Capitulo 2

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Ódio
Ódio puro e limpo
E vinha dela.
Como ela pode ter vindo aqui? Depois que eu fiz ela "falar"com Val. Ela sempre foi difícil, impulsiva.
Isso é ruim.
Mas me intriga.
Desde que ela apareceu com o acordo extremamente adequado ao nosso lado, já fiquei alerta. Ela era uma mulher bonita, profissional, inteligente, carismática e também muito irritante. Era uma combinação perigosa a nível extremo. Achei mesmo que ela iria tentar seduzir um dos meus homens para tentar pegar algumas informações nossas. Mas não, se passou um mês, seis meses, nada, tudo normal, ela ia e vinha, tudo nos conformes.
Até mês passado quando recebemos uma carta de um cara dizendo que ela trabalhava para o EDA e para nós ao mesmo tempo. Isso alertou geral, e para ser sincero... me abalou bastante, pois já a considerava parte nossa, Leith e eu estávamos até preparando um acordo para ela assinar conosco.
Ela me intriga, por que ela não é como qualquer médico, ela realmente se importa com os pacientes, - o que a maioria nessa cidade não faz, principalmente para nós- seja quem for. Se não se importasse, ela não teria vindo.
Ou ela só veio por dinheiro, - o que vindo dela seria bem plausível.
Algo nela me deixa desconfiado, e ao mesmo tempo curioso e animado, como uma criança na manhã de natal. Não sei se é o jeito que ela me olha, às vezes me procura com o olhar. Na maioria das vezes eu fujo e deixo outros cuidarem disso porque eu não sei se ela me olha com medo, aflita, curiosa talvez?
Ela é muito boa no trabalho dela, sempre a observo de longe, não é atoa que ela fala isso em bom tom, o modo como ela trabalha sempre calma e concentrada, focada em resolver o problema, como sempre se preocupa com o paciente até mesmo depois do atendimento, na primeira vez ela ligou para saber como estava um dos guardas que ela atendeu, achei que fosse uma tática de conquista sabe, mas não, ela ligou para saber sobre todos os pacientes que ela atendeu nossos, e por isso a chamamos de volta, se alguém pode trazer Will de volta e ela.
Ontem a noite foi um grande erro, que resultou em uma vitória momentânea. Era para ser apenas um reconhecimento padrão de local, para conseguirmos invadir, e a coisa virou uma briga de território entre a Ruby e o Departamento. Acabou que só ganhamos por sermos mais rápidos em responder os chamados. E por termos o William ao nosso lado. Que por consequência estava quase morto na cama. O garoto foi bravo, mesmo sendo sua primeira vez. "Se ele sair dessa, vou dar um presente para ele". A habilidade de rajadas de eletrochoque foi crucial para nós, ele tinha feito uma armadilha com os membros já abatidos do DP no lugar usando de isca, ele colocou água em alguns locais para quando os outros chegassem ele conseguisse ter um alcance maior. E deu certo, por algum tempo. Isso o consumiu demais. Só do o tempo da nossa outra equipe chegar lá. Ele já estava caído, sangrando demais. A equipe derrubou a maioria que estava lá, fazendo muito estrago claro, e isso chamou a atenção de outras pessoas. Os jornalistas encheram o lugar rapidamente, fora as outras equipes táticas, tanto nossas quanto do DP. Enfim, conseguimos um pequeno pedaço do sudeste ontem. Tivemos baixas, claro, mas a que mais iria doer seria a do Will.
Queria chamar Verona assim que eles trouxeram o garoto, mas alguns não concordavam com isso, e eu não achei que ela viria. Tinha causado dor nela, mesmo que indiretamente, então chamamos Sebastian, mas ele nem tentou, só olhou e o deu como morto. Isso não nos deixou nada satisfeitos. Principalmente Leith, ele tinha conseguido Will, por parte de uma barganha com o pai dele, que o queria longe por um tempo. Bom, nós entregamos essa parte a ele, e entregamos a Will sua liberdade. Logo ele faria dezoito e nos disse que não voltaria para casa, ele já tinha dito que preferia entrar para a Ruby tears.
O cara já era nosso irmãozinho. Não podíamos perdê-lo agora. Depois de um bate boca entre nós quatro e gritos do Will. Pedi para que Leith ligasse para a única pessoa que eu tinha certeza que tentaria de tudo para trazê-lo de volta.
O problema era... ela não respondeu. Ela tinha visto as mensagens, mas não tinha me respondido.
"Ela assinou com o Departamento". - foi meu primeiro pensamento
Mas então vejo Manuel indo para a entrada, minhas esperanças voltam, assim como a do pessoal. Val tinha ficado sem falar comigo por dois dias depois de tudo. Echo acha certo ter feito o interrogatório, mas ficou com um pé atrás quando viu que ela não tinha nada a esconder. Leith viu como uma alternativa de escape para tirar mais coisas da vida dela. Mas ela não se entregou fácil, só soltou o que era extremamente necessário para manter ela viva.

...

