó. Era uma casa de madeira clara. Tudo ali era de madeira. O fogão era a lenha. Não tinha geladeira. A cozinha era fechada e não dívida cômodo com a parte da sala. E por um detalhe que não estávamos mais no mundo oculto. Estávamos no interior de Londres. Bem longe da cidade e toda a tecnologia que minha avó odiava. Era uma casa bem antiga, dos tempos de meus bisavós. Muitos de meus parentes antigos se refugiaram para o mundo real quando o mundo oculto estava quase em extinção e muitas pessoas morreram. Era o mesmo que viver no inferno, então, meus parentes construíram essa casa e foi a melhor coisa que fizeram. Eu tinha uma vista linda das montanhas e do pôr do sol ao fundo.
- Ai meu filho - Minha vó me encarou como se reprovasse meu estado atual.
      Ela então se sentou na mesa de madeira escura, com uns enfeites nela, e me encarou como se estivesse com medo do tanto que choro desde quando me recuperei da cirugia.
  - Você sabe que estão afastados por burrice sua né ? - Tinha me esquecido que minha vó era bem evoluída no quesito conversar com jovens - Por que nunca contou a verdade para ele ? O que tanto temia que ele pudesse descobrir sendo que de qualquer forma ele iria descobrir algo da pior forma, como tem acontecido ?
      Eu abaixo a cabeça e por um momento, sem entender isso, sinto a maior vergonha do mundo pela razão que fizeram eu afastar Elano de vez de mim.
- Tive tanto medo de expor Elano a verdade que esqueci que só se tem algo verdadeiro com verdades ditas - Ainda não consigo encarar minha vó com a vergonha que toma meu rosto - Queria evitar dele sentir dor e nojo pelo meu passado, pelas coisas que fiz e pelas coisas que sabia sobre a missão. Ele já vivia tanta coisa que quis evitar dar dor a ele. Não gostava de vê-lo sofrer, isso me incomodava e me fazia sofrer por ele.
- Quis tanto não causar dor a ele que se esqueceu da sua própria dor, já causando dor a ele - Ela novamente se levanta e vai até a chaleira no fogo, e com um pano leve, segura o braço da chaleira e a coloca delicadamente na mesa de madeira - Chá ?
Algo em mim me fez querer sentar e tomar um chá. Minha vó era o oposto de minha mãe. Era mais carinhosa, menos autoritária e mais leve.
- Come um pouco de bolo de fubá... aqui tem um chocolate derretido que fiz pois sei que ama assim - Ela, sentada já ao meu lado, colocou sua mão em meu rosto e fez um pouco de carinho em meus cabelos que estavam um pouco grande, na franja.
- Talvez eu tenha esquecido de me perdoar pelo o que eu fiz no meu passado e deixar elano entrar nisso sabendo que poderia se magoar comigo, mas que eu precisava ser verdadeiro.
- Nunca devemos deixar de entender que não iríamos impedir de magoar alguém. Magoar alguém faz parte da vida, mas se você contar a verdade para alguém e mesmo assim a pessoa se magoar e decidir não estar com você, então essa pessoa não te ama o suficiente para superar a verdade com você, uma verdade que não é dela e nem o direito dela de julgá-la - Ela então tomou um pouco de seu chá e fez uma careta de quem amou o que tomou e voltou a me olhar - Da mesma forma que toda vez que Elano fosse verdadeiro com você e você se magoasse com isso, e se o amasse o suficiente para aprender a superar o que viesse contra vocês, sendo algo vindo de vocês ou de outros.
      Desvio o olhar ainda me sentindo péssimo em não estar perto dele. Mesmo que eu quisesse fingir não consiga mais deixar escondido como to mal. Mentir pra ele foi a pior coisa que fiz, esconder coisas foi a pior coisa que já fiz. Tentei não machucar ele com meu passado e minhas atitudes só fizeram ele se afastar de mim.
  - Sinto que o perdi de vez e não quero desistir mesmo que ele não me queira mais - Dou uma observada e vejo minha vó me olhando com deboche. Seu jeito era de uma adolescente e não combinava nada com o robe velho que usava e dos seus cabelos grisalhos curto que ganhava volume cada vez que ela mexia a cabeça.
  - Então você não o perdeu de vez - Ela novamente tomou mais de seu chá - Acho que vocês jovens deixam muito a desejar. É tanto drama que até me deixa cansada meu filho e... vocês deveriam conversar. A conversa abre a mente. Vocês estão precisando disso, e se moldarem contra todas a mentiras tanto de vocês dois quanto vindo dos outros.
