3. Expressando minha opinião gótica e emo

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        Fiz algumas anotações mentais durante a minha “grande festa de arromba” de dezoito anos:

        1) Eu odeio quando a minha mãe canta Xuxa. Não que eu tenha alguma coisa contra a rainha dos baixinhos, mas eu já não sou mais uma baixinha. Dona Solange só não sabe disso.

        2) Eu precisava correr até o quarto do Rubem e procurar seu CD da Lana del Rey. Eu iria ouvir “Sad Girl” até estourar meus tímpanos.

        3) Rubem nem poderia sonhar que eu estava planejando mexer nas suas coisas.

        Ok, hora de cortar o bolo. Vamos lá, pra quem iria o primeiro pedaço? Rufar tambores. Tan-nan!

        — O primeiro pedaço vai pra mim mesma. — falei. Minha mãe continuou com as mãos estendidas, achando que eu daria o primeiro pedaço para ela.

        — Ué? Rosemary? Sou eu, sua mãe!

        — O bolo está com uma cara ótima. — comecei a falar de boca cheia e minha mãe me deu um tapa nas costas.

        — Mais respeito! — dona Solange perdera toda a sua animação. Na verdade, naquele momento ela se debulhava em lágrimas. — Eu fiz isso tudo pra você, acordei de madrugada, deixei que você faltasse aula, Rosemary, e é assim que você me trata?!

        Ok, fiquei mal com tudo aquilo. Estava me sentindo um Godzilla. Mas me veio à cabeça que eu poderia começar a fazer a mesma coisa que Rubem fizera ao completar dezoito anos: conquistar minha liberdade.

        — Mãe... — pus o pires onde estava o bolo em cima da mesa e a abracei. Dona Solange era baixinha, tinha cabelos brancos e o rosto bem marcado. Tinha cinquenta anos.

        — Que é?! — ela fungou, limpando as lágrimas desnecessárias.

        — Por que a senhora não me deixa sair? Por que a senhora não me deixa ter amigos?! Olha, não tem ninguém na minha festa!

        Dona Solange me olhou, cética.

        — Você não precisa de mais ninguém, Rosemary. Esse mundo está perdido. Não vê no que o seu irmão se tornou? Ele deixou de ouvir os meus conselhos e se perdeu no mundo. Mas o Rubem sempre foi assim, puxou ao vagabundo do pai dele. Mas você não, minha filha — ela afastou uma mecha dos meus cabelos para trás da minha orelha — sempre vai ser a minha menininha. Eu ainda me lembro de quando você nasceu...

        Meia hora depois:

        — ... então eu olhei para você e sorri, mas o médico lhe segurando de cabeça para baixo, pelas pernas, deu duas tapas no seu bumbum e você parou de chorar. E então, você fez xixi na cara dele, de uma hora para outra. Minha Rosemary sempre foi uma mijona, desde pequerrucha.

        Talvez o meu destino fosse aquele mesmo: ficar presa dentro daquela casa por toda a eternidade. Eu pensei ser muita crueldade abandonar minha mãe, sozinha, naquela casa, como meu pai e Rubem a abandonaram.

        No entanto, eu tinha curiosidade em saber como seria aquele mundo que minha mãe me privava dele. As únicas pessoas com as quais eu tinha contato eram as da escola: as garotas eram todas magricelas, usavam muita maquiagem, sempre tiravam fotos com seus tablets e smartfones e sempre pareciam felizes, pois sempre saíam rindo nas fotos.

        Por que será que eu não poderia ser feliz como elas?

Os Clichês de RosemaryOnde histórias criam vida. Descubra agora