O telefone da casa da minha mãe tocou, me acordando. Eu acabei dormindo (lê-se desmaiando) no sofá, depois do baque de emoções que tive no dia anterior.
Mas quem seria ao telefone? Seria Dóris com notícias de Sebastian? Ou seria ela querendo falar com Rubem sobre o casamento?
- Alô?
Uma voz masculina, abafada pela ligação, ecoava do outro lado da linha. Sebastian. Meu coração queria sair do peito de tão acelerado que estava. Ele está bem? Se ele está falando contigo, é óbvio que ele está bem, sua anta!
- Rosemary? Sou eu, Sebastian.
- A Dóris me contou o que aconteceu. Onde você está? Você já fez a cirurgia? Eu posso ir aí te fazer companhia...
- Impossível, Rose. - disse ele - Eu não estou mais no Brasil. Vim para os Estados Unidos a convite de um oftalmologista famoso daqui. Foi ele quem me ofereceu a cirurgia, um novo método para recuperar minha visão. Se eu fosse esperar pelo hospital público...
Então eu quase larguei o telefone e quase caí no chão, mas me segurei na parede da sala de estar. Que tipo de brincadeira era aquela? Parecia que o mundo todo estava de ponta cabeça e apenas eu não estava participando daquela gozação.
- Como assim, Sebastian? A Dóris não me falou nada sobre isso! Vamos, deixa de brincadeira!
- É verdade, Rose. Minha irmã não disse nada porque eu pedi - então eu percebi o porquê de Dóris ter ficado tão perturbada no dia anterior com a minha série de perguntas - Eu queria falar com você... e dar a notícia.
- Mas você vai demorar? - um sopro de voz quase inaudível saindo da minha boca perguntou.
- Eu já fiz alguns exames e... - ele deu uma pausa para respirar - A cirurgia começa daqui a algumas horas. Eu só peço que... se acontecer alguma coisa de ruim...
- Não vai acontecer nada de ruim, Sebastian! - eu o impedi de completar. Algumas lágrimas desciam do meu rosto, fruto do meu coração apertado contra meu peito. Aquilo era amar? - Eu só não sei se...
- Se? - ele quis saber o que eu tinha para dizer.
- Se eu vou conseguir ficar muito tempo longe de você.
Eu estava sendo precipitada demais em me declarar? Aquilo era uma declaração de amor mesmo? Eu nunca amei, eu nem sequer manjo dos paranauês de amar.
Então eu desliguei o telefone e sai correndo para a minha cama. Um buraco para eu enfiar a cabeça, como um avestruz, seria uma boa.
♡ ♡
(por Sebastian Freitas)
Ela me amava mesmo! Como eu a amava! Era daquela certeza que eu precisava para continuar aquela ideia maluca de ser um ratinho de testes cirúrgico. Papai estava me confortando, dizendo que eu não tivesse medo, pois poderia enxergar o rosto de Rosemary quando voltasse ao Brasil.
- Como ela é, Dóris? - perguntei a minha irmã, ao telefone, quando liguei para casa minutos antes da cirurgia.
- Quem?
- A Rosemary, ué.
- Como você imagina que ela seja, maninho?
- Ah, sei lá... ela deve ser bonita. Pelo menos eu sei que, por dentro ela é. A Rose deve ter os olhos profundos, encantadores. A pele dela é macia, os cabelos têm um cheiro bom. Um cheiro de xampu misturado com cheiro de menina. Ah, Dóris... se tem uma coisa que vai valer a pena depois de passar por isso vai ser poder enxergar a Rose. E dizer a ela que eu a amo, olhando nos olhos dela.
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Os Clichês de Rosemary
ChickLitSolange sempre privou os filhos de terem uma vida como a de qualquer outro jovem. Rosemary, sua filha mais nova, quer seguir os passos do irmão mais velho, o ácido e carismático Rubem, e se rebelar contra a mãe. A moça, porém, quer ir mais além e fu...