Batatinha frita 1,2,3

613 76 4
                                    

S/n LeBlanc

Todas as quatrocentos e cinquenta e seis pessoas aceitaram jogar. Os mascarados exigiram nossas assinaturas num termo de consentimento. O contrato tinha três cláusulas:

"O jogador não pode parar de jogar."

"Quem se recusar a jogar será eliminado."

"A maioria decide se quer encerrar os jogos."

Fomos encaminhados para o local onde aconteceria o primeiro jogo. Passamos por enormes escadas coloridas e cada jogador precisou tirar uma foto na máquina de escaneamento facial.

Chegamos em frente uns portões verdes, que logo foram abertos. A extensa localidade era decorada com desenhos nas paredes, simulando um campo. No fim da sala havia uma boneca gigante e uma árvore ilustrativa.

— Bem-vindos ao primeiro jogo.— Uma voz artificial feminina saudou gentilmente.

— Atenção, jogadores. Aguardem um momento em campo.— Avisou no mesmo tom de voz. As pessoas estavam fitando o ambiente com curiosidade.

— Vou repetir. Atenção, jogadores. Aguardem um momento em campo.— Repetiu ágil. Inesperadamente os portões se fecharam. A atenção de todos foi direcionada à ação súbita.

— O primeiro jogo é Batatinha frita 1,2,3.— Contou enquanto a boneca do cabeção se virava pra árvore.

Sério? Aquele jogo de criança?

— Pode avançar quando ela cantar "Batatinha frita 1,2,3".— Explicou calmamente.

— Se seu movimento for detectado depois, você será eliminado.— Concluiu simples.

— Vou repetir. Pode avançar quando ela cantar "Batatinha frita 1,2,3". Se seu movimento for detectado depois, você será eliminado.— Repetiu em seguida.

— Quem cruzar a linha de chegada em cinco minutos sem ser pego, passará de fase.— Contou de forma rápida.

— Vamos começar o jogo.— Disse sincronizada com o relógio, ele marcava exatos cinco minutos.

🎼Batatinha frita 1,2,3🎼
A boneca cantou meiga.

Dei quatro passos, me imobilizei quando ela parou de cantar.

— Jogador 324, eliminado.— Constatou a eliminação de um homem. De repente, um barulho alto impregnou o local e o cara caiu desmaiado no chão. Não compreendi o que tinha acontecido. Parecia o som de um... Tiro? Meu Deus... Não pode ser.

🎼Batatinha frita 1,2,3🎼
Cantou novamente.

Continuei dando passos, mas priorizei ficar atrás de alguém. O jogador que estava na frente de todos saiu correndo e caiu no chão. Dessa vez espirrou sangue... Muito sangue... As pessoas arregalaram os olhos assustadas. Eles matavam os eliminados, não haviam mais dúvidas.

A maioria dos jogadores se desesperaram. Eles tentaram correr para fora, porém era impossível sair, então um massacre foi iniciado. Pessoas caiam mortas por todos os lados.

Eu não podia me mover.

O som do ambiente era resumido em gritos frenéticos de pessoas desesperadas e tiros.

Essa situação durou uns trinta segundos. Todos os jogadores desesperados estavam mortos. Sobraram apenas os que continuaram parados, incluindo eu.

— Vou repetir. Pode avançar quando ela cantar "Batatinha frita 1,2,3". Se seu movimento for detectado depois, você será eliminado.— A voz programada repetiu as regras pela milésima vez.

— Que comece o jogo— Avisou como se nada houvesse acontecido.

🎼Batatinha frita 1,2,3🎼

Andei devagar e parei. Adivinha quem eu estava usando de escudo... O babaca do Drew.

Dois tiros foram dados. Meu corpo tremia inconscientemente ao escutar o barulho.

🎼Batatinha frita 1,2,3🎼

Aumentei minha velocidade, pois o cronômetro marcava dois minutos. Drew estava se cagando também, percebi ele tremendo após o som do tiro.

— Quem é que tá me seguindo? Fala aí.— Drew disse grosseiro.

— A desgraçada que te traiu.— Falei em forma de provocação.

— Vadia desgraçada.— Disse com repúdio.

— Quer que eu te apunhale pelas costas?— Perguntei pondo a mão na sua nuca. Adoro vê-lo vulnerável.

— Não, por favor.— Implorou nervoso.

— Pare de tremer, imbecil. Se eles verem você tá morto.— Falei sorrindo. Eu estava amedrontada, mas não iria transparecer isso para Drew. Ele merecia sofrer. A música voltou a tocar, logo o empurrei e passei de sua frente.

(...)

A cantoria se repetiu umas dez vezes. A metade já havia sido baleada. Faltava pouco para eu atravessar a linha vermelha. O tempo estava curto demais, eu precisava correr.

Peguei impulso e corri sem freios. Mas... Puta que pariu, pisei na mão de um cadáver. Eu estava prestes a cair e a boneca já estava se virando... Fudeu.

Fechei os olhos e esperei o impacto no solo. Surpreendentemente eu não caí, fiquei curvada enquanto alguém me segurava. Senti o maior alívio da existência.

A boneca voltou a cantar.
Faltava somente 10 segundos pro tempo acabar.

Corri como se a minha vida dependesse daquilo. Ops... Dependia. Me joguei para atravessar a faixa vermelha e caí do outro lado. Levantei a cabeça e tentei recuperar o fôlego. Que adrenalina...

Virei meu rosto e vi quem me salvou.
Louis Partridge.

Squid game- Louis PartridgeOnde histórias criam vida. Descubra agora