A Saga "Relíquias da Lua" 🌙

Os seus pensamentos agora são meus, James / Melhores amigos, Murilo.

Minha cabeça estava explodindo de ansiedade e nada parecia me colocar no lugar. James tem sido meu maior apoio nesse momento e isso me faz me sentir um pouco melhor. Mas algo piorava pois Murilo havia surtado com a novidade de saber que tenho um filho com Angelina. Não foi agradável conviver com ele durante a última semana que estivemos na casa da floresta. Pois acabamos tendo uma briga feia onde Murilo se mostrou, pela minha surpresa, ainda totalmente diferente de tudo que eu pensei que ele era. O Murilo amigo, parceiro e verdadeiro havia sumido. Seu jeito agressivo agora era direcionado a mim. Como se ele me culpasse de algo. Como se eu fosse escolher meu filho e não ele. Não era nenhum tipo de competição sobre quem eu iria escolher. Era sobre meu filho e eu queria conhecê-lo e queria estar perto dele. Não tinha nada haver com ele, com James ou mais ninguém. Era algo só meu. Um sentimento diferente me dominava e eu queria saber de quem eu era pai. Não era o sentimento de quem eu devesse amar e me casar, era um sentimento de amor puro, onde eu me imaginava cuidando e protegendo aquela criança. Era maior e mais necessário do que tudo que mais senti.
  - Odeio ser essa pessoa mas tenho que admitir que eu me senti um pouco mal sabendo sobre seu filho Elano - James estava mais aberto, me contando as coisas, me falando mais sobre seu passado, respondendo minhas perguntas e quando podia sendo sincero sobre seus pensamentos, sobre tudo - Sinto que ele vai tirar você de mim, que seu amor por ele vai ser maior e você vai me deixar de lado... eu sei que isso não vai acontecer, mas o fato dessa situação existir me deixa inseguro.
      Suspiro me sentindo aliviado por ouvi-lo falar mais do que guardar isso tudo com ele e no futuro saber que esses pensamentos poderiam nos afastar. Mas também fico com raiva por pensar dessa forma. Meu filho não é um escolha, é quem eu quero conhecer e sei que vou ama-lo acima de todos, mas não vou me afastar de ninguém por isso, a não ser que a pessoa queira isso de mim.
  - Desculpa, só quis ser sincero como prometi a você - Então ele desvia o olhar de mim e encara as nossas alianças que estão em cima da cômoda do nosso quarto.
      Estamos ali faz uma semana se preparando para seguirmos caminho até o vilarejo Lunns, onde quero ir e James também. Ele me contou sobre o que sua avó tinha lhe falado e creio que haverá coisas boa para nós por lá. E tento manter esse tipo de raciocínio pois não quero pensar em chegar lá e saber que Aisha está atrás de nós para atacar o vilarejo e isso afetar minha vida perto do meu filho. Mesmo estando basicamente abandonando a missão, para que eu possa ver meu filho pode ser que haja algo nesse vilarejo que vai nos ajudar na missão. Tenho essa sensação.
  - Eu sei que prometeu e eu agradeço por isso, mas tenta não deixar isso tão intenso James, quero sua verdade mas sem parecer que você é obrigado a me dizer tudo que vem na sua mente... calma você vai aprender a dominar isso - Eu vou até ele e seguro sua mão.
     Ficamos encarando as alianças na cômoda e isso abriu um gatilho em minha mente. Como seria se nosso casamento já tivesse acontecido ? Como iríamos superar tudo sem fugir das situações, pois casados teríamos que resolver tudo cara a cara, não como dois adolescentes que não aguenta a pressão das indiferenças de um relacionamento agitado.
  - Você ainda tem esperança sobre nós ? - Ele me olhou com tanta esperança que quase me senti um vilão. Era como se ele realmente não entendesse que eu o amo e quero ficar com ele.
  - Isso nunca morreu dentro de mim, James - Eu toco meu rosto, e lembro que tirei minha barba pois estava me incomodando. Então para me distrair, eu então toco na cômoda e as aliança voam até a mão dele. Com surpresa ele fecha sua mão e volta a me encarar apaixonado - É melhor você guarda elas bem, foi você quem fez o pedido, tem o dever de guardá-las.
      Ele abre então um sorriso largo e cheio de dentes brancos e um hálito impecável e cheiroso. Me sentia intimidado em como ele sempre parecia bem, fisicamente, sempre arrumado, perfumado e com os dentes brancos. Não era justo eu nem sequer chegar perto de sua beleza. Isso sua beleza. Era algo que eu demorei um tempo para encarar melhor desde quando entramos nessa missão. Eu quase não observava seu rosto. Quase não gravava seus traços em minha mente por medo de sofrer, quando já não estávamos juntos. Mas agora me sinto seguro com ele. Sinto que vou conseguir confiar nele e poder manter minha mente aberta sobre quem ele é agora comigo. Posso me permitir encarar sua beleza, seu cheiro e seu jeito, e manter isso em minha mente, para sempre me sentir seguro quando eu estiver longe dele, mesmo que seja em cômodos diferentes.
