13. O pedaço de mau caminho

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(por Rubem Maldonado)

Trabalhar como gerente da grande loja de grife Folk Basfond era relativamente fácil: bastava controlar todo o dinheiro que entrava e saía da loja, bem como as mercadorias novas, para não haver nenhum prejuízo, além de impedir os funcionários de fazerem qualquer tipo de merda.

Porém, era uma responsabilidade e tanto.

Mas nada que eu, Rubem Maldonado, a pessoa mais poderosa do universo, não pudesse fazer.

A loja contava com vários funcionários; dentre eles tínhamos: serventes, caixas, seguranças e vendedoras chatas, as quais eram treinadas para mentir para os clientes caso eles perguntassem se tal roupa estava boa quando a experimentavam.

Eu comecei assim.

- Hum... não sei. Acho que vou precisar de um número maior. - disse uma mulher, certa vez. Ela olhava-se no espelho, um tanto quanto insatisfeita com aquela calça jeans. - O que você acha... - ela olhou para o meu crachá - Rubem?

Dei um sorriso falso. Não havia uma calça com um tamanho maior àquele. No entanto, um dos lemas secretos dos vendedores da Folk Basfond é: "faça tudo, mas não perca o cliente".

- Querida, o que é isso?! Não precisa de um número maior! - afirmei - Essa calça justa vai avantajar o seu bumbum. Acho até que ela te deixa um pouco mais esbelta.

A cliente se olhou novamente no espelho. Só que, naquele momento, com a cabeça feita por mim.

- Você acha?

- Claro! - exclamei, passando sinceridade no que eu estava falando.

As clientes insatisfeitas com o próprio corpo, quando eram atendidas por mim, ficavam com a sua alto-estima elevada. Eu não sabia nada de moda, nem tudo o que eu dizia a elas eram verdades, porém, toda a minha competência logo se transformou em uma promoção e eu virei gerente de toda aquela loja.

Eu tinha alguns colegas lá dentro. Alguns, continuavam sendo os mesmos vendedores de sempre. As recalcadas, por exemplo, se remoíam de inveja quando eu lhes dava alguma ordem e tinham de cumpri-la. Outros, porém, eu confiava de olhos fechados.

Ou achava que poderia confiar.

Martin era um dos vendedores mais, digamos, bem apessoados da loja. Ele sempre andava todo no estilo, solteirão, pouco mais de vinte anos de idade. O rapaz usava seu salário como bem entendia, pois sempre ostentava bons relógios e perfumes.

Eu era muito amigo dele quando era vendedor, e mantive minha amizade com Martin quando fui promovido a gerente. Ele, por isso, tinha toda a liberdade do mundo para entrar na minha sala pois, venhamos e convenhamos, eu tinha uma quedinha por ele.

Ou melhor, um tombo.

Aliás, uma vídeo cacetada, daquelas bem escrotas.

Mesmo sabendo que ele nunca daria bola pra mim.

- Rubem, tá ocupado? - perguntou ele, certo dia. Ele entrou na sala da gerência, como sempre, sem bater na porta.

Martin ajeitou sua franja loira meio Justin Bieber enquanto caminhava até a cadeira que ficava frente à minha. Sentou-se e pôs os pés em cima da mesa, cruzados, me fitando com aquelas esferas verdes que ele tinha.

- Bom, você nem esperou que eu respondesse... mas sim, eu estou ocupado. - respondi - mas não pra você. - sorri. - O que houve?

Martin estava um pouco receoso, talvez medindo as palavras antes de as colocar para fora. E eu estava sim, muito ocupado. Era fim de mês, o período mais estressante dentre todos, pois eu tinha de fazer um balanço geral, contar os lucros e os gastos para, no final de tudo, ter certeza de que a loja não teve nenhum prejuízo.

Os Clichês de RosemaryOnde histórias criam vida. Descubra agora