Here again

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S/n LeBlanc

Meu plano de levar o canivete deu certo. Deixei o artefato no bolso do mascarado que estava vestindo a farda verde em mim. Em seguida retirei o objeto do local e continuei fingindo estar desacordada.

O processo de preparar e encaminhar os jogadores havia acabado. Espiei ligeiramente as redondezas, eu estaria deitada num beliche e todas as outras pessoas permaneciam dormindo, porém esse estado de paz não foi duradouro. Uma música instrumental tomou conta do salão acordando os jogadores, sendo hipoteticamente um alarme.

Agradeci mentalmente por não precisar mais fingir sonolência. Desci do beliche e me escorei nas hastes das camas de baixo. Os competidores estavam interagindo e formando grupos em torno de quatro pessoas cada.

Nem tentei me incluir, sei que não posso confiar nesse tipo de gente. No fundo eles sabem que estão sozinhos, ninguém aqui se importa com a vida de alguém além de si mesmo. Apenas uma coisa importa... O dinheiro.

Minha "solidão" poderia ter durado um pouco mais. Drew e sua nova trupe apareceram para me importunar. Tava até demorando.

Eu vou esquecer o seu passado e tudo que você aprontou. Entra pra minha equipe.— Drew falou dando o típico sorriso de babaca. Devo ter muita cara de otária pra ele achar que eu vou aceitar uma merda dessas.

— A gente trabalhava bem junto antigamente, né?— Disse subindo e descendo rapidamente as sobrancelhas. Ridículo.

— Ainda tá blefando? Tem uma porrada de gente lá fora atrás de você.— Falei mantendo a postura firme. Sei que ele roubou o último chefe fornecedor e está devendo a um casino da Califórnia.

— Para de gracinha, não importa o quanto você é durona, sozinha aqui dentro vai ser impossível você ganhar. Ainda não percebeu isso?— Rebateu apontando com a cabeça para as diversas equipes.

— Esses mascarados tiraram a cama dos jogadores que morreram. É só cometer um erro que sua cama some também.— Concluiu rindo de lado.

— Se preocupa com a sua própria cama.— Mandei enrugando os olhos com falsidade. Os capangas riram simultaneamente da minha fala, enquanto ele sorriu irônico.

— Vocês aí, não se aliem a esse cretino. Ele roubava o dinheiro da própria equipe de trombadinhas, porque esse babaca só pensa nele mesmo. Até o dia que criou coragem pra chefe, foi pego e deu no que deu. Por isso veio parar aqui.— Contei debochando.

— Sabe como chamam homens como você no país do meu pai? Grandes cuzões revolucionários.— Revelei expressando nojo. Fiz novamente os seus seguidores rirem.

— Sua filha da...— Iniciou a frase se aproximando agressivamente. Abri meu canivete, mas por sorte ele foi interrompido.

— Oi gente, desculpa interromper. Foi mal.— Disse a loira fazendo gestos e sorrindo de forma cínica. Era a chorona do filho não registrado.

— O que foi?— Drew perguntou indelicadamente.

— Nossa... Como você é gato.— Flertou piscando só um olho, o homem suspirou surpreso com o elogio.

— E aí? Me aceita também.— Pediu tentando seduzi-lo, seu rosto continha um sorriso largo.

—Aceitar aonde?— Drew questionou confuso.

— Na equipe de vocês.— Respondeu ainda sorrindo. Drew e os outros riram baixo.

— E você é boa no que?— Indagou seletivo.

Só não sou boa no que eu não sei fazer.— Afirmou sem mudar o astral. Em seguida ela me encarou de cima abaixo.

— Eu seria bem mais útil do que essa magricela, de qualquer jeito.— Falou otimista. Por que toda loira é burra?

— E você é boa nisso aqui?— Drew perguntou juntando as mãos, fazendo movimentos obscenos e sexuais. A loirinha ficou sem jeito e a mini platéia de otários riu.

— Porque ela é.— Disse levando o olhar até mim. Revirei os olhos irritada, que vontade de quebrar a cara desse desgraçado. A revirada de olhos resultou no meu olhar sobre o teto. Haviam tubulações... Onde será que elas dão?

— Vamos testar? Tem umas camas vazias.— Sugeriu encarando a loira maliciosamente.

A refeição vai começar agora. Jogadores, formem uma fila no centro.— A voz artificial comunicou.

— A sobremesa é você.— Falou se aproximando do rosto da mulher, logo saindo para a fila da refeição. Seus capangas o seguiram fazendo piadinhas idiotas.

— Que babacas.— A loira resmungo insatisfeita. Ela deu uma última olhada pra mim com desprezo e saiu. Ignorei a impaciência da oxigenada e voltei a olhar curiosamente as tubulações.

Desviei minha atenção após alguns segundos e caminhei na direção da fila, que por sinal estava enorme. Andei conforme a fila progredia. Os alimentos pareciam já estarem prontos, ou seja, os mascarados só entregavam. Isso agilizava o tempo de espera.

(...)

Minha vez finalmente chegou. Peguei a lata e a água oferecida, uma miséria... Mas tudo bem, sou acostumada a passar por dificuldades.

Subi o beliche e abri a marmita. Dentro tinha ovo, arroz e legumes. Usei a colher para me servir. Eu comia lentamente, pois preferi saborear do que comer de uma vez.

Enquanto dava as garfadas senti alguém me observar. Contornei o olhar e dei de cara com Louis, o pateta que insiste em me chamar de trombadinha. Ele estava sentado no chão junto de Ravi, Finn e um idoso. Desviei o olhar rapidamente, não quero arrumar problemas novamente.

Squid game- Louis PartridgeOnde histórias criam vida. Descubra agora