  - Antes de irmos eu quero te contar sobre uma lembrança que você viu - Ele parecia segurar sua emoção ao tocar no assunto que eu tinha medo de falar com ele - Eu quero tirar isso de mim Elano.
  - Não sei se...
  - Preciso que saiba e preciso tirar de mim.
Meu coração começou a acelerar como se eu devesse algo a mim mesmo. Como se aquilo que James queria me contar era algo que eu não queria saber. Mesmo sabendo que isso o ajudaria, eu não tava pronto. Mas sua angústia em me contar as coisas tem me feito bem e mal ao mesmo tempo. Era bom ter James aberto a tudo para me contar, mas tinha coisas em seu passado que me deixaram incomodado, coisas horríveis que aconteceram com ele. E muitas das vezes ele me contava em horas aleatórias, onde eu nem mesmo estava preparado pra ouvir. Então, eu sempre baixava a guarda pois era mais do que pedi, e se eu reclamasse teria, possivelmente, menos do que eu estava tendo.
- Eu pensei que não iria suportar o que estava passando naquela época. Meu corpo estava em mudança. Eu estava em mudança. Minha família com seus problemas e divergências fizeram algo dentro da minha cabeça explodir, e nada mais ficava estável dentro de mim.
"Depois do que ele fez comigo eu me senti mal. Chorei a noite inteira em casa e tinha medo de contar tudo para meus pais, principalmente para meu pai, que era muito amigo dele. Então eu fiquei traumatizado. Não conseguia comer, não conseguia falar muito. Cada dia mais eu me fechava para o mundo. O dentro de casa e o do exterior dela. Festa em famílias eu fugia para longe para não ver ninguém. Na escola eu evitava contato visual com qualquer pessoa. E mesmo assim muitos queriam estar próximos. Eu odiava chamar atenção e odiava ter algo que fizessem todos se apaixonarem por mim. Ser o cara "bonito e inteligente" que todos me achavam, fez cada pessoa perto de mim tentar me usar. E isso me alarmou. Me fez novamente me sentir invadido. Não queria ninguém perto. Então minha mãe me deixou estudar em casa com minha avó, que já trabalhou como professora em 4 escolas bruxas. Era muito boa e aprendi mais coisa do que iria aprender na escola."
Então ele se vira e se afasta de mim. Ele para ao chegar perto da porta. Era como se ele estivesse evidenciando que iria sair dali. Como se lembrar disso o causasse dor. Mas ele suspirou e se virou. Agora ele estava chorando, segurando cada lágrima pra não sair escandalizada. Sua dor me deixou incomodado e com medo do que ele sentia. Não queria ele sofrendo com essas lembranças, mas mesmo que eu tentasse evitar, ele iria querer finalizar esse assunto para se livrar de tanta coisa ruim que nunca desabafou com alguém. E por ser um assunto mais delicado, algo que o fez mal, me fez sentir que deveria deixá-lo finalizar e aliviar isso dentro dele.
"Depois de tanto tempo Elano, eu me fechei para tudo e todos. Não confiava em ninguém... e então você me apareceu nos meus sonhos. Me deixando incomodado pois me fazia bem e ao mesmo tempo me deixava com medo pois eu temia viver o que vivi, com você. Como se você fosse me fazer mal como ele fez quando eu era apenas uma criança. Mas você só me fez bem. Era bom e amoroso. Então você era tudo de bom que eu queria perto de mim e só ter isso em sonho não era o suficiente. Eu precisava de você na minha vida. Temia sim que você não fosse o Elano com quem eu sonhei por muito tempo, mas não queria desistir. E você, quando te conheci, se tornou mais do que o meu sonho tinha me apresentado. Fiquei com muito medo quando te vi e por um momento achei errado nós dois juntos e por isso o queria longe de mim. E eu tenho certeza que eu fui bom para você. Errei muito em ter acabado com sua expectativas boas que tinha sobre mim, de como me conheceu em meus sonhos. Mas não sou esse James perfeito, mas quero ser o James que te fará a pessoa mais feliz desse mundo, acima de todo erro e ensinamento que estou tendo para ficar com você. E não vejo isso como algo ruim. Eu te amo e quero ficar bem com você..... desculpe esse desabafo, minha cabeça estava cheia."
      Eu vou até ele e de novo me sinto bem com ele falando tudo que pensa. Era demais pra mim mas por dentro eu me sentia mais aliviado de ouvi-lo falar, mesmo que seja mais do que eu queria ouvir naquele momento.
  - Tudo bem, espero que esteja melhor por ter desabafado - Eu o abraço enquanto ele se recupera do choro e dos seus pensamentos que agora eram meus. Sentia que era isso, já que toda vez que ele desabafava era para mim, como forma de me mostrar confiança. E eu me sentia bem em contar minhas inseguranças para ele agora.
      Depois de anos vivendo tudo que vivemos eu sinto que estamos no melhor momento desse relacionamento, mesmo que não oficializado sinto que é um relacionamento. Estamos confiando mais no outro, estamos dizendo tudo que precisamos para confiar mais no que cada um dia e faz.
