Mês 1

144 11 0
                                    

De forma geral, Julie se adaptava muito fácil às estações. As blusas cortadas, shorts e vestidos eram perfeitos para dias quentes. E, quando a temperatura caía, ela tinha seu estoque de calças confortáveis, moletons puídos (muitos dos quais uma vez foram dos meninos) e cobertores pesados. Ela tentava ficar preparada para tudo, determinada a não deixar nenhum clima estragar seu humor.

Mas, Deus, ela odiava os dias abafados de verão.

Não tinha nenhuma brisa, o sol parecia entrar por todas as fissuras e nada conseguia aplacar o calor, independente de quão pouca roupa ela estivesse usando. O suor escorria por sua pele, deixando-a pegajosa e nojenta, e seu cabelo se recusava a manter os cachos bonitos e bem definidos. Tudo contribuía para que Julie ficasse de mau humor.

— ... E então eu pintei o meu cabelo de verde e quebrei o violão. — Ela conseguia distinguir a voz de Luke como se fosse algum zumbido perto de sua cabeça. — Julie! — Ele exclamou alto o suficiente para que ela se assustasse e virasse a cabeça para a imagem dele no laptop.

Não tinha a melhor qualidade, mas ela ainda conseguia vê-lo bem. O cabelo castanho estava preso para trás por uma faixa e ela conseguia ver a testa e a pela clara do pescoço e ombros cobertas por uma fina camada de suor. Os olhos cinzas que tanto a encantavam estavam brilhantes e enrugados nos cantos. O canto da boca estava repuxado em um sorriso, mas tinha o cenho franzido, como acontecia quando ele estava preocupado ou confuso. Parecia um pouco dos dois.

— Tá tudo bem? Você parece tá em outro mundo. — Ele tombou a cabeça para o lado e parecia tão fofo e ela só queria abraçá-lo, mesmo com todo o suor. Um grunhido escapou da boca de Julie e ela pôde ouvir uma risada do homem. — Me escutar tá tão ruim assim?

— Não — resmungou, pressionando a bochecha no tapete do quarto. — Tá muito quente. É como se o meu cérebro tivesse prestes a derreter e tá desligando todas as funções aos poucos. — Luke gargalhou com a comparação e isso trouxe um pequeno sorriso ao rosto dela. — Como tá indo? Eu prometo que eu tô focada agora.

— Quente. — Destinou um sorriso brilhante, que era a marca dele, para ela e Julie sentiu seu peito se aquecer com o sentimento crescente de apreciação. — O último show foi dois dias atrás e eu tenho usado esse tempo pra tentar conseguir alguma música nova.

— Uh, vem um novo sucesso por aí?

— Só algumas letras promissoras, mas nada muito concreto. Talvez o calor também esteja me afetando.

— Nah, você vai ficar bem. E os meninos? — Ela perguntou, notando talvez pela primeira vez que o outro lado da ligação estava muito silencioso. — Eu deveria me preocupar com o fato do Bobby não ter feito nenhuma piada sobre melosidade?

— Não, porque eles não estão aqui. — Luke deu de ombros e ela franziu o cenho, confusa. — Reggie ficou sabendo de algum bar country aqui em Austin e decidiu explorar. Bobby queria ver a cidade e pegar comida pra gente, então foi junto, o que arrastou o Alex também porque ele não confia mais na gente pra escolher comida — explicou e ela conseguiu ver o arrepio com a lembrança porque ela também sentiu. O incidente dos cachorros quentes tinha sido um pouco traumatizante para todos.

— Reg não foi com aquela jaqueta não, né? — Julie se preocupou. O irmão dela era muito apegado à jaqueta de couro, um presente da mãe deles direto de um brechó, mas nesse calor corria o risco dele ficar desidratado.

— Ele até queria, mas acho que tá quente demais até pra ele arriscar. E o Alex não deixou e escondeu ela. — Isso arrancou uma risada da menina. Na maioria das vezes Alex tinha a única célula cerebral da banda, mesmo que cedesse aos planos de forma recorrente.

Long DistanceOnde histórias criam vida. Descubra agora