Silver van

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S/n LeBlanc

O universo precisa se decidir, uma hora ele arranca qualquer resquício da minha esperança e outra esbanja dinheiro do além. Voltei para casa satisfeita, faturei dois mil dólares em apenas um dia. Resolvi almoçar com vovó mesmo. Eu estou farta de fome, mal tomei a miséria do frappuccino... Culpa daquele maluco agoniado.

Abri a porta rapidamente e vi minha avó sentada na mesa da sala. Ela comia frango frito, observei a cena e fui me aproximando da mais velha. Sentei na cadeira da ponta, atraindo a atenção de vovó. Seu olhar se direcionou ao grande envelope amarelo que eu havia posto sobre a mesa.

Percebi o julgamento desconfiado dela, então o peguei planejando guardar no bolso da jaqueta novamente. Porém meu movimento foi desorganizado, ocasionando o derrubamento do envelope no chão. O dinheiro se espalhou pelo tapete, pois o material estava entreaberto. Me abaixei para recolher as notas.

— Onde conseguiu tanto dinheiro?— Perguntou se inclinando na cadeira. Ergui o rosto e pude visualizar sua cara curiosa.

— Não diga que... Você roubou de alguém?— Questionou arregalando os olhos. Me levantei do chão e sentei na cadeira que me sentava anteriormente.

— Eu não roubei!— Afirmei inquieta. Em parte sim... Mas não, achado não é roubado. Além disso, metade desse dinheiro eu consegui honestamente levando belos tapas. Sendo assim... Eu não roubei, certo?

— Entendi tudo! Você voltou a se envolver com aquele tal de Drew? Eu já te disse... Ele não é flor que se cheire.— Acusou decepcionada. Drew, vulgo meu antigo chefe, me dava carona até em casa algumas vezes, por isso ela descobriu nosso antigo rolo.

— Claro que não! Quero distância dele.— Falei com desprezo. Vovó continuou desconfiada, isso estava começando a me irritar consideravelmente.

— Espero que seja verdade.— Assumiu tomando um gole da taça de suco de uva integral. Perdi a paciência e bati forte na mesa de granito.

— Mas que coisa! Eu só usei as minhas mãos, a minha cara e o meu corpo pra conseguir esse dinheiro!— Expliquei farda das acusações.

— Seu corpo? Pelo amor de Deus, foi pior do que eu pensei.— Lamentou pondo as mãos sobre a testa.

— Poxa, vovó! Não é nada disso!— Garanti soltando bastante ar pelo nariz. Eu precisava me acalmar desse estresse excessivo.

— E o que aconteceu com o seu rosto?— Questionou puxando meu queixo para visualizar melhor a área avermelhada da bochecha.

— Deve ser de raiva.— Respondi retirando sua mão do local e me levantando grosseiramente da mesa.

— Não vai comer?— Interrogou expressando confusão.

— Perdi a fome.— Constatei saindo do cômodo.

(...)

A tarde passou, agora são umas sete da noite. Me pego encarando constantemente o cartão do homem misterioso. Será que é uma boa? Sei lá... Quero muito pagar o tratamento de vovó, mas parece tão fantasioso ganhar dinheiro com joguinhos. Uma parte de mim me diz que é loucura e com certeza tem algum golpe por trás... Mas a outra parte diz bem assim: "Fodasse, eu não tenho nada a perder." Pelo menos teria uma chance de salvar vovó.

Digitei o número do cartão. "010-034"

— Alô?— Disse uma voz masculina após atender a ligação.

— Eu sou a garota que pegou seu cartão no metrô de manhã.— Expliquei esperando a próxima fala.

— Quer participar do jogo?— Perguntou sem enrolação.

— Se quiser participar, diga seu nome e data de nascimento.— Contou brevemente.

(...)

Aqui estou eu, esperando um desconhecido no meio da rua de madrugada. Nem sei onde vou, com quem, para que... Apenas estou vegetando. O que me resta é esperar e ter esperança. Subitamente uma van prata aparece e para bem na minha frente. O vidro do veículo abriu devagar.

— S/n LeBlanc?— Interrogou o motorista. O homem estava completamente encapuzado de vermelho e usava uma máscara preta com um círculo no meio. Esquisito...

— Sim.— Confirmei insegura.

— A senha?— Pediu apresentando um timbre de voz séria.

— É... Batatinha frita 1, 2, 3. Foi o que me passaram.— Falei demonstrando incerteza, era uma senha muito aleatória.

A porta da van foi aberta automaticamente. Entrei no instante exato e haviam outras duas pessoas dentro dormindo. Me sentei no banco da frente, logo afivelando o cinto de segurança. Quando eu iria abrir a boca senti uma tontura forte. Percebi que o ar estava esbranquiçado...

Do nada tudo ficou escuro.

Squid game- Louis PartridgeOnde histórias criam vida. Descubra agora