10. Pisando na cara dos inimigos

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Dóris e Rubem caminhavam pelo setor feminino da Folk Basfond retirando de todas as araras de roupas várias peças que, para mim, pareciam até aleatórias. Eles as jogavam para que eu as segurasse como se eu fosse um polvo, cheio de braços.

- Gente, vocês não acham que já tem roupa demais? - perguntei, enquanto os seguia. - Eu vou demorar um século pra provar isso tudo.

Eles nem me escutaram, continuaram escolhendo roupas para mim. Se dependesse de Rubem, eu usaria roupas como aquele vestido maldito e aquele salto mais maldito ainda. Com sua amiga Dóris, porém, as escolhas, pelo menos, eram mais sensatas.

Então eu percebi que só por que Rubem era gay, ele não seria obrigado a entender de moda. E depois eu ri dos meus pensamentos e das ironias da vida, porque Rubem era nada mais, nada menos do que o gerente daquela loja fashion.

- Esse aqui vai moldar o corpo dela perfeitamente. Olha que lindo! - ele pousou um vestido vermelho curtíssimo sobre o seu corpo, como se aquela roupa fosse pra ele.

- Ai, Rubem! Você não entende nada de moda! - Dóris reclamou - deixa comigo, eu sei qual é o estilo da sua irmã.

Dóris deu uma piscadinha para mim e continuou escolhendo roupas. Eles dois estavam tão empolgados que eu acabei ficando para trás. Sério, melhor assim.

- A Dóris manja mais de moda do que o seu irmão. Isso eu posso garantir: ela se veste muito bem. - senti a vibração daquela voz masculina por cima do meu ombro, eu ainda tonta, perdida dentro daquela imensa loja.

Então eu olhei para trás e vi que quem estava ali era o irmão cego de Dóris. Sebastian tinha um sorriso no rosto daqueles de pessoas que querem pregar peças na gente.

- Ah, tá. E como você sabe que ela se veste bem? - indaguei - você... você, tipo... não enxerga né?

- Ah, verdade, obrigado por ter me lembrado disso. - o moreno brincou - Bom... acho que nós não começamos com o pé direito, né?

Era estranho conversar com uma pessoa que não olhava diretamente pro meu rosto. Clap, clap, clap (três autotapas na minha cara). Como é que ela vai olhar no seu rosto, sua burra!

- Então, vamos lá. Meu nome e Sebastian. - ele estendeu a mão para que eu a apertasse, mas numa direção totalmente oposta à onde eu estava.

- Err... eu tô aqui. - então eu segurei forte a mão dele e sacudi, num sincero aperto de mãos. - Sou Rosemary.

- Eu acho que te devo desculpas pelo que aconteceu. A Dóris é meio maluca, acha que tudo de errado que eu faço é culpa dela só porque eu sou seu irmão mais novo. Eu me perdi, às vezes acontece isso mesmo.

- Eu lamento por você, Sebastian... - falei. - deve ser muito ruim tipo, não enxergar nada.

- Ah, isso é bobagem. Eu nunca enxerguei, não que eu me lembre. Perdi minha visão quando era um garotinho, num acidente, então... não posso chorar por algo que meio que nunca tive porque, sinceramente, tem vezes que não sinto falta.

- Ah...

- E eu tenho um amiguinho que me ajuda a andar por aí, mas a loja não me deixa entrar com ele. Então a loja tem culpa por eu ter ido parar no seu provador. Mas não se preocupe, eu não vi nada.

- Amiguinho? - indaguei, tentando esquecer o assunto do provador de roupas.

- É o Poof, meu cão guia. Você vai adorar conhecer ele. A gente bem que podia marcar de sair, né, Rosemary? Mas, bem... - Sebastian ficou em silêncio; eu também. Ele parecia ter a audição muito apurada, eu tive a impressão de que ele estava querendo captar vibrações ou algo assim.

Os Clichês de RosemaryOnde histórias criam vida. Descubra agora