Capítulo 7

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Era uma vez em uma pequena aldeia esquecida pelo resto do mundo, em uma região onde a fome a muito tinha chegado, onde a sobrevivência era a sorte, carinho e amor tinham fugido com medo.... Só havia restado dor, sofrimento e frio.
       Havia nesta aldeia uma menininha muito pequena que tinha sido abandonada por uma caravana já a alguns anos. Ela usa apenas um vestido longo muito frouxo para ele, muito grande para seu corpinho fraco e faminto, seus longos cabelos bagunçados e sem cuidado, a faziam parecer uma lobinha, ela passava os dias andando de um lado para outro pedindo comida para forrar o estômago doido. Ela não tinha ninguém que a abrigasse ou a confortasse, pois ninguém queria ter mais uma boca para alimentar ou simplesmente por que não queriam vê-la. Claro que além dela havia inúmeras outras espalhadas, pela floresta, nas esquinas... Mas se você não se preocupasse se não procurasse, não acharia.
       Aquelas que não eram levadas à força eram esquecidas.
       Por um tempo, vagando como fantasma, ela estava ali, esperando, pedindo ajuda, ninguém estendeu a mão, ela queria brincar com os amigos, correr, sorrir, mas não tinha forças para isso.
       Foi então que um anjo apareceu perguntando:
- Você está com fome?
       Ela apenas murmurava que sim.
       O anjo bem vestido e penteado com roupas lindas e finas disse:
- Pois venha comigo. Na minha casa você terá comida e muitos amigos para brincar.
       A menininha logo aceita o convite gentil na esperança de um lugar que se sentisse acolhida. Ela pega na mão gentil do senhor e segue para sua nova e bela casa, uma residência de contos de fadas, com belos jardins, fontes, salas enormes para brincar e uma mesa linda com muita comida para se empanturrar.
      Quando vão passando pelos corredores ela percebe que os adultos a olham estranho e os que não olham quase se esforçam para que não vejam sua existência, como em sua aldeia. Os quartos vão passando enquanto o senhor a leva pelo local, ela vê que não a crianças pelos corredores, seu pequeno instinto grita nessa hora. A menininha começa a andar mais devagar, mas o homem a puxa, ele segue por um lugar estranho, descendo escadas tortas até corredores mais escuros, ela começa a se debater e o homem segura seu pulso com mais força, machucando-a, ela era muito pequena para fazer algo além de se debater e gritar. Ela gritava por ajuda enquanto o homem a segurou e arrastando-a para o porão da mansão, ela gritava, gritava e gritava mas nenhum dos empregados não moveu um dedo para ajudá-la, continuado a ignorá-la.
       Lá em baixo ela viu gaiolas de ferro, com correntes, cadeados enormes, espetos, grades e ... crianças. Cada gaiola devia ter de duas a três crianças, todas de rua, todas famintas, todas cansadas... todas amarguradas pelo mundo e sem esperança... todas como ela.
      Elas se assustaram com o homem quando ele entrou, elas se encolheram o máximo possível, como se não quisessem ser vistas. O homem disse:
- Não se preocupem seus vermezinhos, - seu olhar tinha se transformado em ódio sujo, como se ele olhasse para lixo. - Hoje ainda não é o dia da apresentação, então não tenho que ficarem nervosos.
       Ele leva a menininha para o fundo da sala e a joga em uma das jaulas vazias. Ela não conseguiria nem ter alguém para dividir a jaula, e continuaria sozinha.
       Alguns dias se passaram e o terror dentro dela só crescia, ela não sabia o que estava acontecendo ou o que ia acontecer. As crianças ao seu redor tremiam a noite de frio, vomitavam de dia por dor, choravam por dias com medo, morriam por fome.
       A mente da menina não conseguia processar mais nada, ela simplesmente existia no lugar, sem poder fazer absolutamente nada.
       O dia do "espetáculo" como dizes o homem cruel chegou, e ela não podia nem pensar no que seria.
        Algumas crianças foram levadas primeiro, outras foram em seguida, como ela e mais três. Foram colocados em cima de um palanque e mais na frente havia as outras crianças de frente a um altar. As crianças tremiam acorrentadas pelos pés e mãos, o homem chegou atrás delas e disse:
- Meus irmãos e irmãs. Hoje estamos aqui novamente para a purificação da terra. - ele disse - hoje mais uma vez tornaremos esse lugar mais puro ... nos livrando desses vermes de estão assolando nossas terras. - Ele aponta para as crianças que agora choram.
     As pessoas o aplaudiram, entre elas adultos e crianças, elas usavam uma espécie de capa, havia um símbolo atrás em alguns estandartes, parecia um forcado com uma circunferência oca e um gancho. Nesse momento, outros dois homens puxam uma das crianças da frente, ela começa a se debater e chorar mais ainda, ela gritava a plenos pulmões com tudo o que tinha.
    Os homens a colocaram em cima do altar e o homem disse :
- A hora é chegada irmãos, começamos a limpar nosso lar e em breve, teremos um mundo justo e limpo com nós no topo, como tinha que ser. Nos livraremos desses estorvos e alcançaremos nossa grandeza.- ele coloca a criança deitada. - ele tiraram nossa comida, nossa água, ocupam nossa passagem, mexem no e nosso, e ainda nos olham pedindo pena. Nós não teremos pena de vermes nojentos como esses.
     O medo da menina começa a crescer mais e mais, ela olha para as pessoas que aplaudiam aquela maluquice, que a olham com abominação, nojo, raiva.
      Naquele momento a menininha se quebra, ela sabe que vai morrer, que não tem jeito, ela era fraca, inocente de tudo o que ele havia dito, mas quem iria acreditar.
     Ela para de se mexer, para de respirar, quando a adaga rasga a garganta da pobre e inocente criança do altar. As outras se desesperam mais e mais, os homens que estavam com ele começaram a chicotear as crianças que gritaram. O mundo da menina caiu, tudo que ela pensava que podia ser bom... tudo estava acabado. Ela estava acabada. Algumas das crianças na plateia começaram a vomitar e os adultos a levaram para longe.
    As cinco crianças foram mortas. Ou por adagas ou por lanças. O sangue inocente escorria pelo altar manchava a túnica branca do homem assim como suas mãos e seu rosto.
     Quando tudo havia acabado levaram-na menina e os outros  de volta para as celas. O homem a coloca de volta e ela olha para cima e ele diz:
- O que foi vermezinha? Você não queria brincar?- E sorri, um sorriso louco, cheio de mentiras. -  não se preocupe, a próxima e você.
   Ela se encolhe na sela, como se quisesse se esconder.
   Alguns dias se passaram e ela estava mais faminta que nunca, sua dor de cabeça estava-a fazendo delirar, ela não aguentava mais tudo aquilo. Ela queria morrer de fome logo, ou poderia morrer dormindo mas a fome não a deixava dormir.
                                                                                                                 ...

Lost Between Lives Where stories live. Discover now