No Coração de Sherlock

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Na manhã da véspera de Natal, Sherlock Holmes estava distraído. Muito. Enquanto fatiava as cenouras, cortou o dedo duas vezes e resmungou, torcendo para o seu aniversário chegar logo e poder usar magia sem o rastreador. Trabalhos domésticos estavam longe de ser a solução para o rebuliço que se encontrava a sua mente.

A ideia de que seus sentimentos por John eram unilaterais estava tão sedimentada em sua mente que, agora, estava completamente perdido. Não estava preparado para ser retribuído e, por algum motivo, não conseguia encarar a situação de uma forma sensata e madura. Só de pensar no amigo, uma ansiedade desconfortável o consumia. No passado, John dissera que só queria namorar garotas e acabou mentindo sobre suas preferências, então o que ele queria agora? Uma experiência nova? Uma forma de suprir a carência? Uma satisfação de algum desejo sexual?

Um substituto para Mary?

Esse último pensamento causou um rebuliço em seu estômago muito diferente de todos os outros. Na verdade, pareceu que o tempo ficou mais frio. Precisava colocar tudo em pratos limpos para evitar ser válvula de escape pra qualquer sentimento egoísta que o amigo poderia ter. Ok, não que John fosse uma pessoa egoísta, mas ele era uma pessoa sentimental e desse tipo de gente se espera tudo.

Mas... e se os sentimentos do amigo fossem realmente verdadeiros? E se o grifinório passou a gostar dele de outra forma? E se ele também tem essa sensação inexplicável de que foram feitos um pro outro? Será que John iria querer namorá-lo?

Estremeceu.

A mera possibilidade de namorar John o deixava muito tenso. Poderia ser uma experiência desconfortável, Sherlock poderia não conseguir ser um bom namorado, uma separação estragaria a amizade deles... fora que eles eram muito diferentes. John era uma pessoa muito sentimental e romântica, e Sherlock não fazia ideia sobre o tipo de coisa que lhe agradaria. Flores? Bombons? Promessas absurdas e impossíveis de serem cumpridas? E se John fizesse questão de frases bregas e demonstrações desnecessárias de afeto em público? Seria um pesadelo!

– Já não tem cenouras demais? – Lestrade perguntou enquanto fatiava um pimentão ao seu lado.

Sherlock reparou que as cenouras picadas faziam uma montanha milagrosamente equilibrada na vasilha. Se batesse um vento desmoronaria tudo.

– Já que você está aí, pode me ajudar num caso? – pediu o corvino.

– Caso? No que você se meteu?

– Não importa. Você é afim da Molly?

Lestrade arregalou os olhos.

– Nós somos só... – ele começou a corar.

– Amigos, eu sei, mas você tá interessado nela?

Sherlock foi tão direto ao ponto que o lufano não conseguiu pensar em uma resposta.

– Se estiver – o corvino prosseguiu, jogando os pedaços de cenouras na panela –, o que você faria se soubesse que ela tá interessada em você? Se não estiver, então você não pode me ajudar.

Greg parou de cortar o legume e ficou encarando a faca um tanto perturbado.

– Ela é apaixonada por você, cara – falou o lufano desgostosamente. – Ela namorou um sujeito parecido com você e quis transformá-lo em você. Eu gosto dela, mas tenho amor próprio, sabia? – voltou a cortar o legume. – Se um dia ela dissesse que gosta de mim, eu não acreditaria. E não vou querer namorar alguém que com certeza vai ficar me comparando com outra pessoa.

Sherlock meditou sobre a resposta enquanto lavava a faca.

– Bem, já cortei tudo o que tinha pra cortar – disse o corvino, deixando a panela no fogão – Vou ver o que mais tem pra fazer.

Potterlock - O Príncipe MestiçoOnde histórias criam vida. Descubra agora