"Eu odeio você, Sage Calloway ". Foi isso que eu ouvi quando ela entrou pela porta do quarto. O cabelo preso num coque baixo, perfeito e intocado, usava os óculos de armação finas e douradas, a pele morena reluzente, usando o jalequinho e os sapatos de salto pequenos. Seus olhos magenta vivo fixos em mim gritavam "eu odeio você, odeio todos vocês" - pelo menos era o que eu ouvia. Acho que a pontada de vergonha pelas acusações de roubo e espionagem chegou em todos.
Mesmo assim, ela veio, veio mesmo, e para ajudar. E ela tava putassa... com o negócio do Sebastian. Berrava com a gente sem nem se importar se quem estava na frente dela podia matá-la com um estalar de dedos. Logo o clima melhorou.
Mas piorou logo depois, a descoberta que o ferimento principal não era o da frente e ele estava perdendo muito sangue nos deixou em choque por um breve momento. Até que ouvimos os gritos de Verona e nos apressamos.
- Se perdermos ele, a gente tá ferrado - diz Leith na frente.
- O pai dele nem quer ele, por que você acha que vamos nos ferrar?- pergunta Val atrás de mim, e eu respondo:
- Pelo fato do filho da mãe ter feito assinarmos um contrato de óbito.-digo
- Como?
Chegamos na sala e chamo Manuel.
- Manuel, você pode trazer umas cinco bolsas de sangue para nós?
- Sim senhor. Qual seria o tipo ? - pergunta
- Acho que é B, certo ?
- AB+, Manuel eu vou com você - diz Echo
Echo sai com Manuel e Val pergunta:
- Como assim contrato de óbito ?
- Então ... basicamente, se o filho dele morrer antes dos 18 anos, nós vamos pagar ao velho uma indenização de mais de um milhão. - diz Leith
- O QUE ? - Ele tem os olhos arregalados para mim. - Você concorda com essa maluquice.
Dou de ombros, e digo:
- Você acha que eu pensei que o garoto fosse ser corajoso a esse ponto, eu e o Leith achamos que ele era um mimadinho.
- É verdade, fizemos o acordo porque o pai dele ia nos embolsar uma grana alta, e não achamos que íamos ter esse problema.
- Só que ele veio com a ideia de não voltar mais para a casa do pai e sim eu entendo os motivos dele, eu também não voltaria pro ninho de cobras. Acho que ele fez isso para provar para nós que ele era valoroso, para não o expulsarmos, eu acho.
- Estupido - sussurra Val - quem iria morrer para provar algo?
- Pois se Val, acho que ele não esperava isso. - digo no tom irônico.
- Ele não morreu - diz Leith, ficando um pouco histérico, a única coisa que tirava Leith do chão era achar que ia perder dinheiro - e não vai morrer, porque eu não vou dar aquela dinheirama pro bolso do velho. - diz ele ofegante.
Chego perto dele, e dou tapinhas nas costas do meu amigo.
- Calma, calma Leith, ele vai sair dessa - digo dirigindo-nos a sala, e Val começa a dar risinhos lá atrás, e eu digo pra ele - Cara é melhor você não tirar sarro do cara ... - aponto pro Leith - que paga o seu salário.
Valentino se cala no mesmo instante. Ele chega perto de Leith e passa a mão nas costas dele me imitando.
- Calma, calma Leith, ele vai sair dessa, seu precioso dinheiro está seguro. Verona vai ajudar, ela tem aquelas mãozinhas de fala, pode fazer qualquer coisa, lembra.
Verdade. Ela veio. Veio e ficou, mesmo tendo chamado ... Sebastian.
"Minha dor de cabeça começou a voltar."
Me lembro do desgracado que não fez nada, absolutamente nada, para ajudar meu amigo. E ele ainda estava ali, atrás de nós, como se fizesse parte de algo conosco.
- O que você ainda quer parado aí no canto?- digo me virando para ele - Valentino e Leith se levantam atrás de mim, acho que também percebendo ele só agora.
- Sinto muito atrapalhar ...
- Sente nada. - diz Val.
- O que você ainda quer ?- pergunto
- Meus cuidados com seu subordinado precisando ser pagos, vai ser por transferência ou espécie?
Ele tá de sacanagem com a minha cara?
- Nada no mundo ia me fazer pagar um centavo pro cara que não sabe dar um ponto certo. - digo o mais controlado possível, porque a minha vontade é fazê-lo virar pó ali mesmo.
- Vocês me chamaram, eu fiz o que pude.
- Mentira - Leith, sinto que ele está se controlando para não espancar o cara até a morte.
Na verdade nós três estamos quase avançando em cima do cara. Infelizmente uma coisa que foi estabelecida entre nós a muito tempo, foi que violência em casa era proibido. Nesse momento Manuel e Echo voltam para sala, Manuel estava com bolsas de sangue em um carrinho, e Echo vinha atrás dele. Quando eles nos encontram, Manuel fica um pouco mais afastado, ele sabe quando não estamos de bom humor. Echo logo percebe também e pergunta:
- O que houve?
- Adivinha quem quer ser pago pela dor de cabeça que a Verona está tendo lá em cima? - diz Val olhando para Sebastian.
- Se ela é tão boa assim, por que não a chamaram logo?
Quem responde é Echo com um belo soco na cara do desgracado. E eu completo
- Porque fomos burros em achar que você poderia se comparar. - queria ter sido eu a dar aquele soco.
Vou até Manuel e pego o carrinho, e vou de marcha para o quarto ainda escuto os xingamentos de Sebastian para nós, seguido de outro som de soco. "Echo consegue deixá-lo na linha."

Lost Between Lives Where stories live. Discover now