Returning

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S/n LeBlanc

Dois dias se passaram... Retornei aquela rotina cansativa de ir ao metrô, arranjar trabalhos de meia boca e visitar o hospital para checar os valores do tratamento. Viver o dia a dia é tão torturante quanto participar de um jogo mortal, a diferença é que no jogo temos uma esperança mínima.

— Vovó, vou sair.— Avisei brevemente. Havíamos acabado de almoçar juntas. Ela estava neurótica com as minhas saídas e fazia questão de ser avisada.

— Aonde vai, S/n? Que horas você volta?— Indagou me fitando precavida.

— Vou trabalhar e volto antes do jantar.— Falei andando na direção da porta, contudo escutei o impacto de algo caindo no chão. Me virei e vi vovó desmaiada. Corri desesperada até ela.

— Vovó! Acorda!— Implorei enquanto balançava seu corpo. Eu tinha que levá-la para o hospital, não importava mais a falta de dinheiro. Já posterguei demais essa internação.

(...)

— O câncer está se espalhando rapidamente. A quimioterapia deve ser feita com urgência para que não resulte num estado terminal irreversível.— O médico explicou sincero. Coloquei a mão na testa respirando fundo.

— Só um momento.— Pedi ao profissional, eu precisava refletir sozinha. Saí do hospital inquieta e fiquei me escorando na parede vizinha à porta de entrada. Estou no fundo do poço...

— Vamos.— Vovó apareceu atravessando a porta de vidro. Arregalei os olhos ao vê-lá de pé, ela não pode fazer esforço.

— Vovó! Aonde está indo? Ele disse que precisa ficar internada.— Contei enquanto tentava servir de apoio para a idosa caminhar.

— Eu estou bem.— Disse suavizando a situação.

— Não está bem! Nem consegue andar direito!— Alarmei estressada.

— Esqueça! Você ficou dias fora fazendo sabe lá o que! E agora aparece do nada querendo dar uma de neta boazinha?— Falou irritada parando de andar.

— Não seja boba! Vai piorar se não tratar!— Gritei sentindo lágrimas consumirem os meus olhos.

— E se eu piorar? Se eu for internada, quem vai pagar o tratamento? E o nosso aluguel?— Perguntou sabendo a gravidade.

— Tem ideia de quanto custa ficar internada no hospital, quanto mais fazer tratamento?— Disse supondo os preços inalcançáveis para nós.

— S/n... Estou cansada demais. Estou cansada demais para continuar. Vamos parar por aqui.— Revelou retomando a caminhada. Permaneci parada em estado de choque. Ela havia desistido de viver. Ela havia desistido... De mim.

— Eu vou conseguir o dinheiro! Custe o que custar!— Gritei chorosa vendo sua imagem desaparecer quando dobrou na calçada à esquerda.

(...)

Cheguei em casa desolada e encontrei o cartão do jogo pendurado entre o espaço da fechadura da porta. Não pensei duas vezes e liguei para o número. O processo foi similar ao primeiro, pediram meu nome e data de nascimento.

Esperei no mesmo lugar da última vez. A van surgiu exatamente no horário marcado, logo estacionado na minha frente. Entrei após a porta do banco de trás abrir e visualizei as pessoas dormindo. O gás esbranquiçado foi emitido, mas agora eu sabia sua função, por isso prendi a respiração para não inalá-lo. Cobrir meu rosto com a jaqueta e fechei os olhos fingindo estar dormindo.

Por que fiz isso? Simples, eu trouxe um canivete para me defender lá dentro. Preciso ficar acordada e arrumar uma forma de entrar com ele sem ser pega.

Squid game- Louis PartridgeOnde histórias criam vida. Descubra agora