  - Acho melhor deixar esse romance para depois não acham ? - Anne adentra a porta e está com uma cara de poucos amigos.
   - Deveria parar de ser chata e deixar eles se amarem - Alessandra apareceu por trás de Anne e a abraçou bem forte, lhe dando um beijo discreto no pescoço.

* * *

Se passaram alguns dias e a sensação de vazio havia tomado conta de mim. Murilo era a razão. Eu não conseguia vê-lo tão distante e tão teimoso contra mim. Sei que estou o ferindo e cada aproximação o faz ficar pior. Isso me corta o coração e até mesmo o ferindo. Não quero perdê-lo, eu o amo demais. Mas esse amor não é baseado em romance. Eu o amo como meu amigo. O mesmo amor que sentiria por um irmão, mas algo dentro dele me afronta como se ele estivesse tentando cavar de mim um sentimento que não sei se existe. Nunca olhei para ele como algo a mais, nunca me senti preso a sentimentos que não sentia, pois não seriam verdadeiros.
- Desculpa por toda dor que tenho te causado - Digo enquanto ele se mantém intacto, parado de costa para mim.
Estamos no meio da floresta enquanto todos estão se preparando para a nossa mais nova missão. E tive medo de não ter Murilo perto de mim. Ele mesmo não tinha dito se iria ou não conosco.
- Tá tudo bem ? - Ele ainda se mantinha de costas para mim.
Sua respiração estava estável. Não tinha alteração de raiva ou dor, ou choro. Era como se ele estivesse em um momento de reflexo ao que nada o abalava. Então eu ando até ficar de frente para ele e vejo o seu olhar me acompanhar. Ele me olhava sério e ao mesmo tempo com tanto amor que isso me deixou sem palavras.
- Ele venceu, não tem nada que eu faça para você ficar comigo né ? - Ele agora estava mais calmo realmente. Seu olhar me transmitia dor.
- Nunca houve competição entre vocês - Bem pelo menos para mim nunca houve - Sempre fui honesto sobre meus sentimentos... e não quero ficar repetindo isso várias vezes.
- Você sabe que eu não vou desistir, mas tudo vai se ajeitar e se você precisa de mim como seu amigo, eu serei - Murilo abriu um sorriso de meia boca. Como se sorrir fosse doloroso para ele - E desculpa ter surtado sobre seu filho, tenho certeza que você tem as melhores das razões para querer estar com ele. Se fosse meu filho, eu faria o mesmo.
Sua energia parecia estar tomando conta de seu corpo. Eu me sentia confortável estando perto dele. Era bom ver o Murilo calmo e amigo por perto de novo.
- Eu não consigo imaginar como é ele, como será quando eu for vê-lo pela primeira vez - Digo espontaneamente.
- Contanto que você saiba trocar fraudas acho que já vai poder ser um bom pai - E ele riu com a própria piada, e algo me preencheu tornando a nossa atmosfera mais leve - E eu vou com vocês... não vejo a hora de conhecê-lo e ver como você vai se sair como pai... não espere elogios, só vou zoar com sua cara mesmo... te amo.
- Eu também te amo - Ele sabia que era um sentimento diferente, mas era um sentimento de amor por ele. Mesmo alimentando suas esperanças, eu me sentia bem em tê-lo de novo próximo a mim e ter o Murilo mais leve e calmo em cena.
  - Vou precisar de um tempo só meu, acho que ir para esse vilarejo vai ser bom para colocar minha mente no lugar - Diz ele agora meio absorto em pensamentos - Então não me leve a mal se eu me afastar um pouco por lá - E isso me deixou em crise, pois eu tinha medo de perdê-lo.
Ele então se virou como se estivesse saindo dali, mas se ficou perto de uma arvora e se virou. Me olhou como quem olha para algo importante.
- Eu sonhei com susan, e algo dentro de mim me disse que esse vilarejo tem coisas que vai nos moldar como nunca fizemos em anos nessa missão suicida - Murilo baixou o olhar e depois voltou a me encarar.
- Eu sinto falta dela e de seu jeito desligado dos problemas do mundo - Isso me deixou emotivo e tive que respirar fundo para que as lágrimas não caíssem sem fazer um show em meu rosto.
- Talvez haja felicidade para ainda ser vivida, espero que encontremos isso lá - Cada palavra de Murilo foi como uma promessa. Como se algo estivesse pronto para acontecer e quando estivéssemos no vilarejo, isso poderia virar realidade.
Eu o encaro e por um momento novamente penso em como tudo teria sido mais fácil se eu tivesse ficado com Murilo e como seu apoio acima de toda dor e alegria teriam me feito ser mais do que eu sou hoje. Mas não dava para controlar, eu me conheço e sou muito pé no chão sobre minhas decisões e emoções. Se eu amo, eu amo mesmo. Se eu quero como amigo, vai ser só amigo. E se eu odeio, na primeira oportunidade eu me viro e deixo tudo para trás. Então James teria que andar bem na linha, pois mesmo o amando, depois de tudo que estou superando para ficar com ele, na primeira oportunidade eu o deixo.