      Por reflexo me levanto e volto para a janela para verificar se Anne não aparecia para que aquela conversa acabasse. Eu odiava ficar remoendo mais ideia sobre o meu erro. E sei que minha vó só estava tentando abrir mais minha mente para que eu não voltasse a depressão dos últimos tempos.
  - E aquele rapaz, Murilo - Volto meu olhar para ela e vejo como tem o intuito de entrar mais fundo em minha mente - Ele parece estar disposto a ficar com Elano e pelo o que sei, o passado dele também não é tão limpo - Sua expressão foi de desdém, como se julgasse eu e Murilo na mesma frase - Ele só está contando tudo, no caso nem tudo, mas o suficiente para Elano para não perdê-lo, fazendo tudo que foi revelado sobre você ser a parte ruim.
  - E por eu não contar a verdade por medo de magoar Elano só deixei o caminho mais aberto para aquele desgraçado ! - Digo soltando faíscas pela boca do ódio que to de Murilo.
      Sei que ele está com Elano e que deve estar soltando meias verdades para mantê-lo por perto e fazê-lo confiar nele. Mas precisava falar com Elano, e tentar pela última vez me explicar e ser totalmente verdadeiro com ele. Minha vó tinha razão, eu não podia evitar de magoar Elano contando sempre a verdade, dependeria dele mesmo se iria querer ficar comigo sabendo de toda a verdade. E mesmo que me doa a alma era o melhor. Elano iria ficar comigo pela verdade ou não me ama o suficiente pra enfrentar tudo comigo.
Então, do nada, Anne adentra a cozinha com sua namorada, Alessandra. Não tinha sequer percebido sua chegada na casa. Magia ela não havia usado pois teria que evitar denunciar nossa localização. Então pensei sobre Alessandra que era hebrai e podia correr rápido e chegar em um lugar em silêncio. As duas pareciam estar muito assustadas e ao mesmo tempo aliviadas, como se o susto estivesse passando. Mas isso fez até minha vó se calar e olhar para elas desconfiada.
- Devo me preocupar ? - Minha vó se levantou e foi até o fogão para encher novamente sua xícara com chá, e voltou novamente a mesa com a mesma calma que saiu. Mas tinha chá ainda na chaleira que estava na mesa. O que ela estava tomando que não tinha percebido ? Havia outra chaleira no fogão. Será que ela usava algum feitiço para verificar tudo que atávamos falando. Ela tinha essa mania para saber se estávamos mentindo e nos guiar pelo melhor caminho.
- Dona Eloísa temos algo a dizer a James - Alessandra tinha uma voz aguda, ainda não era tão encorporada a de uma mulher, tinha poucos traços masculinos - Nos...
- Estávamos no vilarejo "Lunns" buscando uma folha que Alessandra queria para sarar sua ferida nas costas - Anne parecia desesperada para contar tudo logo e Alessandra a olhando meio que com raiva por ter sido interrompida.
- Como entraram lá ? É o lugar mais difícil de se entrar - Minha vó a olhou com muita curiosidade mas mantendo os olhos bem traiçoeiros contra Anne.
- Alessandra tem família lá, a única parte difícil é chegar lá e não ser morta - Se adiantou antes que Alessandra pudesse se quer falar algo - Entramos e vimos Angelina... e ela estava com um menino de 4 anos do seu lado.... Quando nos viu ficou pálida - E então jogou seus cabelos loiros para trás das costa - Mesmo antes de eu ir falar com ela, mesmo não tendo nos falado muito na escola, ela se adiantou e confessou tudo.
Olho ainda sem entender nada. Anne parecia desesperada para contar tudo que mal respirava e falava muito rápido tudo. Pela primeira vez agradeci por ser hebrai e captar cada palavra que ela falava, tão bem que esperava mais por isso.
- Confessou o que ? - Não entendia o por que ela estava mencionando Angelina e um menino de 4 anos em todo seu desespero.
  - Diz logo ! - Alessandra parecia se segurar para não falar logo mas sabia que se passasse na frente de Anne a mesma iria fica era bem brava.
  - Elano é pai do filho de Angelina - Ela por fim pareceu ficar mais tranquila e menos agitada, e então, sentou na cadeira a sua frente pensativa sobre algo - As contas batem desde quando eles namoravam e o menino parece com Elano, não tem como dizer que não é filho dele sendo que é...
