24. Soltando a franga e a granja inteira (PARTE 1)

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- Rose, é você? - ouvi a voz de Sebastian do outro lado da linha. Ele parecia estar cansado, talvez por ter passado várias horas numa sala de cirurgia.

- Sou eu sim, Sebastian! - mal pude disfarçar minha alegria em ouvi-lo. - Como você está? A cirurgia correu bem? Quando você volta.

Aquele silêncio que antecedia as respostas das minhas diversas perguntas já tomava o meu coração. Era como se todo milésimo de segundo virasse uma eternidade, como numa aula de matemática.

- A cirurgia correu bem, Rosemary. - respondeu ele - Mas não posso saber se ela deu certo ainda, até eu tirar os curativos. Mas não se preocupe, pois não deve demorar muito.

- Vai dar tudo certo, você vai ver. - falei, esperançosa. Minha respiração ficava cada vez mais ofegante.

- Eu fiquei sabendo do casamento... - ele disse, com um tom engraçado na voz. - Na boa, Rose, eu não posso falar muito porque a ligação custa caro, mas enquanto eu não estiver aí, cuida pra que minha irmã não quebre a cara. Por favor?

- Claro. - respondi, dando minha palavra. - Eu sei que isso não vai prestar, mas pode deixar que cuido da Dóris. Agora... eu acho melhor desligar, depois a gente se fala mais.

- Rose, espera!

- Oi...

- Eu não vejo a hora de voltar... estou com saudades de você.

E desligou, quase me fazendo cair pra trás.

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(por Rubem Maldonado)

- Pra onde você vai, Rubem? - indagou minha mãe, enquanto eu vestia o terno.

Finalmente chegara o grande dia. Eu me casaria com Dóris, uma cerimônia simples, de última hora. Pouca gente iria, apenas alguns amigos meus e dela; da parte do meu pai, vários fazendeiros e outros conhecidos do interior, além da mãe da noiva, já que Sebastian e seu pai ainda estavam nos Estados Unidos.

- Ah, mamãe... eu não te contei porque achei que a senhora não iria gostar de saber da ideia, mas vou me casar.

Mamãe quase teve uma síncope e se sentou na cama, apertando a mão contra o peito. Solange, sempre exagerada.

- Eu sempre temi por esse dia. Ah, meu Deus, esse século XXI é cheio de surpresas! Quem é ele? Fale!

Rumei até o espelho e arrumei meu cabelo, depois a gravata e, sem seguida, coloquei uma rosa branca no bolso da camisa. Respondi:

- Não é "ele". É ela. E a senhora já conhece a Dóris. Ela sempre vem aqui.

Minha mãe ficou me observando como se eu tivesse oito anos e feito besteira. Tá, depois do vinte, de vez em quando a gente pode fazer uma coisinha que possa levar a gente pra cadeia né?

- Eu não tô entendendo mais nada, filho. - mamãe cerrou o punho e apoiou o queixo - Só sei que eu não posso perder o casamento do meu filho por nada desse mundo.

E ela saiu correndo para o quarto dela para se arrumar. Retirou do armário um daqueles vestidos que ela não usava já havia uns dez anos mas que, surpreendentemente, ainda cabiam nela. Ela só havia esquecido de um detalhe:

- Mãe - chamei-a - Eu já disse à senhora que o casamento vai ser no jardim da mansão do papai?

E então ela olhou desconfiada para mim e foi pentear os cabelos. Fazia muito tempo que eu não a via de cabelos soltos.

Os Clichês de RosemaryOnde histórias criam vida. Descubra agora