      Não consigo ouvir mais nada pois tudo a minha volta tinha parado. Eu não conseguia ver ninguém a minha frente e meu corpo começou a formigar até perder os sentidos. Não consegui ouvir mais nada e por um momento senti um frio, como se uma corrente passassem por dentro de meu corpo, me deixando intacto com a sensação de desligamento. Como se eu estivesse me desligando de meu corpo. Elano pai ?
- Eu vou atrás de Elano - Me jogo contra o meu próprio corpo, na direção de meu quarto e em menos de segundo estou já ajuntando uma trouxa de roupas e com a mochila já nas costas estou pronto para ir de encontro de Elano, seja onde ele estiver.
Mas antes de sair do quarto sou impedido de sair por Alessandra que era uma Hebrai e era muito forte. Mas não iria machucá-la ou lutar com ela. Sabia que ela não iria me deixar sair dali sem ao menos ela e Anne irem junto comigo.
- Vamos junto - Ela olhou para trás e vi Anne confirmar tudo já com uma bolsa na mão pronta para se aventurar mais uma vez nas minhas loucuras de ficar com Elano.
  - Mas antes de irem, quero finalizar nossa conversa querido - Minha vó falou da cozinha em um tom bem audível para nós hebrais. Ela era muito astuta, e sabia exatamente onde queria chegar. E pelo o que conheço dela, ela nunca deixa uma conversa pela metade sem finaliza-la da melhor forma.
      Então voltando a cozinha e impaciente me mantenho em pé. Anne e Alessandra já se sentaram me olhando como se eu estivesse preste a fazer algo idiota. E elas estavam certas. Eu queria fazer algo de idiota para me tirar dali e correr até Elano e contar sobre seu filho. Mas algo dentro de mim queria mantê-lo longe dessa informação. Como se fosse mais um motivo que iria me afastar dele. Agora ele tendo um filho, ele iria amá-lo e isso o faria esquecer de mim e me deixar de vez. E também teria o fato dele ainda estar achando que tenho algum vínculo com Aisha e não aceitar de jeito nenhum minhas explicações. Mas não iria desistir. Ele teria que aceitar minha volta a missão e pro lado dele.
       Balanço a cabeça na tentativa de eliminar esse tipo de pensamento sobre o filho dele, mas isso só faz mais outros pensamentos entrarem na minha cabeça.
  - O que você quer vovó ? - Digo já impaciente.
- Antes de vocês irem atrás de Elano e os outros, quero que vocês saibam que vou conversar com um dos responsáveis do vialarejo Lunns para que vocês possam entrar lá sem serem barrados - Ela tomou um pouco de seu chá e voltou a nos olhar preocupada - Todos lá conhecem vocês e sabem sobre o que vocês estão fazendo, as notícias ficaram cada vez mais espalhadas e muitas aumentadas contando coisas que não são verdades - Ela então abaixou sua cabeça pensativa e de novo voltou, agora, me olhar preocupada - Tenho certeza que quando você contar para Elano sobre o filho dele mesmo que isso faça você o perdê-lo, e sei que ele vai atrás do filho dele e vocês vão acompanhá-lo pois lá tem coisas que conectam todos a aquele lugar... por isso vou deixar uma das minhas casas liberada para vocês caso não tenham lugar para ficar...
Ela se levantou novamente e carregando sua xícara na mão, se virou para esconder o rosto, pois já estava murchando por conta da vontade de chorar.
- Lá é um dos lugares mais difíceis de se entrar, um dos lugares mais protegidos do mundo oculto onde vários refugiados foram para lá para começar uma nova vida, depois de perderem famílias ou seus vilarejos - Ela se virou contendo as lágrimas que ameaçavam cair - Tentem ao máximo não serem visto chegando lá para evitar que o vilarejo sofra ataques, mesmo sabendo que será difícil algum terrorista entrar lá... mas sinto eu, mesmo velha, que tem algo lá que vai ajudar vocês.
Minha vó era sensitiva e cigana em suas horas vagas. O seu famoso chá de Alice, como ela o chamava, a ajudava a ver coisas que ela não contava a ninguém mas dava pistas de como chegar a ao que ela viu. Ela conseguia nos guiar por caminhos bons. Então sabia que suas palavras eram uma emergência para evitarmos quaisquer tragédia até chegarmos no vilarejo e resolver alguns assuntos e descobrir o que aquele lugar vai nos revelar, segundo minha vó. E pelo tom de alerta e conforto em sua voz, tudo misturado, sei que vamos encontrar mais do que só o filho de Elano naquele vilarejo.

 E pelo tom de alerta e conforto em sua voz, tudo misturado, sei que vamos encontrar mais do que só o filho de Elano naquele vilarejo

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